Capítulo 26 - Faça um pedido

783 105 85
                                    

Apesar do desconforto incômodo em meu coração, o amanhecer trazia uma certa calmaria.

Os braços firmes que me envolviam em um abraço pareciam me amparar de qualquer percalço que poderia vir a aparecer pelo caminho, e era gratificante ter o rosto de Rafael tão próximo ao meu depois de tantos acontecimentos atordoantes.

Passei minha mão delicadamente por toda extensão de seu rosto, contornei seus olhos tão absortos em um sono gostoso de observar, não queria acordá-lo, mas queria tanto ter seus olhos castanhos unidos aos meus em uma troca de olhares recheada de cumplicidade, mas, tornei a aquietar meu coração, não tinha o direito de tirar a paz dele, ao menos no mundo dos sonhos.

Me levantei da cama com cautela para não acordá-lo, e ao me desvencilhar de seus braços já quis me atrever a me aconchegar a ele novamente, o calor de seu corpo já fazia tão parte de mim, que se tornava cada vez mais difícil me manter distante.

Após realizar minha higiene matinal, e lavar meu rosto por diversas vezes na intenção de tirar todo o cansaço presente em meu semblante, me encaminhei para a cozinha sem a preocupação de me vestir mais confortavelmente.

Os trajes da noite passada ainda estavam pregados em mim, e apesar de querer retirá-los, parecia não adiantar me livrar somente das peças que envolviam meu corpo, mas sim, de todo o meu eu, mas no meu guarda-roupa não existia uma vestimenta adequada para trocar a roupa da minha alma e me livrar de todas as lembranças do dia anterior.

Estava totalmente entregue a meus pensamentos, e bastante concentrada em acertar o leite integral nas duas tigelas de cereais que estavam em minha frente no balcão, e por estar tão entretida nessas atividades, não havia me dado conta da presença tão ilustre de Rafael no mesmo cômodo que eu, nem ao menos havia escutado seus passos arrastados caminhando pelo chão.

E mesmo com todo misto de sensações que me rodeavam, sentir a respiração dele em meu pescoço e seus braços envolvidos em minha cintura, me trouxeram uma felicidade única em meu coração.

Abandonei a caixinha de leite em cima do balcão e logo me girei para ficar de frente daquele homem incrível que me envolvia, foi bom ter o vislumbre de seu sorriso, apesar de seus olhos lacrimejados, eles estavam cheios de ternura e afeto.

O envolvi em um abraço apertado, não demorando muito para lhe dar um beijo suave em sua bochecha.

— Como você está? — perguntei em um sussurro em seu ouvido.

— Se eu dizer que estou bem, estaria mentindo — ele disse soltando um riso sem graça — Mas com esse abraço gostoso acredito que tudo vai melhorar.

— Espero que eu consiga fazer essa proeza, pois é sempre você que me traz algo bom da vida para ter a certeza de que tudo vai ficar bem — falei com um sorriso no rosto ao selar seus lábios nos meus.

— Ah Júlia Medeiros, é que você não tem noção do poder que tem sobre mim — ele sussurrou com os lábios ainda encostados nos meus.

Suas palavras me acertaram de forma tão agradável, que fizeram com que eu me sentisse capaz de fazer algo bom por ele e por toda a sua poesia, e apesar de seus olhos carregarem dores e incertezas, seu sorriso contagiante trazia paz.

— Espero que esse meu poder haja rapidamente nesse coraçãozinho — respondi sorrindo, colocando minha mão do lado esquerdo de seu peito — Mas por enquanto, pretendo acalmar pelo menos o seu estômago, espero que goste de cereais.

— Gosto de cereais, eles serão o suficiente para preencher o vazio do meu estômago, mas o vazio do meu coração só será preenchido com você mesmo Júlia Medeiros, e eu gosto de você. — ele disse sorrindo.

InconstanteWhere stories live. Discover now