Vestes novas

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I apologize, I made mistakes but I tried

You're no different than me

But you know too much.



Morna como uma taça de vinho de má qualidade deixada propositalmente em cima da mesa em um restaurante. Perfumada como o canteiro de Narcisos que seu pai cultivava na janela do sombrio e inacessível escritório. Não era só o perfume, ele sabia, mas o sabor que muito lembrava as loções aromáticas que a mãe espalhava pelo quarto de hóspedes. Ela tinha o gosto travado de loção hidratante quando em contato com as papilas gustativas. Ele sabia disso porque havia percorrido toda a pele dos ombros e pescoço com a língua, deixando a marca quente dos lábios no lóbulo da orelha, onde se deteve por poucos segundos antes de tocá-la no centro do prazer com os dedos anelar e médio.

Não havia ninguém no quarto, apenas a cama branca, uma porta e a luz de duas lamparinas se extinguindo conforme as respirações se tornavam mais aceleradas e o suor tornava os corpos levemente escorregadios.

Ela estava arfante, com os pés entrelaçados sobre o corpo dele, prendendo as costas e os quadris com força e ferocidade. Pedia por mais, silenciosamente, arranhando-o e ele prontamente atendia os gemidos e arranhões silenciosos, demonstrativos do prazer e culpa que preenchiam o corpo dela, aumentando as estocadas e sentindo-a pulsando por dentro, apertando-o e levando todo o seu sistema nervoso ao colapso.

Granger.

Num flash que ele sequer notaria, não fosse a mudança abrupta de cenário para o que deveria ser um pântano ou talvez um cemitério, o rosto pálido e cadavérico de Lucius Malfoy apareceu ao lado do filho e o apunhalou no estômago. As únicas palavras que Draco conseguiu distinguir em sua própria dor e o sabor de sangue e vômito eram "Traidor e escória". O cheio de carne podre e folhas mortas ficou em suas narinas, impregnado, mesmo enquanto se revirava e tentava escapar das mãos de seu pai que pela aparência e odor encontrava-se em avançado estado de decomposição. Pedaços dos dedos caíam no buraco que se abria na barriga de Draco e ele conseguiu ver pequenas coisas se movendo entre a carne pútrida e fétida das mãos brancas e esfaceladas do homem que deveria estar enterrado há mais de seis anos numa vala comum.

Granger, que ainda estava nua, arregalou os olhos em uma expressão de puro horror, foi puxada pelos pés por uma criatura flácida saída de dentro da boca de Lucius. As garras do ser repugnante arrancaram pedaços generosos de carne e ossos do corpo dela. Draco conseguiu ouvir o barulho que poderia, numa frágil e pobre comparação, ser confundido com o som de vários ossos de galinha sendo partidos ao mesmo tempo pelas mãos de um gigante. A conhecida cicatriz no antebraço dela expelia filetes de sangue em cada letra. Sangue ruim, e as palavras brilhavam, vívidas como se fossem recentes.

E então ele acordou, sentindo o coração pulsando na jugular e vez ou outra no peito, como se o órgão tivesse um par de pernas e se locomovesse ao longo de sua cabeça e pescoço.

Draco lavou o rosto na pia da cela e voltou para a cama, sentindo certo desconforto ao se sentar. O pesadelo havia sido, em suma, repugnante e assustador, mas não podia negar que a sensação -ainda que apenas em sonho - de fazer sexo havia sido, sem dúvida alguma, a melhor parte, pois o sonho lhe parecera real o suficiente, a ponto de seu corpo responder o estímulo mental que a lembrança havia lhe causado.

Granger, Granger, Granger.

O sobrenome tinha uma cadência maligna. A última sílaba parecia enroscar entre o palato e os dentes superiores. Era um vício pronunciá-lo, por ódio, por fixação, por nenhum motivo aparente. O veneno ardente da vergonha pinicando e carcomendo a pele, os ossos e a alma. Estava preso na língua dele.

ConstelaçãoWhere stories live. Discover now