Pecados e rupturas - Pt. II

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Dois dias após a visita de Harry, Hermione decidiu que era o momento de afastar-se das suposições e partir para a ação. A ilha era o fio de esperança que, de alguma maneira, mantinha-a conectada às respostas. Rony não retornaria dos mortos, mas ela sentia que colocaria um ponto final em suas indagações constantes.

Pela manhã tratou de espantar as próprias divagações sobre fidelidade e beijos ardorosos em alguém cujo nome os próprios lábios tinham dificuldade de pronunciar, por vergonha, ou medo de que soassem bem e ela acabasse se acostumando. Sua mente trabalhava rápido demais, e como se estivesse cometendo o pior dos pecados, ela tocou o peito com reverência, silenciosamente pedindo perdão à memória de Rony.

O vento dava a direção às últimas folhas multiformes e multicoloridas. Elas dançavam num ritmo aleatório, assim como as flores já mortas, que se despediam do outono, se arrastando em direção aos bueiros. Hermione segurou com força o único objeto que ainda a mantinha conectada ao falecido namorado, a mochila. No anelar direito havia colocado o anel de brilhantes que havia encontrado entre as cartas e roupas avariadas, ciente, em seu íntimo, de que aquele era um ato desesperado na guerra contra o próprio subconsciente, que parecia ter prazer em sabotá-la.

As ruas do lugar eram anormalmente arborizadas, contornadas por troncos majestosos que remontavam a épocas sequer imaginadas por quaisquer moradores da região. Havia anos que Hermione não se colocava diante de uma paisagem tão viva e colorida, pois seus olhos não mais se recordavam das cores que fugissem à paleta sombria composta pelas nuances taciturnas do preto, marrom e roxo. As cores mais vívidas se escondiam da região de Azkaban, e como que por respeito, Hermione também as evitava naquele ambiente nada acolhedor, prezando por roupas sóbrias e tristes.

A cor da qual ela mais sentia falta era o verde. Em algumas árvores era possível visualizar folhas resistentes, cuja predominância era o verde, puro, forte e vívido. Embora fosse a marca registrada da casa das serpentes, aquela era sua cor favorita, segredo que guardou por muitos anos, até finalmente admitir a si mesma, quando recebeu de presente o casaco verde floresta de sua mãe. Na ocasião Rony já não estava mais vivo, e Jean Granger tinha dificuldades em lidar com as emoções da filha, de modo que o casaco era uma maneira – frágil – de se fazer presente e dizer que se importava.

O vento também balançava os cabelos de Hermione. Enquanto caminhava ela contemplava os grandes edifícios trouxas, em especial um que ainda não havia sido concluído, mas que prometia ser o maior de todos ali. Como a viagem não era oficial o transporte trouxa também foi a opção da vez, nele era possível contemplar cada pessoa que entrava e saía, algumas estavam apressadas, outras sorrindo; havia quem estivesse distraído, preocupado com um filho ou filha que ainda não voltara, ou o emprego que estava ameaçado.

Hermione tinha medo do futuro, por isso nunca pensava muito no que viria a seguir. Pensar no dia seguinte sempre culminava em rompantes de lágrimas e desespero, crises de ansiedade que a consumiam de dentro para fora.

O motorista do taxi era um homem quieto, mas muito cortês, fez algumas observações sobre o tempo louco que fazia em Londres e logo se calou quando percebeu que Hermione não estava inclinada aos diálogos triviais. A mente da medbruxa concentrava-se em não se perder, pois desceria nas imediações do arquivo nacional do Ministério da Magia, onde todos os nascimentos de crianças bruxas eram registrados. O prédio era um anexo mágico do St. Mungus, raramente frequentado,mas bastante útil. Em acréscimo a isso, a pessoa com quem deveria falar não soltaria fogos de artifício ao vê-la, mas Hermione tomara as devidas precauções e comunicara sua visita, formalizando o pedido de vista aos dados de três pessoas em caráter de urgência.

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