Capítulo 25 - Água e fogo

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Um aperto de mão pode significar muitas coisas, desde um gesto de cumprimento até mesmo um sinal de plena confiança entre duas pessoas distintas.

E, definitivamente, aquele aperto de mão do qual eu podia presenciar tão de perto estava recheado deles, mas, nada relacionado ao prazer de cumprimentar alguém ou muito menos ao ato de confiança entre duas pessoas, mas sim, o significado de um duelo de honra entre elas.

Um combate entre dois rapazes, de personalidades completamente diferentes, que possuíam apenas algo em comum: participarem de muitos versos de minha poesia.

Vê-los tão entregues aquele confronto de olhares, me fez pensar que eles eram como água e fogo.

Bernardo sendo um mar de águas turbulentas e agitadas, prestes a carregar com suas ondas toda a bondade do mundo, e Rafael, a chama do fogo de uma fogueira, que apesar de toda cautela ao aquecer o ambiente, estava a ponto de consumir tudo o que estava a sua volta.

Ao me aproximar ainda mais deles e olhá-los tão de perto, meu coração se apertou temendo que algo pior acontecesse, que aquele aperto de mão cheio de fúria se tornasse um duelo real entre armas e espadas e não somente entre farpas trocadas por palavras.

E mesmo se eu estivesse de longe observando toda aquela falta de palavras, poderia afirmar, com toda a certeza do mundo, que eu preferia entrar em combustão por conta das chamas de um fogo tão vermelho do que ficar submersa em uma imensidão de mar azul.

— É melhor você ir embora Bernardo... — eu disse vacilante, logo depois de sair dos devaneios de meus pensamentos.

Os dois olharam para mim, fazendo com que o aperto de mão fosse desfeito. Os lábios de Rafael se entreabriram como se fosse dizer alguma coisa, mas foi Bernardo quem tomou a frente.

— Então você é o namorado da Júlia? — questionou com um sorriso nos lábios, ignorando o que eu havia acabado de dizer — Engraçado saber disso, pois era eu quem carregava esse título a pouco tempo atrás, muito me admira ela já ter outro alguém.

— Por favor Bernardo, saia daqui — falei ao respirar fundo, sendo ignorada novamente.

— Pouco tempo atrás? — agora era Rafael quem ria ao colocar as mãos no bolso de sua calça jeans — Acredito que dois anos e alguns meses sejam o suficiente para Júlia Medeiros ter uma nova pessoa em sua vida, afinal, o seu título de namorado foi perdido logo após que você a abandonou na época em que ela mais precisava...

— Eu não a abandonei, fiz o que foi necessário — Bernardo rosnou — Estava justamente falando disso com a Júlia antes de você chegar, e eu não gostaria de interromper nossa conversa apenas por você ter chegado, prefiro pensar que não sou eu que deveria ir embora... — ele disse com o olhar confiante ao encarar Rafael.

— Não se incomode com a minha presença, não quero ser motivo para você ir embora e muito menos provocar desconforto na empolgante conversa entre vocês — Rafael disse com o sarcasmo evidente, dando alguns passos em direção ao sofá — Por isso, vou ficar sentado aqui, prometo que ficarei em silêncio, vai ser como se eu não estivesse presente...

Bernardo respirou fundo ao apertar suas mãos uma na outra enquanto olhava para Rafael de forma furiosa, tive que conter uma inquietude em meus lábios ao querer abrir um sorriso por Rafael ser tão cheio de si.

— Como se fosse possível ignorar a sua presença — Bernardo sussurrou ao revirar os olhos — Você pretende ficar aqui por que? Não confia na Júlia o bastante para me deixar a sós com ela? — continuou, com a voz insinuante ao arquear a sua sobrancelha esquerda.

— Na verdade só vou ficar aqui para garantir que você não a machuque como da última vez, e caso ela não quiser a minha presença aqui Bernardo, é só ela me dizer uma única vez, pois ao contrário de você, não pensaria duas vezes antes de ir embora e atender o pedido dela — Rafael falou com o semblante sério e com os braços cruzados, se mantendo em pé ao lado do sofá.

InconstanteTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang