43: Sentimentos x distância

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"Ah, que saudade... ── Augusto."

- A gente se vê na segunda-feira, galera. - parecendo extremamente alegre com a chegada do final de semana, Agatha, uma das minhas colegas mais próximas, se despediu do nosso pequeno grupo de pessoas, saltitando para fora da mesa em que estávamos e, logo em seguida, para fora da faculdade. - Bom findi pra vocês tudo.

Sem dar a chance de ninguém se despedir, ela se foi e levou consigo parte da minha segurança já que Agatha era minha única amiga de verdade naquela roda de colegas em que estávamos a poucos instantes atrás. Se eu tive vontade de correr atrás dela e ir correndo para casa? Tive sim, mas continuei sentada na mesa que dividia com meus outros colegas, tomando um gole de café aqui, outro ali e escutando as conversas que eles tinham naquele momento.

O choque que era morar em Porto Alegre agora já não era mais igual ao do primeiro ano; com o tempo, você acaba se acostumando a cultura, as pessoas, aos novos hábitos e ao novo clima. Dois anos e meio morando na cidade já era tempo suficiente para não ser considerada mais uma turista. Ou a garota carioca que não sabia que bergamota era tangerina e que carreteiro definitivamente não era uma pessoa que fazia carreto.

Foi complicado no começo me adaptar a novos hábitos, novos costumes e a novas pessoas. Foi bem difícil, na verdade. Logo no primeiro semestre eu só possuía a vontade de correr para casa e ficar perto de todas as pessoas que eu conhecia e no lugar em que eu me sentia segura. Foi um longo período de recusa a Porto Alegre e saudade do Rio de Janeiro, confesso. Um dia cheguei a arrumar uma mochila no meio da semana, disposta a ir embora e deixar tudo aquilo para trás, mas desisti no último minuto.

Não seria eu se desistisse tão facilmente de algo.

O medo do desconhecido, faz isso com as pessoas.

Então, aos poucos, fui me habituando a cidade, aos costumes, as pessoas.

E, quando percebi, todo o sentimento de rejeição por Porto Alegre sumiu.

Agatha foi muito importante para que essa transição acontecesse. Nos tornamos amigas algumas semanas após o episódio da mochila feita e o plano de desistir de tudo. Entre um intervalo de aula e outro, ela quis realmente saber se eu era a tão famosa garota que não sabia o que era uma bergamota e desde então uma amizade surgiu entre nós. Era bom ter Agatha como amiga mesmo que ela sumisse às vezes e voltasse como se nada tivesse acontecido.

Ela jurava - de uma maneira nada convincente - que as sumidas esporádicas não significavam nada, mas eu sabia que elas significavam algo sim já que quando Agatha sumia e voltava, ela voltava transtornada. Pedro disse que ela deveria ser uma agente dupla e, por isso, vivia sumindo e aparecendo. Já Thomas, sempre sendo mais sensato, disse que ela deveria ter algum problema que a fizesse se ausentar por curtos períodos de tempo.

Com um cutucão nada sútil de Márcia diretamente nas minhas costelas, fui trazida de volta a realidade e percebi que as atenções deles estavam focadas em mim. É óbvio que alguém havia perguntado alguma coisa e esperava pela minha resposta agora, mas eu não fazia a minima ideia do que estava acontecendo naquela mesa já que havia me desligado da conversa deles no momento em que Agatha havia ido embora.

Não que eles sejam chatos ou sejam más pessoas... O problema é que eles são desacreditados demais e o único assunto que tenho com aquele pequeno grupo de pessoas é sobre o nosso curso. Ou quando algum deles tenta me fazer explicar como é possível que as minhas amizades e namoro durem dois anos e meio mesmo com a distância. Eles são um tanto quanto céticos sobre isso.

Para eles, é praticamente impossível que relações durem a distância.

- Desculpa, o que você perguntou?

5inco | ✓Where stories live. Discover now