Capítulo 20 - As cinco "loucuras"

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Ao abrir a porta do meu apartamento, me deparei com Laura sentada no sofá com uma caneca em suas mãos, bebericando algo que parecia bem quente pela fumaça que se dissipava pelo ar. Seus cabelos estavam presos a um coque mal feito e seus óculos de grau, que ela quase não usava, descansavam sob seus olhos castanhos tão concentrados na tela da televisão.

Assim que ela se deu conta da minha presença um sorriso imediato brotou de seus lábios rosados, descruzou suas pernas que estavam a vontade no sofá e logo depositou a caneca e o óculos na mesinha de centro, não demorou muito para se encaminhar em minha direção com seus braços longos e abertos para me envolver em um abraço caloroso.

Nenhuma palavra foi dita naquele momento, somente ficamos abraçadas e uma maré de sentimentos bons invadiu completamente cada parte do meu ser.

— Eu te perdoo Laura — eu disse em meio a um sussurro e pude sentir ela me apertar ainda mais em seus braços — Não prometo esquecer o que você fez, mas sei que você teve seus motivos e eu te perdoo por isso, só quero ficar bem com você novamente e poder seguir a vida com o coração mais leve sabe?

Com o nosso caloroso abraço desfeito, Laura entrelaçou minhas mãos nas suas, apertando as mesmas de forma suave, soltou a respiração lentamente, como se quisesse esvaziar todo o ar armazenado em seus pulmões e logo sorriu novamente.

— Você não tem noção de como tudo isso me deixa feliz — ela disse derramando uma lágrima teimosa de seus olhos.

— Ei, não precisa chorar Laura — eu disse ao me desvencilhar de suas mãos e limpar a lágrima que passava pela sua bochecha com a ponta de meus dedos — Eu estou aqui e estamos bem, vai ficar tudo bem agora.

— Sim Jú, tudo vai ficar bem... Eu só não tenho certeza se tudo vai ficar bem exatamente por agora — ela disse engolindo em seco.

— O que você quer dizer com isso? — perguntei enquanto fechava a porta atrás de mim e passava a mão livre pelos meus cabelos de forma aflita — Não me diga que...

— Sim — ela interrompeu — Certo alguém lhe mandou flores.

Ao ouvir as palavras de Laura, minhas cordas vocais pareciam ter emudecido e a entrada e saída de ar de meus pulmões vacilavam de forma descompassada.

Eu quis gritar, mas o grito ficou preso em minha garganta.

Laura me puxou pelo braço, me levando em direção a cozinha e assim que chegamos ao local pude visualizar um buquê de rosas coloridas em cima do balcão e abaixo dele havia um envelope amarelado com o aspecto amassado.

Assim que me aproximei do buquê peguei o envelope e o abri com urgência, desejando internamente que tudo aquilo fosse somente um tipo de pegadinha do destino, que ele só estava pregando uma peça para medir o quão preparada estava para o passado retornar com suas garras e bagunçar toda a minha vida.

Mas tudo aquilo era verdade, a vida acabara de arrancar de forma bruta uma peça do meu quebra cabeça que custei tanto para encaixá-la no lugar certo.

Dentro do envelope havia uma fotografia.

Uma garota de cabelos castanhos longos estava com os braços em torno do pescoço de um rapaz bonito de olhos azuis, os dois sorriam para a foto com uma intimidade invejável e um brilho no olhar que seria impossível não dizer que os dois estavam completamente apaixonados.

Meu coração se fragmentou em pedaços ao reviver tal lembrança.

O casal da foto era eu e Bernardo no início de nosso namoro, as drogas ainda não existiam em nossas vidas, pelo menos não na minha, só éramos nós dois entregues a um namoro novo e cheio de planos, que acabara tão cedo como começou, por conta de vícios, dinheiro e desamor.

InconstanteWhere stories live. Discover now