Capítulo 22 - Inspirar e expirar

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Inspirar e expirar.

Ato comum exercido pelos seres humanos para cumprir com sua própria sobrevivência.

Mas, sentada ali no sofá de minha sala, com meu corpo enrolado ao lençol que foi leito de amor na noite passada, encarando a porta de meu apartamento em perfeito estado de transe... Não era tão comum realizar o ato de respirar.

Era doloroso introduzir e expelir o ar de meus pulmões.

Mesmo com tal dificuldade para cumprir com a minha própria sobrevivência e organizar as ideias em minha cabeça tão perturbada, meu sistema nervoso central mandava mensagens reconfortantes para todas as minhas terminações nervosas, para que eu ficasse mais tranquila, pois em breve Rafael abriria aquela porta carregando o seu habitual sorriso no rosto de orelha a orelha e em suas mãos estaria um saco de pão, ele me olharia divertidamente, perguntaria se eu havia sentido a sua falta e se ofereceria para preparar nosso café da manhã.

Mas não, infelizmente nada disso havia acontecido dentro dos minutos seguintes em que fiquei aguardando ansiosamente por sua volta, meus dedos já estavam cansados de dedilhar minhas pernas que insistiam em ter vida própria com o balançar insistente dos meus pés.

Não havia nada, nada que pudesse explicar seu sumiço. Nenhum bilhete ou mensagem no celular com algum aviso de que algo acontecera ou até mesmo que ele havia desistido de que eu fosse, enfim, o seu par na dança da vida.

Ele não faria isso comigo faria?

Minha cabeça e todos meus pensamentos entraram em combustão.

A conversa que tive com Letícia há mais de um mês atrás dentro do banheiro feminino de um bar qualquer veio a tona em minha cabeça.

"O Rafa seduz, seduz e seduz... Mas depois ele cai fora."

Ele não faria isso comigo, não depois de tudo o que a gente teve juntos e tudo o que compartilhamos, não, ele não poderia fazer uma coisa dessas.

"Ele sempre foi todo romântico, ele sempre escrevia poesias, falava coisas bonitas e era assim que ele conseguia ficar com a garota que quisesse."

Dessa vez era a voz de Renata, prima de Rafael que sussurrava tais lembranças em meu ouvido, lembro perfeitamente bem que havia sido no dia do casamento de Francisco, mas ela falava sobre o antigo Rafael, mas não sobre a versão dele da qual eu tanto conhecia, não o cara incrível do qual me encantou com todo o seu jeito de ser e ver a vida.

Não, ele não faria isso comigo.

E talvez, se eu repetisse essa frase por milhões de vezes, ela se tornaria verdade. Só assim meu coração poderia retomar a sua inteiritude e unir todos os fragmentos que aquela manhã solitária haviam me causado.

Para tentar aliviar toda a tensão da manhã e me libertar de toda a bagunça que confundia ainda mais minha cabeça, entrei no chuveiro de minha suíte e deixei que a água morna tocasse e envolvesse todo o meu corpo, mas enquanto me lavava naquele banho tão choroso, me lembrava de cada beijo que Rafael havia depositado pelo meu corpo, todo o prazer que ele havia me proporcionado e todo o carinho que ele teve comigo.

As lembranças tão gostosas da noite passada estavam tão vivas em minha memória que era algo totalmente absurdo de pensar que Rafael cometesse o ato de ser um cara tão idiota de me abandonar desse jeito, sem nenhum explicação evidente.

Após tomar meu banho regado de lembranças e saudade, havia tomado a decisão de definitivamente ligar para Rafael e lhe questionar sobre toda a palhaçada que ele estava fazendo comigo, ele não tinha o direito de fazer com que eu me entregasse de corpo e alma para ele e depois cair fora como se nada tivesse acontecido entre nós.

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