Capítulo 15 - Fase Nova

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Se a vida me desse a oportunidade de escolher um lugar tranquilo e reconfortante para fazer de morada, a minha escolha seria aquele abraço.

Além de palavras bonitas, Rafael também tinha o dom de acalmar a alma das pessoas através do contato com o seu corpo e seu coração.

Uma pena ele ter cortado esse laço que tínhamos criado naquele momento para olhar em meus olhos e abrir a sua boca tão tagarela na maioria das vezes.

— Sua irmã me ligou e contou tudo o que aconteceu, desculpa por demorar para aparecer — Rafael dizia enquanto colocava uma mecha de cabelo atrás da minha orelha.

— Shhhhhhhh — eu disse colocando o dedo em seus lábios. — Não quero falar sobre isso, por favor, só quero terminar essa dose da minha bebida verde e já pedir outra depois. Você me acompanha?

— Eu sempre vou estar disposto a te acompanhar Júlia Medeiros — ele disse com um sorriso em seus lábios — Que tal bebermos algo mais leve agora?

— Eu estava pensando em tomar algo ainda mais forte — eu disse fazendo uma careta — Eu preciso esquecer o que está aqui dentro — apontei para minha cabeça, pegando o resto de bebida que ainda tinha em meu copo e virando de uma só vez.

— Você não precisa fazer isso Júlia Medeiros, você é mais forte do que pensa, você consegue superar isso sem perder completamente a sua consciência — ele disse com um sorriso torto, pegando o copo já vazio de minhas mãos.

— Esse é o jeito mais fácil de esquecer as coisas Rafael, um jeito rápido, fácil, indolor e sem grandes estragos... — eu disse rindo — Na verdade tem estragos sim, estou me sentindo um pouco tonta.

Rafael me colocou sentada em um dos bancos próximos ao balcão, justamente onde eu estava quando ele havia chegado, ele se sentou ao meu lado com seu olhar todo preocupado.

— Quantas doses você já tomou? — ele perguntou.

— Cinco — disse o encarando e tentando fazer a numeração com os meus dedos.

— Acho melhor você parar por aqui então Júlia Medeiros — ele dizia agora se sentando ao banco ao meu lado.

— Eu tomaria mais cinco dessas se você não tivesse chegado para me atrapalhar e se for para você controlar a quantidade de doses que estou tomando, por favor você pode ir embora. — eu cuspi as palavras tão rapidamente que não consegui assimilar o que eu havia falado.

— Você quer que eu vá embora? — ele perguntou agora com o olhar sério.

— Não — falei apressada, segurando uma de suas mãos.

— Então você quer que eu fique aqui e lhe faça companhia nessa longa noite que ainda está por vir? — ele disse ainda sustentando um olhar sério.

— Quero! Quero que você fique Rafael, quero que você fique e me distraia de tudo que está em minha volta, quero que você me atrapalhe quando quiser e tagarele o quanto puder, só faça com que eu esqueça de tudo o que aconteceu, faça o que quiser, mas faça — eu dizia como uma tagarela enquanto ele somente me analisava.

— Júlia Medeiros, Júlia Medeiros, você e sua inconstância — ele falou com um sorriso divertido — O que eu devo fazer com você?

O que ele deveria fazer comigo?

Essa pergunta fez com que uma inquietude surgisse em meu coração.

Eu deveria ter mantido a calma.

Deveria ter dado risada e somente ignorado.

Deveria ter me levantado e ido ao banheiro.

Deveria ter mantido a compostura e dizer que ainda não estava pronta para que ele fizesse algo comigo que ultrapassasse nossa barreira da amizade.

InconstanteOnde histórias criam vida. Descubra agora