Dragão

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*Atenção! Como sempre, os grandes trechos em itálico representam o passado*

Até que um dia eu tive o suficiente

Desse exercício de acreditar

Eu me inclinei e deixei doer

E deixei meu corpo sentir a sujeira

(Pluto - Sleeping at last)

Se em todas as primaveras poderia vê-la, seu desejo era que florescesse o ano todo.

Janice estava ocupada com alguma coisa misteriosa nos últimos meses. Ela sonhava em sair da Inglaterra quando crescesse, e  sempre falava com um brilho nos olhos sobre seus planos de viajar para a França, e a ideia de partir para lá parecia tão real que, por diversas vezes, Draco flagrara-se pensando que ele também poderia viver na cidade das luzes, em algum bairro bruxo e nobre. 

Sentado na mesma cadeira de sempre, esperando seus pais chegarem de mais um almoço, Draco sabia que as horas não passariam mais rápido do que o tempo levado pela velha coruja de seu avô para entregar as cartas que nunca diziam nada de importante.  

Olhou para o imenso jardim pela segunda vez, suspirou, e rumou para o lado de fora. Já havia aprendido a ameaçar Dobby, então o elfo não se atreveria a fazer objeções e lhe daria as chaves do portão, desde, é claro, que o garoto voltasse antes de seus pais, o que ele sempre fazia não por obediência ou respeito ao criado, mas por medo do castigo que poderia receber. 

Marchando pela estrada de terra, sob o aroma sagrado das magnólias que ele tanto adorava, continuou pensando em Janice, e em qual seria a próxima aventura que começariam. Já se conheciam há dois anos, e vez ou outra, fora da estação, se encontravam para pregar peças em alguns moradores da Vila comandada por Lucius Malfoy, caçavam gnomos para a avó de Janice fazer suas poções, e imaginavam, fingiam que viviam em um universo onde podiam ser quem escolhessem. 

— Como você demorou hoje! — A voz alegre e estridente de Janice o pegou de surpresa. A garota havia saído do meio de uma camada espessa de arbustos, e Draco deu um grito. 

— Garota idiota! Como se atreve a fazer esse tipo de brincadeira? — ele vociferou— Isso pode matar uma pessoa! E eu sou muito importante na minha família para morrer tão cedo. 

Janice revirou os olhos. Estava mais do que acostumada com o jeito rabugento dele, então continuou caminhando sem se preocupar com os resmungos de Draco, que a seguia, como sempre. 

— Aonde vamos hoje? — ele perguntou ríspido, mas curioso. 

— Hoje vou te apresentar minha casa. Tenho um presente para você. — Janice respondeu animada. 

—x—

Todas as vezes que ela visitava aquele local, não deixava de admirar a grandiosidade e imponência de cada detalhe.  O imenso lustre de cristal, pendurado no centro do hall de entrada, dava um ar aristocrático e senhorial à Mansão Malfoy. As cores escuras, que ainda persistiam em alguns cômodos, davam o tom lúgubre, tétrico e sombrio, digno da família que se perdera nas promessas perversas de um Lorde que agora jazia morto, junto com suas convicções. 

 Algumas estátuas de  mulheres francesas cobertas por uma espécie de véu, e o cheiro das poções, proveniente da pequena saleta que ficava num apertado apêndice no canto mais escondido da sala, dava o ar de mudança que o antigo lar dos Malfoy precisava. Agora o lugar era um banco de sangue, que recebia doadores de todas as espécies. Visto de fora o local ainda se assemelhava à residência de Lucius, Narcissa e o único filho do casal. Mas, no interior, uma estrutura hospitalar fora montada a fim de receber bruxos debilitados pela perda abruta de sangue.  

ConstelaçãoWhere stories live. Discover now