Capítulo 07 - Apaixonado pela vida

912 126 191
                                    

Os dias da semana passaram arrastados, lentos e dolorosos. Parecia que só agora eu havia me dado conta de que estava de volta ao mundo real.

Quando o amanhecer de segunda feira chegou, o vazio tomou conta novamente do meu ser, a realidade veio como um balde de água fria bem gelado, muito mais gelado do que os sucos de laranja da noite passada.

Eu estava sem emprego, sem celular, sem carro, sem Bernardo e totalmente sem rumo, tudo isso porque há mais de dois anos atrás eu estava perdendo tudo o que eu tinha por conta das drogas.

Havia perdido meu emprego de secretária em um consultório médico, por sempre ir trabalhar chapada, ou simplesmente faltar sem avisos prévios e quando aparecia para trabalhar era para fazer diversas grosserias com os pacientes.

Meu celular e meu carro eu havia vendido por uma merreca para conseguir o milagroso pó branco para acalmar as minhas necessidades e as de Bernardo... Eu havia perdido tudo por conta de alguns minutos de pura viagem e alucinação, que hoje não me levavam a nada, somente a um vazio dentro do meu coração.

Pensar em tudo que eu havia feito por causa das drogas me deixava extremamente deprimida e a única coisa que parecia sanar os meus pensamentos e sossegar a minha ansiedade era correr pela cidade.

Todos os dias pelo início da manhã eu colocava uma roupa confortável e meus tênis de corrida e saia livremente por aí, caminhando e correndo pelas ruas de Monte Negro. Eu sempre repetia o mesmo percurso, aquele que me levava sempre ao meu foco principal, a antiga cabana de Bernardo, onde eu e ele sempre nos divertíamos namorando ou nos drogando.

Chegar naquele lugar sempre me deixava cheia de esperança. Era a única parte do meu dia que meu coração ficava acelerado, quase saindo pela boca, era a única coisa que me fazia parecer inteira novamente. Imaginar a porta de entrada se abrir, olhar aquele sorriso e olhos azuis virem em minha direção era tudo o que eu mais queria... Uma pena que isso acontecia somente em meus sonhos, nunca acontecia na realidade e meu coração sempre se despedaçava um pouco mais quando dava de cara com a porta da cabana trancada.

Quando a quinta-feira chegou, trouxe uma manhã com o céu totalmente nublado, enquanto fazia meu trajeto até a antiga cabana pude sentir algumas gotas de chuva tocar o meu rosto, cheguei a tempo na cabana antes da chuva ficar mais forte, consegui me encolher embaixo do telhado para não me molhar, encostei-me à porta de entrada e sentei ao chão da mini varanda e naquele momento me permiti chorar, não sabia o porquê de estar tão triste e magoada, eu só me sentia completamente sozinha.

Bernardo não havia aparecido ainda e o meu coração pulsante não deixava de pensar nele. Laura estava sempre trabalhando em frente ao seu computador, mexendo em planilhas de consultoria para ajudar as empresas do meu pai. Rafael não havia entrado em contato comigo depois da nossa noite de domingo. Minha mãe não havia me visitado por mágoas de mim, por conta da festa idiota que ela havia planejado e meu pai, meu pai... Ele estava bem a minha frente com um guarda chuva preto e enorme estendido em minha direção, ele sorria carinhosamente.

— Seu pai pode te fazer companhia? — ele dizia mantendo seu sorriso carinhoso.

Somente assenti com a cabeça um pouco confusa, tentando limpar as lágrimas que insistiam em descer pelo meu rosto. Há quanto tempo ele estava ali? E como havia me encontrado? Essas perguntas ficaram em minha mente enquanto ele se sentava ao meu lado e colocava o guarda chuva acima de nossas cabeças.

— Você se sente bem vindo aqui? — ele perguntava olhando para os meus olhos.

— Sim... E não ao mesmo tempo. Parece confuso pra você? — eu dizia em um sussurro.

InconstanteWo Geschichten leben. Entdecke jetzt