7: Blecaute

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"Maria Luísa tem todo o direito do mundo em ficar dessa maneira com a volta deles. Não a condeno nem a julgo, sei como é difícil ter que lidar com Felipe Alves novamente. Apenas esperava que ele não possuísse mais nenhum tipo de efeito sobre mim. ── Júlia."

Por mais que eu tentasse, evitar a presença de Felipe e Rafael no colégio era praticamente algo impossível.

Em primeiro lugar é impossível porque o assunto do momento são eles dois; Para os alunos que já os conheciam, era uma surpresa os ver novamente no colégio. Por outro lado, para os alunos que não os conheciam, eles eram um mistério e novidade. E, bem, novidade e mistério sempre chamam a atenção de qualquer pessoa.

Em qualquer canto do Basso tinha alguém falando sobre Rafael e Felipe.

E isso é uma verdadeira droga.

Por mais que eu tente bloquear a presença deles na minha vida isso não quer dizer que as outras pessoas iriam fazer algo do tipo. De verdade, eu nem deveria ficar tão surpresa por conta disso, até já deveria esperar que algo como isso acontecesse. Mas precisava admitir que ficava surpresa com outras coisas.

Com outras coisas quero dizer a dedicação que Rafael e Felipe tinham em tentar consertar as coisas.

Durante a semana que se passou eu perdi as contas de quantas vezes fui abordada por um deles a cada momento do dia. Não era apenas no colégio que eles tentavam me fazer escutar quaisquer que fossem suas desculpas, mas até mesmo fora da instituição eu fui abordada. Não posso mentir que a dedicação deles me fazia um pouco feliz, mas nenhuma felicidade por tal ação faria com que as coisas melhorassem do nada.

Eu não sou como Thomas e Augusto que conseguem entender as coisas tão bem como aconteceram e simplesmente decidiram passar uma borracha nos últimos três anos. Não sou.

Felipe havia me magoado de uma maneira que nenhum deles iria entender por conta de ser meu irmão e ter feito praticamente a mesma coisa que nosso pai fez há anos atrás. Até hoje não entendia como Felipe tinha tido coragem de fazer a mesma coisa que Guilherme. Ele se comparou ao que mais julgou e odiou a vida toda e nem fazia ideia, pelo que parecia.

Rafael, ao contrário de Felipe, poderia não ser meu irmão, mas ele fugiu de mim. Literalmente falando. Depois da conversa que tivemos no Caís, ele simplesmente disse que precisava ir para casa e me deixou sozinha. Pensei por um momento que a minha revelação tivesse o pegado desprevenido, mas que as coisas depois se acertariam entre nós; Sinceramente eu não esperava que Rafael retribuísse o que eu sentia por ele, mas nem em mil anos eu esperava que ele fosse fugir.

O choque foi tão grande com aquela notícia que quando a mãe dele veio nos falar que ele tinha decidido dar uma nova chance ao pai e viver com ele durante um ano, eu simplesmente preferi me trancar no meu quarto e não escutar mais nenhuma palavra.

Thomas e Augusto conseguiram os aceitar tão facilmente porque eles não passaram pelo que eu passei. Não foram abandonados ou foram o motivo das partidas que aconteceram naquele ano de 2012. Aquilo tudo era uma droga.

Meu olhar ─ por vontade própria ─ correu novamente para a mesa que eles quatro dividiam alguns metros de onde Bruna, Júlia e eu estávamos sentadas. Os quatro estavam rindo e passando aquele tempo juntos, não ligando para o que os cercavam naquele momento e eu senti algo parecido com ciúmes, mas que gosto de classificar como rancor. E eu não era a única a sentir algo como aquilo já que Júlia bufava de cinco em cinco segundos quando algum deles ria mais alto ou gritava; Principalmente quando esse alguém era Thomas ou Felipe.

Trouxe meu olhar novamente para a minha salada de frutas e remexi pela centésima vez o conteúdo dela. Levei uma colherada até a minha boca, mas parecia que o mamão e a banana haviam virado pedras e não queriam descer pela minha garganta. Fiz um pouco de força para engolir e afastei o pote.

5inco | ✓Where stories live. Discover now