Capítulo 27 - Meu algo bom

872 111 78
                                    

As peças de meu quebra-cabeça estavam espalhadas no chão de uma rua estreita localizada no centro de minha cidade.

Poderia ter sido diferente, é claro que poderia.

Era engraçado como a poesia que já estava escrita com versos tão bonitos pudesse ter uma grande reviravolta, tudo por conta de uma insistência minha em querer melhorar ainda mais um dia que tinha tudo para ser perfeito.

Somos seres tão predestinados a sempre querer melhorar as coisas, mas muitas vezes nos esquecemos de como a vida gostava de fazer certas brincadeiras, causando uma bagunça em todas as peças que já estavam encaixadas, ou até mesmo embaralhar as palavras de uma bela poesia já feita.

Eu poderia ter continuado a ficar na companhia de Rafael enrolada aos lençóis amassados de sua cama tão acolhedora.

Em minhas imaginações eu ainda podia sentir a sua respiração em meu rosto, suas pernas entrelaçadas na minha, sua mão macia acariciando os meus cabelos bagunçados, seu sorriso tão bonito que invadia todo o meu campo de visão...

Gostava de pensar em coisas boas enquanto passava por uma situação difícil como aquela que estava vivenciando naquele momento, apesar da realidade causar medo e calafrios, a minha mente insistia em conseguir pensar em algo bom.

E meu algo bom tinha nome e sobrenome, mais conhecido como Rafael Aguiar.

Talvez para entender tudo o que havia acontecido, fosse necessário voltar no tempo para reorganizar as ideias.

Rafael estava disposto a fazer um jantar especial de aniversário naquela noite, e ele havia pedido para que eu passasse o dia inteiro com ele para aproveitar mais de minha companhia.

Mas eu, como uma convidada de honra, queria que ele tivesse uma noite ainda mais memorável, e por isso me responsabilizei a sair para comprar um bom vinho para acompanhar nossas comemorações, e com isso aproveitaria para procurar um presente ideal para presenteá-lo de alguma forma que ele gostasse, para conseguir melhorar ainda mais o seu dia.

Após ter sido deixada em casa por uma veloz Samantha, trocado o pijama por roupas adequadas e ter almoçado na companhia de Laura e Willian, fui andar pelas ruas da cidade na intenção de encontrar tudo o que procurava.

Entrei e sai de várias lojas em busca de algo que pudesse me agradar enquanto carregava uma garrafa de vinho em uma sacola de papelão, e logo ao passar por uma simples vitrine de uma das lojas daquela rua abarrotada de opções, pude me deparar com uma linda camiseta onde tinha uma frase que encheu meus olhos de vida.

"A tempestade que chega é da cor dos seus olhos... Castanhos."

Um misto de lembranças invadiram a minha cabeça com a primeira dança que eu e Rafael tivemos no Music House, dentro de um ringue de luta onde as caixas de som tocava "Tempo Perdido" de Legião Urbana.

Felizmente ele tinha razão, apesar de eu não ter admitido no momento, aquela música com certeza poderia ser dançante... Tudo se tornava dançante quando se tinha Rafael por perto.

Não pude deixar de sorrir com a lembrança e não pensei duas vezes antes de entrar na loja e comprar a camiseta que combinaria tanto com seus olhos.

Assim que sai da loja, pude notar que o fim de tarde já estava chegando com o pôr do sol tão bonito que se escondia atrás dos grandes prédios que estavam ao redor.

Não via a hora de chegar em meu apartamento, tomar um banho demorado e ir para o meu jantar especial, queria tanto ver o sorriso de Rafael ao receber o presente que havia comprado para ele.

Mas nem sempre os planos que fazemos são os mesmos que o destino reservava para nós.

Me lembro de estar sorrindo quando avistei um táxi a alguns quarteirões de distancia de onde eu estava, mas meus passos largos se desaceleraram quando uma mão firme segurou em meu pulso, e ao me virar para ver quem havia cometido tal ato, me deparei com Bernardo com uma feição perturbada expressa em seu rosto.

InconstanteWhere stories live. Discover now