Capítulo 29

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Postei antes porque a @lolly me pediu com tanto carinho.


Cairon,

Deitado aqui em minha cama, tentando não me vencer pelo desejo de ligar para ela, de ir ao seu encontro. Mas pensei bem nas palavras do Murilo. Por isso estou aqui.

Que sentimento foi aquele que senti ao ver o Heitor segurando a mão dela, entre as dele. Não pode ter sido ciúmes, por que era mais para doloroso que qualquer outra dor que eu já seti.

Quando entrei no carro o Murilo começou a falar em código para que o Pietro não entendesse tudo.

- Ficar em silêncio não vai te ajudar. Só vai piorar a situação. Eu não respondi. - Era assim que eu bloqueava minhas emoções e sentimentos. Através do silêncio.

Deixamos um Pietro menos indignado em casa. Aquilo também foi terrível.

"Não" – O pobrezinho gritava enquanto me chutava descontrolado. "Ele pode até ser namorado da minha mãe, mas não é meu pai de verdade. Você disse que seria meu pai para sempre. Está dizendo isso por que quer me abandonar".

Expliquei a ele, de o avô não ter aceitado que o pai se casasse com a mãe. Falei com carinho também dos meus equívocos, ao achar que poderia amar a ele e a mãe ao ponto de que ela me amasse por meu gesto.

- O papai foi errado. Agora você tem a oportunidade de conhecer seu pai verdadeiro. E eu também continuarei sendo seu pai como prometi.

Mesmo assim, mesmo eu colocando amor e carinho em minhas palavras, mesmo ele tendo visto as lágrimas nos olhos da mãe e o nervosismo nas mãos do pai que embolavam uma na outra ele não conteve sua crise de choro e saira correndo.

Não o culpava. Não tinha escolhido isso. Todos nós tivemos escolha. Menos ele. A mãe fizera más escolhas, o avô fizera péssimas escolhas, eu fiz minhas escolhas, que também foram terríveis, e o pai também havia feito suas escolhas, mas ele não. Simplesmente havia nascido, onde todos haviam feito as escolhas por ele. E agora, não estava sendo diferente. Ninguém estava dando a ele opções. Estávamos somente jogando sobre ele uma realidade nua e crua e pronta. Ele que a vivesse.

Corri atrás dele e foi onde achei melhor levá-lo para tomar um sorvete e espairecer antes de voltar para casa.

Maldita hora em que entrei naquela sorveteria. Maldita hora em que eu passei de frente aquele ponto de ônibus.

Olhei o celular tocando se eu contei bem, essa seria a quadragésima quinta vez que ela chamava e eu não atendia.

O Murilo conversou muito comigo depois que saímos de lá. Ele sabia que minha vontade era de socar o Heitor até ele perder os dentes todos.

- Sabe que o Heitor não está errado. - O Murilo tinha começado. - Ele não sabe sobre vocês. Se soubesse com certeza não faria isso. Eles te respeitam muito. Sabe disso.

- Eu sei.

- Eu sou da opinião que a gente sair de um relacionamento e entrar em outro não dá certo. Além do mais ela está radiante com você, por quê? Qual mulher não ficaria? Você é um bom partido, o único homem que ela conheceu desde que chegou aqui, e faz tudo para ela. Como não se apaixonaria? Mas é aquela paixão de gratidão. Até eu me casaria com você Cairon caso não gostasse tanto de mulher.

- Você não entende.

- Claro que entendo e a culpa não é só dela. Você não deu tempo desde que a conheceu. Sempre perto sempre solícito.

- Ela estava precisando de ajuda!

- E agora está grata. Só isso. Mas gratidão não sustenta relacionamentos.

- Chega.

- Bom... Está entregue. Está ficando só com o pessoal da PF na porta do prédio. Se quiser sair terá que me ligar. Mas pense bem antes de correr para os braços dela para afogar sua carência. Conhece aquela história em que o suicida nunca quer morrer e sim acabar com sua dor? Assim está você. Quer acabar com seu sofrimento e solidão. Mas vai acabar morrendo.

Ele tinha razão em dizer que eu iria acabar morrendo. Mas não era tentando acabar com a solidão. Iria morrer se tivesse que me afastar dela nesse ponto ao qual chegamos.

Esforcei-me para dormir, mas a noite não estava me ajudando. Não mesmo.


A Amante do Juiz! (Degustação)Where stories live. Discover now