Chegada - Parte II

424 35 34
                                    

Quando a balsa atracou na ilha escura e tétrica, Hermione sentiu uma espécie de enjoo, falta de ar, infelicidade e o típico frio que somente os dementadores poderiam causar. As águas bravias eram assustadoras, mas eram o menor dos problemas, visto que a prisão, após seis anos, não havia melhorado em nada. A aparência da construção era de um local há muito castigado pela miséria, abandono e desolação. Era como se Hermione pudesse ouvir o grito das almas submergindo das entranhas de cada dementador.


- Não se preocupe Doutora Granger. A senhorita está fora de perigo. Estes camaradas aí somente atacam sob as ordens dos aurores. - O homem de cabelos rareados e largas rugas ao redor dos olhos falou, enquanto iluminava o caminho com a sua varinha.- A propósito, sou Anthony Feggis, e ser guia não é bem a minha função. Trabalho no ambulatório, e devo dizer que a senhorita chegou numa boa hora. Estou acumulando pelo menos cinco funções por aqui com essa falta de funcionários.

O homem sorria com facilidade, apesar da carranca que exibia quando fora buscar Hermione na cidade vizinha. Ela imaginou se aquilo não seria uma característica a ser desenvolvida, ou forma de proteção: "Quanto mais infeliz e ranzinza você parecer, menos os dementadores se interessam pela sua alma".


Ambos seguiram caminho pela areia fina e úmida, sem trocarem muitas palavras. Conforme andavam e Feggis murmurava uma série de encantamentos, desenhando runas no chão, Hermione notou que o lugar se transformava. Já não estavam mais pisando em areia, mas numa mistura de rochas escuras e opacas, como se uma calçada houvesse se formado, e junto dela, um portão brotou do solo, o mais alto e mais assustador que Hermione já vira em toda a sua vida, especialmente por duas gárgulas que mais pareciam a versão piorada do cruzamento entre um sereiano com algum anjo de catedral.

- Aqui, senhorita, precisa usar este amuleto. Não é de bom tom conjurar patronos corpóreos logo de cara. Os dementadores entendem como um insulto...


- Obrigada, Sr. Feggis - Hermione, intrigada, contemplou por alguns segundos o objeto que o homem lhe oferecia, antes de apanha-lo e coloca-lo em volta do pescoço. Era uma espécie de colar[1] com um pingente arredondado de interior transparente, que parecia um relicário.


- Agora conjure o seu patrono e o convença a entrar no amuleto. - O homem instruiu, vendo que ela parecia confusa a respeito da utilidade do objeto.

Hermione concentrou-se em sua memória mais feliz, mas a proximidade da prisão não permitia que a lembrança se completasse. Uma sensação de angústia e medo se apoderava de seu ser. Buscou então, com mais vontade e determinação, a lembrança do dia em que fora informada de sua admissão imediata no Instituto Dillys Derwent.

Uma lontra prateada escorregou da ponta da varinha e rodopiou pelo ar, correndo em volta de Hermione, iluminando metade do caminho que ficara para trás. Com apenas um sussurro, sem saber se estava fazendo certo, a jovem chamou a lontra, convidando-a para entrar no amuleto, o que o animal prateado fez sem hesitação. Em poucos segundos, assim que o pingente tocou seu peito, uma sensação de alegria e tranquilidade amornou seu coração, como há muito tempo não possuía, mesmo longe dos dementadores, mesmo nas reuniões de família ou amigos. Poderia usá-lo pelo resto de sua vida, se isso significasse boas noites de sono, e um pouco de paz.

- Podemos entrar, Doutora? - A voz de Anthony Feggis despertou Hermione, já perdida em suas divagações. - Daqui a pouco começará a ventar ainda mais, e não há patrono que possa nos proteger das rajadas da Ilha de Azkaban.

Hermione aquiesceu, seguindo novamente o homem que havia guiado seu caminho pelos últimos quarenta minutos. Talvez pudesse se dar bem com Anthony Feggis. Ele parecia um homem correto e decente, seus olhos refletiam a bondade típica de pessoas mais velhas que tratam os mais jovens como filhos. Hermione prometera a si mesma que, tão logo se acomodasse em seu posto de trabalho, trataria de conversar com Feggis, para saber como as coisas funcionavam ali na prisão e, eventualmente, colocá-lo como um dos representantes do projeto de Agosis Pertindum. Quanto mais rápido saísse daquele lugar, melhor, mas antes precisava de alguém confiável para entregar uma função tão prestigiosa; Anthony Feggis parecia ser a pessoa certa.

ConstelaçãoUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum