31: Sem chance

4.2K 495 237
                                    

"Cara de pau tour a gente vê por aqui. ── Augusto. "

Então agora vocês três vão cobrir o dia da semana do Felipe já que ele não quer falar comigo? ─ perguntei, apenas para ver três cabeças balançando de forma positiva. ─ E vocês sabem que ele está no andar de cima e que realmente não precisam ficar aqui hoje, não é mesmo?

E, novamente, Thomas, Rafael e Augusto fizeram sinais positivos e então eu simplesmente resolvi deixar para lá e me render, me atirando no sofá entre eles. Se eles faziam tanta questão de ficar comigo já que Felipe não queria, eu não iria ficar reclamando ou achando motivos para eles irem embora. Ao contrário: iria aproveitar a companhia deles naquela tarde.

Depois de uma pequena confusão para decidir o que nós iriamos ver na Netflix ─ Augusto queria fazer uma maratona de Buffy, a caça-vampiros e Rafael queria assistir Black Mirror ─, Thomas decidiu que a melhor opção seria assistirmos Freddy vs Jason já que aquela era a única coisa que estava no catalogo que todos nós concordávamos em assistir.

A verdade e mais nada do que a verdade é que Freddy vs Jason era a única coisa que assistíamos juntos na Netflix. Sempre. A gente até tentava ver outras coisas, mas sempre acabava vendo a mesma coisa.

─ Se a Netflix tirar esse filme do catalogo algum dia eu nem sei o que vai ser da gente. ─ Augusto fez questão de pontuar e todos nós concordamos.

Freddy vs Jason era para ser um filme de terror que reúne dois grandes personagens de filmes de terror. Freddy Krueger é um cara que é todo deformado por causa de um incêndio que fica perseguindo as pessoas durante o sono delas e Jason Voorhees é um cara que morreu afogado em um lago quando ainda era criança e depois voltou para se vingar da morte da sua mãe. Pela lógica, juntando esses dois personagens marcantes e realmente assustadores, um filme de terror pesado deveria sair, certo? Errado.

Freddy vs Jason conseguia ser uma piada de tão engraçado.

Já estávamos na metade do filme e a minha barriga doía de tanto que eu ria quando alguém tocou a campainha. Em um primeiro momento resolvi deixar que Lia ou Kia fossem atender, mas quando a campainha tocou pela segunda vez e eu me lembrei que elas estavam no ballet, resolvi deixar para que Felipe atendesse a porta. Só que a campainha tocou pela terceira vez e eu percebi que a sortuda para atender a porta seria eu.

Augusto resmungou para que fosse de uma vez ver quem era porque o barulho da campainha já estava o irritando e se eu não o conhecesse a tanto tempo como eu o conhecia, iria ficar extremamente chocada com a falta de vergonha na cara dele porque, afinal, estávamos na minha casa.

Mas aquele era o Augusto e caso ele não agisse daquela maneira não seria ele.

Ao meio de risadas e escutando elas eu fui em direção a porta de casa e abri.

Eu ainda possuía um sorriso no rosto por conta do comportamento anterior dos garotos quando olhei para quem estava ali, tocando a campainha e provavelmente procurando por minha mãe ou por Marco. Seria apenas isso: atender a porta, dizer que eles estariam em Rezende até o final daquela semana e depois voltar para o filme. Deveria ter sido daquela maneira, mas não foi.

O sorriso em meus lábios logo morreu e foi como se tudo ao meu redor ficasse em silêncio enquanto a pessoa a minha frente me sufocava com a sua presença. Ou retirava de mim qualquer alegria que estivesse dentro de mim.

Eu não esperava por encontrar com Guilherme Alves parado na minha porta naquele dia. Sendo sincera ─ extremamente sincera ─ eu nunca pensei que fosse o reencontrar em algum momento da minha vida. Não quando a minha presença não era bem-vinda na sua vinda e quando a presença dele na minha parou de ser importante. Com o tempo, Guilherme passou a ser apenas um rosto desconhecido por mim.

5inco | ✓Onde as histórias ganham vida. Descobre agora