Escuro

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Present all your pretty feelings

May they comfort you tonight

(Mumford & Sons - Believe)

Fleur e Gui estavam apoiados um no outro, e Molly Weasley já parecia não ter mais lágrimas nos olhos, apenas a secura deixada pelas muitas horas de choro, desespero e completo inconformismo. A família não precisava de mais um luto. Não depois de terem perdido dois membros tão jovens. Era como se a morte invejasse a juventude dos Weasley, sempre muito vívida e repleta de alegria.

O caixão era pequeno, branco e decorado com pedras azuladas, como os olhos de Vic. A tinta que revestia a pintura brilhava demais sob o céu indeciso, que não sabia se cobria o dia de nuvens ou expunha o sol quente e castigante.

- Eis aqui, o lugar para onde um dia nós voltaremos. Todos cumprem sua missão na terra e para cá voltam. Vic era jovem, mas isso não a impediu de ensinar a todos o real significado da alegria, da pureza e afeto que só as crianças podem oferecer. - O cerimonialista proferiu o que parecia ser um discurso ensaiado, repetido em todos os funerais, talvez com uma ou duas modificações.

Hermione estava ao lado de Harry e Gina, não os consolando, mas igualmente chorando a perda de mais um Weasley. Seu coração parecia atado em tiras de elástico, sufocado, impedido de bombear o sangue para o cérebro.

E então o momento dos presentes entregarem sua lembrança ao morto chegara. Era uma tradição dos Delacour. Todos deveriam deixar um presente - que não fossem flores - no caixão do ente falecido, para que ele nunca se esquecesse dos entes queridos durante e após a passagem que faria para o outro lado.

Hermione deixou um livro de poções cheio de rabiscos feitos por Vic. A garotinha, aos quatro anos, era muito inteligente, dizia saber de cor todas as poções descritas no velho exemplar e por isso fizera suas anotações, assim como a "Tia Hermione" fazia nos seus. O livro havia sido um presente de Minerva McGonagall, mas, segundo a diretora, era uma velharia com significativo valor emocional, antigo e pouco explorado, bastante ultrapassado em alguns pontos. Por isso Hermione não se zangou tanto.

Quando deixou o livro no compartimento reservado para as lembranças dos vivos, a frase "la mémoire de la vie", que estava gravada em letra cursiva dourada, misturou-se como uma tinta sendo diluída, e formou o nome de Hermione Granger.

- Vic adorava este livro. - Fleur falou, colocando ambas as mãos no ombro de Hermione.

- Dentre todos os mapas, ingredientes e cadernos que emprestei para Rony quando ele foi viajar, este livro foi única coisa que ele trouxe de volta da viagem. Vai ver ele trouxe para ser dela.

- Ela amava vocês dois, Hermione. - Fleur falou, fungando e dando vazão à uma onda de choros e soluços.

- Eu sei... - Hermione falou numa voz abafada, sentindo as lágrimas salgarem seus lábios. Enquanto abraçava Fleur, não pôde evitar a sensação de culpa por ter desaparecido da vida dos Weasley por tantos anos.

-x-

Azkaban era uma prisão pequena, se vista de fora. Por dentro, contudo, era grande e velha. Alguns locais eram muito bonitos, como as salas dos diretores anônimos e dos profissionais da prisão; locais arejados, confortáveis, iluminados e perfumados. Havia um lanche para todos os funcionários de Azkaban a cada três horas

Draco sabia de tudo isso porque passava algumas de suas muitas horas vagas conversando com Feggis. Ajudava, às vezes, ter alguém com quem falar. Sentia falta da luz, do calor, do som de vozes sãs; conversar com alguém que demonstrava o mínimo de preocupação fazia com que ele esquecesse um pouco da frieza e silêncio que a noite trazia.

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