Capítulo 14 - Verdades não ditas

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Eu e meus pais estávamos frente a frente.

O cômodo parecia pequeno demais para toda a tensão que eu estava sentindo dentro de mim.

Era o grande momento de saber toda a verdade da boca deles. Minhas mãos tremiam involuntariamente e minha respiração estava descompassada, além disso podia sentir o meu coração vacilar em suas batidas desgovernadas.

Eu havia adiado essa conversa ao longo da semana.

Segunda-feira eu havia ficado na companhia de Rafael pelo dia inteiro, acabamos conversando até tarde da noite e quando vimos o horário apressado correr pelo relógio, ele acabou me levando diretamente para o meu apartamento.

Antes de subir e deixa-lo partir eu havia lhe dado um beijo no rosto em agradecimento por toda sua paciência comigo, não pude deixar de sentir o coração acelerar quando ele disse "Júlia Medeiros, está rolando muita coisa entre a gente", é claro que eu deveria ter dito alguma coisa, mas só consegui sorrir, virar as costas sem graça e desaparecer de sua vista.

Terça-feira eu e minha irmã fomos em busca de um vestido para que eu ficasse apresentável para o casamento de Francisco, o que levou muitas horas batendo perna pelo shopping de minha cidade, mas no fim do dia conseguimos achar algo simples e bonito.

Quarta-feira eu simplesmente ignorei todos os meus pensamentos e fiquei em casa trocando mensagens desafiadoras com Rafael a respeito do nosso repertório musical que seria escutado durante a nossa viagem até a fazenda no sábado pela manhã, o que nos trouxe boas doses de risadas e distrações.

Quinta-feira, eis o grande dia que tomei vergonha na cara e decidi saber toda a verdade que já havia sido tão adiada. Para que sofrer antecipadamente sem ao menos saber o que realmente havia acontecido?

- Você não parece muito bem minha filha, está acontecendo alguma coisa? - minha mãe perguntou sentando-se ao meu lado no sofá.

- É... Na verdade, não estou muito bem - engoli em seco - Eu preciso perguntar algo para vocês.

- Pode perguntar Júlia - meu pai me olhava preocupado - Achei estranho a sua ligação no meio da manhã, parecia ter certa urgência.

- Sim, tem muita urgência. Preciso que vocês sejam sinceros comigo, não quero mais mentiras, quero só a verdade - eu disse depositando as mãos em meu colo, sem saber o que fazer com elas.

Eles olhavam para mim ansiosos, assentindo para que eu desembuchasse.

- Por que vocês deram dinheiro para o Bernardo se afastar de mim? E por que não me contaram que ele havia aceitado toda essa sujeira? Vocês são meus pais, vocês deveriam ter me contado desde o início o que estava acontecendo, mas vocês preferiram se manter mudos e desentendidos sobre tudo isso - eu falei de forma acelerada, agora minhas mãos mexiam para lá e para cá enquanto as palavras eram vomitadas de minha boca.

- Calma Júlia - minha mãe segurou minha mão que estava suspensa no ar, levando novamente para meu colo - Do que você está falando? Que dinheiro?

- Que dinheiro? Eu descobri tudo o que aconteceu, Bernardo recebeu um bom dinheiro para se afastar daqui, ou seja, se manter longe da minha vida! As únicas pessoas que queriam ele longe de mim são vocês - eu falei agora olhando para meu pai, buscando em seus olhos algum vestígio de mentira ou verdade.

- Eu deveria ter pensado nisso, não sabia que o idiota era tão idiota assim de ter se vendido por um dinheiro fácil - meu pai falava enquanto balançava a cabeça em negação - Nós não fizemos isso com você Júlia, apesar de querermos ele longe e não mais em sua vida, nem passou pela nossa cabeça em pagá-lo para tal questão.

InconstanteWhere stories live. Discover now