Capítulo 10 - Máscaras

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Os lábios de Rafael já estavam a milímetros de distância dos meus.

A imensidão do seu olhar castanho encarava os meus sem nenhum pudor, sua mão que antes acariciava meu rosto e lábios, agora envolvia a minha nuca lentamente, com esses movimentos pude sentir um leve arrepio por toda a extensão do meu corpo, algo que não pude controlar ao sentir seu toque.

Sua respiração estava lenta e descompassada, enquanto meu coração vacilava em acelerar os batimentos cardíacos, meus olhos foram se fechando involuntariamente quando pude sentir seus lábios enfim roçarem os meus de uma forma lenta e até mesmo dolorosa.

E foi exatamente nesse momento que graças a meu cérebro pensante me dei conta da loucura que estava para acontecer, arregalei os olhos e coloquei minhas mãos espalmadas sob o peito de Rafael na intenção de paralisar os seus movimentos.

— Você precisa ir embora Rafael. — eu disse em um sussurro ofegante, enquanto um misto de confusão envolvia seus belos olhos castanhos.

— Pra sempre?

— Não... — engoli em seco, enquanto me desvencilhava do seu toque — Só por esse momento Rafael, só por esse momento...

Olhei para Rafael por alguns instantes e dei as costas para o mesmo, fui caminhando a passos largos para a entrada do jardim, minha cabeça pulsava tanto que até parecia que meu coração havia mudado de lugar.

— Júlia Medeiros? — ouvi sua voz soar um pouco mais alta em minha direção, me virei rapidamente para olhá-lo — Me desculpe pelo quase beijo — ele dizia com um sorriso tímido no rosto e com suas mãos passando pelo seu cabelo.

— Ok, tudo bem eu... — ele me interrompeu.

— Da próxima vez, se algo desse tipo acontecer entre nós dois não vou deixar ficar somente no quase... — ele disse mordendo seu lábio inferior, segurando um riso abafado. — Até logo Júlia Medeiros!

E foi assim que fiquei plantada na entrada do meu jardim, com as mãos em meus lábios, sentindo uma certa dormência do beijo não dado, somente observando Rafael com toda a sua maestria colocar o capacete, montar em sua moto e partir, se perdendo diante da escuridão daquela imensa rua.

"O que está acontecendo com você Júlia Medeiros?" era a pergunta que insistia em fazer meu cérebro e todas as batidas aceleradas do meu coração.

***

O restante do fim de semana e a semana seguinte foram tranquilas e sem terremotos em minha vida.

Eu não havia entrado em contato com o Rafael depois do nosso quase beijo, e nem iria também, pois ainda estava morrendo de vergonha do acontecimento e de todas as suas palavras insinuadoras.

Minhas corridas matinais sempre aconteceram ao longo dessa semana, e meu percurso sempre era até a antiga cabana de Bernardo.

Não tinha esperanças mais de encontrá-la aberta ou disposta para que eu pudesse entrar, eu sabia que ele não estava mais ali, mas era como se minhas pernas conhecessem aquele caminho de tal forma que não poderia deixar estar ali pelo menos por alguns minutos. E claro, meu coração sempre se apertava ao passar por lá, mostrando que queria ser lembrado.

Durante esses dias não me senti tão sozinha como na semana anterior, minha irmã passava muitos afazeres para mim, eu acabei ajudando muito ela em suas planilhas de contabilidade e sempre fazíamos algumas maratonas de filmes e seriados para que eu pudesse recuperar o tempo perdido na clínica de reabilitação.

Confesso que esperei por alguma visita inusitada na madrugada, até passei em frente ao "MUSIC HOUSE" para devolver a jaqueta de Rafael, mas o lugar estava fechado nos dois dias que tentei visitá-lo. Parecia que existia uma trava em mim em correr atrás e até mesmo certo rancor por Rafael não ter entrado em contato comigo, mas eu estava tentando, não é mesmo?

InconstanteWhere stories live. Discover now