𝐂𝐇𝐀𝐏𝐓𝐄𝐑 𝐒𝐄𝐕𝐄𝐍

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⠀⠀⠀⠀⠀⠀𝐂𝐇𝐀𝐏𝐓𝐄𝐑 𝐒𝐄𝐕𝐄𝐍:
⠀⠀⠀⠀⠀⠀𝐀 𝐌𝐎𝐑𝐓𝐄 É 𝐎 𝐅𝐈𝐌
⠀⠀⠀⠀⠀⠀𝐃𝐄 𝐓𝐎𝐃𝐎 𝐌𝐔𝐍𝐃𝐎

⠀⠀⠀⠀⠀⠀𝐂𝐇𝐀𝐏𝐓𝐄𝐑 𝐒𝐄𝐕𝐄𝐍:⠀⠀⠀⠀⠀⠀𝐀 𝐌𝐎𝐑𝐓𝐄 É 𝐎 𝐅𝐈𝐌 ⠀⠀⠀⠀⠀⠀𝐃𝐄 𝐓𝐎𝐃𝐎 𝐌𝐔𝐍𝐃𝐎

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Aquele barulho era o meu celular que tocava sobre a cama. Deixando Harry de lado, me coloquei a atender o telefonema, sem ver quem estava ligando para mim.
     — Alô? — falei, com receio.
     — Mel? — Era a Jade, com ar de preocupação. — Aconteceu alguma coisa? Por que não veio trabalhar hoje? — ela quis saber, meio agitada. Olhei para Harry e ele se virou para mim perto da janela, passando a observar todos os meus gestos.
     — Minha mãe tinha sumido e encontraram o corpo dela, estou indo ao enterro agora — respondi, apertando o celular para evitar me descontrolar novamente. — Depois me responsabilizo pela falta ao trabalho — continuei, mas a verdade era que eu não estava tão preocupada assim.
     — O quê? — Jade se assustou, como se eu tivesse lhe ofendido. — Ah, Melissa, não se preocupe com isso. Você tinha o direito, já que está de luto. Nós demos um jeito aqui com a sua ausência. Em qual cemitério vão enterrá-la?                    

Informei o local e desligamos a chamada, após Jade avisar que iria me acompanhar na cerimônia. Eu não me importei em contar a ninguém sobre a morte da mamãe porque o fato era que ninguém ligava para aquilo. Todos já sabiam da família desequilibrada que éramos, meu pai fazia questão de se mostrar alguém insensato e até louco. As pessoas ignoravam isso por constrangimento próprio, como se fossem se contaminar com o nosso castigo. Era ridículo, mas era o que acontecia na nossa cidade.

Meus avós não eram mais vivos, já a minha tia morava em outro país e tinha se esquecido da gente. Eu não precisava lembrar que Bruce tinha um desentendimento com a minha mãe antes mesmo de eu ter nascido, portanto também era perda de tempo falar para ele sobre o funeral. Ele não deixava ela trabalhar fora de casa, logo ela não tinha colegas de trabalho para prestar homenagem em seu enterro. Enquanto aos vizinhos…, bom, era até melhor esquecer toda essa história de companhia ao funeral.

O padre Samuel seria um dos que iriam, mas por motivos óbvios. Ele até costumava ir em casa quando mamãe estava viva, logo ele a conhecia e tinha carinho por ela, mesmo que tivesse parado com as visitas por um motivo que eu não conhecia. No fim, respirei bem fundo, deixei o celular sobre a cama e saí do quarto com as rosas, sem olhar para Harry, que eu deduzi ainda estar parado no mesmo lugar.

Fui no meu carro e segui o veículo que levava o caixão da minha mãe até o cemitério mais próximo. A viagem foi rápida e estava me dando até uma certa agonia saber que ela estava sendo levada dentro daquele carro – e de um objeto que lhe serviria de lar.

Eu vi Bruce saindo antes de mim, vestindo uma calça jeans velha e a sua camisa branca meio suja. Eu não disse nada, porque já tinha consciência de que ele sabia para onde eu estava indo.
     — Fique calma — alguém pediu, de um jeito suave e bem ao meu lado. Nem percebi que Harry estava sentado no banco do passageiro e muito menos que eu apertava demais o volante do meu carro – o nó dos meus dedos já estavam esbranquiçados. Eu estava nervosa, tensa, triste, com raiva…, tudo misturado. Harry me pedindo para ter calma era algo fora de questão.
     — Estou indo ao enterro da minha mãe, o que você esperava? — bufei, revirando os olhos. Já estávamos próximos do cemitério e, assim que chegamos, senti uma parte da minha mão ficar gelada. Tirei os olhos da estrada e vi a mão do Harry sobre a minha. Parei o carro mais atrás do que estava levando o caixão e tirei a minha mão de perto do espírito, sem me importar com a grosseria. — Qual o seu desejo agora? — joguei, nervosa. — Já não basta estar terminando de destruir a droga da minha vida?
     — Para com isso.
     — Escuta aqui…
     — Melissa — ele me interrompeu e segurou o meu rosto rudemente, a fim de que eu o olhasse —, não venha com ingratidão.
     — Me larga — mandei, pegando nas mãos dele e tentando me soltar, com medo de que os homens que iriam levar o caixão me vissem falando sozinha dentro do carro —, quero que você me esqueça de uma vez por todas!
     — Você tem sorte — jogou, com um ar de insatisfação. Ele estava apertando demais o meu rosto e parecia que iria parti-lo entre os dedos. — Está tendo a oportunidade de ver pelo menos o enterro da sua mãe — continuou, para depois me soltar sem a menor delicadeza. Olhei para ele, muito perplexa, mas Harry tinha apenas a expressão rígida.
     — Que tipo de coisa você é?!
     — É melhor não me irritar, Melissa, eu sei que você não quer que tudo fique bem pior do que já está... — ele me ameaçou, bem devagar, e pareceu tentar se controlar.
     — Eu não sei se você percebeu, mas eu não tenho sorte nenhuma em estar aqui — falei, os dentes pressionados.     
     — Não sei se você se recorda, mas a minha mãe também está morta — Harry parou de me olhar e fitou o nada, como se voltasse no seu passado. — Sequer me deixaram vê-la pela última vez. Eu não pude ver a minha mãe, mas você pode ver a sua agora.
     — Você a matou, por isso não te deixaram.
  
Harry me lançou um olhar ameaçador, algo que me deixou com grande apreensão, mas no fim ele não falou e nem fez nada, apenas continuou me olhando. A atmosfera dentro do carro ficou lastimosa, porque juntou a minha tristeza com a dele – porque sim, eu vi que, além de irritado, ele também estava triste.

hope • hs | book 1 (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now