Fortuna ¹

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Bem, eu já estive aqui antes
Sentei no chão em um quarto cinza, cinza
Onde passo o dia todo

(Grey room – Damien Rice)

Março, 1997

Alguns raios de sol tímidos invadiam o quarto. Os tons berrantes de laranja, realçados pela luz da grande estrela matinal, machucavam os olhos de Hermione, e os pôsteres animados dos Chudley Cannons deixavam-na ligeiramente tonta, mas ela não estava incomodada, por mais atípico que isso pudesse ser.

Seu fim de semana estava mais próximo de “absolutamente perfeito” do que ela poderia imaginar. Um quarto apertado e quente, uma cama pequena demais para dois corpos, e Ronald Weasley numa posição que evidenciava seu tórax largo e definido pelos muitos treinos de quadribol.
Apesar dos recentes acontecimentos, Hermione tinha fé em Dumbledore, acreditava naquele homem tanto quanto Harry e, se a ordem de comando era para que se separassem, ela não questionaria, apenas trabalharia duro a fim de salvar o maior número de pessoas que conseguisse.

Ainda era cedo, mas Molly já havia acordado e preparava o café da manhã, de longe podia ser ouvida, resmungando com algumas panelas e discutindo com Arthur aos cochichos sobre a tal missão secreta de Harry, Rony e Hermione.

A garota que já havia despertado por completo apanhou as roupas que estavam jogadas no chão e fez menção de se levantar, mas, antes de fazê-lo, quando agachou-se para pegar o sutiã na cabeceira da cama, sentiu as mãos de Rony alisando suas omoplatas e toda a região do pescoço.

— Pensei que estivesse sonhando. — Ele disse em voz baixa. Havia calor e sinceridade em sua fala. Hermione sentiu um frio na barriga.

— Estou aqui.

— Sabe, ainda é cedo... A gente pode ficar aqui um tempo antes de começar empacotar as coisas.— Rony disse sem interromper os carinhos.

— Não pretendo encher minha bolsa com mais do que o necessário. — Hermione falou pensativa — Na carta Dumbledore assegurou que cuidou para que nada falte por um longo período, mas ainda estou um pouco insegura. Não me agrada a ideia de nos separarmos...

— Dumbledore sabia o que estava fazendo. Ele confiou a cada um de nós uma missão específica porque sempre acreditou em nossas habilidades. Você ficará com a parte mais difícil, Mione... No olho do furacão.— Rony correu os dedos pelos cabelos — Se eu pudesse ficaria aqui.

Hermione afastou-se de Rony e começou a recolher suas roupas, vestindo-se com a pressa de alguém que não quer ter uma conversa longa, mas logo retornou diante do namorado, como se ficar longe dele fosse uma atitude imbecil, haja vista a separação iminente.

— Quero aproveitar o tempo que temos. — Ela sussurrou, encostando a ponta de seu nariz no de Rony,o fazendo sorrir. — Chega de preocupações.

— Você está certa, como sempre. — Ele falou, apoiando as mãos na nuca de Hermione. — E meu estômago diz que Molly Weasley já pôs o café da manhã na mesa.

As bases da casa eram sólidas, mas Hermione sempre ficara apreensiva em descer desacompanhada a passos tão ligeiros como Rony fazia. Ele, sempre que se lembrava disso, tentava compreender o receio de Hermione e segurava a mão da namorada. Ela fora criada numa casa perfeitamente construída sob os moldes da arquitetura trouxa, em um ambiente silencioso e muito organizado.

Desta vez, porém, Rony não segurou a mão de Hermione, mas carregou-a em seu colo, fazendo com que ela lhe desse tapas inofensivos e pedisse para que ele a soltasse entre risos e apertões.

ConstelaçãoWhere stories live. Discover now