Chegada - Parte I

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Hermione piscou duas vezes, sentindo a dor pulsante nas têmporas se espalhando por toda a extensão da cabeça e olhos. Tentou se lembrar do que havia acontecido, mas todas as suas tentativas foram falhas, pois a dor voltava com intensidade, como se alguém estive pressionando seu cérebro por repetidas vezes com o dedo indicador.

— Ela está acordando. — Hermione não conseguiu distinguir a voz que preencheu todos os cantos de seus ouvidos, produzindo uma dor esquisita em sua nuca. Concluiu que fora atingida por um feitiço estuporante. A voz era masculina e pertencia a alguém conhecido, mas não o suficiente para se fazer memorável.
— Estupefaça, Ellie? Sério mesmo? Você poderia tê-la machucado. — Ele ralhou.
"Eu sabia" Hermione comemorou em pensamento. Identificar os sintomas de um feitiço estuporante sempre fora o seu "calcanhar de Aquiles", desde a época em que era apenas uma estudante no Instituto Dillys Derwent. Talvez a prática fosse essencial neste caso específico.
— Ei, não me culpe! Estou tentando ajudar. — A voz que respondeu era feminina, suave e aveludada. — Não queria machucá-la, só impedi-la... Você sabe.
Havia uma chaleira apitando, o que fez Hermione imaginar que poderia estar num lugar decente, como uma casa de família. Não sabia por que lhe ocorrera aquele pensamento.
— Senhorita, acorde... — A voz feminina chamou-a, enquanto o homem que também estava no local caminhava de um lado para o outro, demonstrado uma impaciência tangível.
— O que querem comigo? Não tenho dinheiro. — Hermione sussurrou ameaçadoramente. Não estava em seus planos ser sequestrada, morta ou vítima de qualquer violência. — Estão me esperando no meu local de trabalho, logo notarão minha falta.
— Por favor, não se zangue conosco. Estamos aqui a pedido de Harry Potter, seu amigo.— A garota alisava as vestes numa tentativa de disfarçar o nervosismo. Havia um vinco de preocupação entre as sobrancelhas grossas e bem desenhadas.
Hermione se lembrou de ter visto o amigo quando o feitiço atingiu sua cabeça e, por isso, a situação tornou-se muito mais anormal.
— Expliquem-se! — O tom arrogante não fora proposital, mas o medo tinha esse poder sobre Hermione, transformava- a numa mulher autoritária e, superficialmente, segura de si.
Os dois jovens, que agora Hermione podia ver, eram Ralph e Elleanor, estagiários do departamento de aurores, e subalternos de Harry, se entreolharam encabulados. Elleanor puxou uma das cadeiras velhas, encostada perto da porta da casa igualmente antiga e negligenciada, espanou uma camada de poeira escura e sentou-se com cuidado.
— Senhorita Granger... — Elleanor hesitou, antes de disparar as informações das quais fora incumbida de transmitir. — Existe uma contaminação no Banco de Sangue. Todos os que receberam transfusões morreram em questão de semanas. Cerca de cinco crianças que haviam recebido transfusões de emergência não resistiram e sinto informá-la que Victorie Delacour Weasley foi uma delas.

O corpo humano possui um funcionamento incrivelmente sincronizado e alinhado. Todos os órgãos conversam entre si, numa sintonia quase musical. Todavia, o cérebro de Hermione não conseguia acompanhar a enxurrada de sensações que a devoravam de dentro para fora.

A morte desde os primórdios da existência humana sempre significou dor, lamento e perda, ainda que a pessoa não fosse integrante do famoso círculo estrito de conhecidos, o falecimento de alguém é sempre visto com pesar .

E deixar de existir é a grande charada da morte. Não se trata de apenas abandonar o corpo humano, mas de nunca mais existir para quem ficar, pois Hermione sabia, melhor do que muitas pessoas, que as lembranças eram um castigo. As recordações de nada valiam, senão para atormentar e trazer à memória a realidade de solidão e vazio, deixados pela ausência física de um ente querido.

A morte de uma criança deveria ser proibida. Um sacrilégio para com o significado da palavra "vida" que, de acordo com uma das definições do dicionário, poderia caracterizar um grande período de tempo, mas que para Vic não seria mais do que quatro anos.
— Como assim? — Foram as duas únicas palavras, um tanto débeis e sem aprofundamento, que saíram dos lábios da brilhante Hermione Granger.
— Não era Neville na lareira, senhorita, mas alguém sob o efeito da poção polissuco, pelo que pudemos analisar previamente . Não sabemos como nem por que, mas conseguiram entrar no Banco de Sangue. A senhorita bem sabe como isso sempre foi considerado...
—...Impossível — Hermione continuou a frase que ela mesma havia dito no discurso de abertura do Banco de Sangue.
Um único feitiço ainda selava a casa, muito poderoso e o mais antigo dentre as famílias de sangue puro, o Sanguis familiae. Hermione sabia que a maioria das famílias tradicionais do mundo mágico utilizavam tais encantamentos a fim de nunca perderem seus direitos sobre a propriedade, o que era muito comum no período de caça às bruxas. Sendo assim, algumas proteções colocadas sobre a casa poderiam ser facilmente desativadas se um membro  da família tocasse as paredes da Mansão, ou depositasse uma gota de seu sangue nas imediações.

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