VI - Fugas e encontros - Tenebrisen

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As árvores passavam rápido pelo campo de visão meio embaçado de Tenebrisen. Seu corpo doía, não aguentaria por muito mais tempo, tinha certeza. Cada passo só não era sentido com mais dor devido à velocidade que corria. Mas não podia se deixar cair, não depois de ter conseguido fugir mais uma vez...

Se ao menos pudesse abrir um portal das sombras... Não. Isso só iria piorar a situação. Teria que parar para respirar por alguns minutos antes de tentar utilizar tanto poder; no entanto, se fizesse isso, correria um grande risco de ser alcançado pelos seus perseguidores. Mas eu preciso de tão pouco tempo...

Sua atenção se separou dos sentidos que continuavam dedicados a correr, desviar de árvores e se afastar ao máximo de sua antiga cela. Enquanto isso, sua memória lembrou daquele triste dia em que se separaram e Groleo dissera que viria para as montanhas. Ele podia estar em algum lugar ali mesmo e não seria tolo o suficiente para não colocar proteções mágicas impedindo descobertas de humanos indesejados. Estaria seguro, só por um breve instante e iria partir, nem precisava encontrá-lo, era só...

As árvores abriram espaço para uma clareira que abrigava uma cabana de pedras grandes, com um telhado de duas águas e uma pequena mesa ao lado da porta. Seu coração parou.

Com passos hesitantes se aproximou da pequena construção, a visão melhorando aos poucos. Sobre a porta descansava o que mais queria encontrar no momento: uma placa de madeira com um semicírculo deitado e um losango na frente, o símbolo de Groleo.

Se dobrou sobre o próprio corpo. Não acreditava. Depois de tanto tempo. Depois de tudo isso. Queria revê-lo? Não sabia, mas com certeza sim. Fora tanto tempo, o que diriam? Iria descobrir. Iria...

— Groleo! — Uma voz com um nome confirmou seus pensamentos, mas o deixou confuso. — Eu juro que vou te matar! — A sentença mudava as coisas, mas o tom não parecia ameaçador. Considerando tudo aquela voz só poderia pertencer a...

Dois jovens passaram pela porta da cabana carregando diversas armas e mochilas enormes de couro. Logo Tenebrisen se viu com uma flecha apontada para o seu peito e um machado em mãos confiantes. E aquela foi a melhor visão que teve em várias contagens.

Reconheceu as armas feitas especialmente do trabalho unido de guardiões de pedra e floresta, o qual exigia tanta sincronização entre seus forjadores que eram muito raras. Reconheceu as bolsas encantadas que impediam qualquer alimento de estragar. Reconheceu as posturas de luta e a forma de segurar as armas. Se aqueles não fossem os últimos aprendizes de Groleo, então nunca estivera mais enganado.

O ferimento em seu braço começou a doer novamente e a espada a pesar com a baixa na adrenalina. Entre suspiros conseguiu dizer:

— Groleo? Groleo Dinígo? Onde ele está?!

Pode ver a hesitação nas mãos dos dois e a confusão em seu olhar.

— Quem é você? — Perguntou a garota.

— Meu nome é Tenebrisen. — Respondeu. Tinha uma certeza em sua mente e não tinha porque enrolar. — Groleo e eu nos conhecemos, me diga onde ele está.

— Por que deveríamos acreditar em você?

Melhorou sua postura e tentou recuperar mais o fôlego. Mais um pouco e poderia abrir um portal, mas se tivesse a chance de encontrá-lo, mesmo que brevemente, não iria desperdiçar assim.

— Porque eu sei que ele tem aproximadamente essa altura, cabelo cinza, olhos da mesma cor e a pele acobreada. Tem uma cicatriz do lado direito da costela que faz de tudo para esconder. — Indicou o lugar onde também tinha a mesma marca. — Não consegue dormir sem chá. Faz todos decorarem frases prontas. Repudia completamente o cheiro de azeitona.

Riu internamente com a lembrança.

— Quem é você e como conhece Groleo?

— Eu e Groleo éramos... Próximos há muito tempo atrás. Meu nome é Tenebrisen Kalamo. Sou um guardião das sombras. — Estava quase recuperado, não fora difícil fazer uma pequena brincadeira com as sombras no chão.

No entanto, a expressão de surpresa deles não estava nos seus planos. Naquele instante, entendeu o que Groleo havia feito e o julgou por isso. Entretanto, ao mesmo tempo reconheceu seus motivos, apesar de não serem justos.

Segurou mais firmemente o cabo da espada que roubara do guarda nakoushinider. Aquele lugar com certeza era protegido, mas nunca mais iria duvidar da capacidade deles, não depois do que aconteceu.

— Vocês precisam sair daqui e precisam me dizer onde está Groleo.

— Nós não sabemos. — O menino despejou rapidamente as palavras.

Tenebrisen pensou que ele estava mentindo até a garota o olhar com reprovação.

— Ele parece estar falando a verdade. — Se defendeu ele.

— E estou, vocês têm que acreditar em mim. — Havia se recuperado, não tinha porque se demorar mais e não os deixaria em perigo, independentemente de quem fossem, eram apenas crianças e não tinham culpa de nada. — Há muitos guardas nakoushiniders vindo, vocês não estão seguros aqui.

— Nakoushinider? — O garoto repetiu confuso.

O guardião não conseguiu esconder a decepção.

— Até onde ele lhes contou?

— Contou o quê? — A menina segurou mais firmemente o machado.

Ele jogou a cabeça para trás e disse em tom irônico e desapontado:

— Deixa eu adivinhar: ele os mandou ir para a floresta.

Os dois se encararam confirmando sua hipótese.

— Escutem. Eu quero de verdade ajudar vocês. Mas não poderei fazer muito se não me deixarem. Se quisesse lhes fazer algum mal, já estariam mortos. Agora peguem exatamente o que Groleo lhes mandou e saiam daqui! Por favor!

Eles se entreolharam novamente e voltaram sem responder para dentro da cabana ainda o encarando.

Tenebrisen limpou o suor da testa marrom escura com o braço da espada. Não vai me dizer que em seus últimos aprendizes você decidiu fazer essa palhaçada? Pobres crianças... Se mal sabem quem são... Eles precisam de ajuda... Mas mal tenho energia para mim, como vou ter para eles? Além do mais, preciso ver meu irmão e eles vão para a floresta. Mas, se forem só eles...

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