16: Escolhas

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"Tic tac, tic tac, tic tac. ── Thomas."

MARIA LUÍSA

O único som que eu ouvia com extrema clareza eram os dos ponteiros daquele relógio se movimentando. E, juro para você, se eu não estivesse no local de trabalho da minha mãe, tinha quebrado aquele objeto em mil pedaços apenas pela proporção de tensão que estava sentindo naquele momento.

Depois que aquele babaca quebrou a garrafa na cabeça de Rafael e ele desmaiou, o garoto saiu correndo feito o covarde que era e aquela briga se dissipou porque algumas pessoas chegaram ao estacionamento. Só conseguia tremer vendo todo aquele sangue sair da testa de Rafael. Não sei quem ligou para uma ambulância, mas uma chegou certo tempo depois e estávamos os quatro desde então no hospital.

Rafael foi direto para um quarto, carregado em uma maca e Felipe também não demorou muito para ser puxado para dentro de um. Pela nossa mãe, devo ressaltar. Eu liguei para ela em algum momento de lucidez dentro daquela ambulância e pedi que ela fosse diretamente para o hospital. Apenas escutei ela mandar Marco fazer o retorno assim que possível e depois uma das gêmeas resmungar algo.

Acho que faz mais de três horas que estou escutando esse relógio patético, sentada nesse corredor miserável e esperando alguma notícia. Não queria ouvir uma enfermeira dizer que Rafael ainda estava desacordado e que Felipe estava tomando algum ponto. Eu queria saber quando ele iria acordar e quando Felipe ia sair daquele quarto.

Rodrigo estava encostado em uma parede, olhando diretamente para mim desde que chegamos aqui, mas não conseguia o encarar de volta. Me sentia mal por ter o colocado nessa situação. Deveríamos estar na casa da Anaju, certo? Provavelmente aproveitando a festa como todo mundo, porém ele veio comigo para o hospital. Me sentia culpada por estar o prendendo ali comigo.

Mais uma hora naquele hospital e quem iria desmaiar era eu.

─Sabe que não sou o tipo de pessoa que gosta de ficar se metendo na vida dos outros...

─ Digo, sério, não quero falar sobre isso. ─ suspirei. ─ Não quero falar sobre nada agora.

Me perguntei mentalmente se demoraria para Augusto chegar naquela porcaria de local. Ou pelo menos Bruna e Júlia. Não aguentava mais ficar pensando naquilo e precisava de um deles. Eu precisava até mesmo de Thomas, mesmo não admitindo aquilo de maneira alguma em voz alta. Rodrigo é uma pessoa maravilhosa, meu amigo e eu sei que posso contar com ele, mas não era a mesma coisa. Precisava de Augusto e Thomas mais do que qualquer coisa naquele momento.

Acho que era a droga da amizade antiga falando.

Somente eles iriam entender o meu desespero naquele momento. Bruna e Júlia estariam ali também para me dar as mãos, mas aqueles dois.... Ah, aqueles dois iriam sentir tudo na mesma intensidade. Não se tratava apenas de Rafael desacordado ou de Felipe recebendo cuidados em algum quarto; Se tratava de Rafael, nosso melhor amigo de infância desacordado e Felipe, nosso melhor amigo e meu irmão, sendo atendido por algum médico.

Era aquela droga de amizade antiga falando mesmo.

─ Não é questão de querer, Maria Luísa, é questão de precisar falar sobre isso. ─ Rodrigo sentou-se ao meu lado. ─ Ele é seu irmão.

─ Sério? Não sabia disso! ─ rebati, nervosa. ─ Eu já disse que não quero falar sobre nada.

Ele balançou a cabeça em negação, e fiquei em pé. Comecei a andar de uma ponta até a outra naquele corredor. Chegava a uma ponta e via o mesmo médico falando com Felipe, apontando alguma luz em sua direção e minha mãe apenas observando tudo, atenta a todos os detalhes. Depois refazia o caminho e apenas enxergava Rafael desmaiado em cima daquela cama. A mesma coisa desde que cheguei aqui! Ele tinha que acordar, ele precisava acordar logo.

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