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Mas você não tem que me excluir,
Fazer como se isso nunca tivesse acontecido e não éramos nada.
(Somebody That I Used To Know - Gotye)

Sebastian - presente

Se tem uma coisa que me arrependi de ter feito na vida foi de ter escrito aquele bilhete. Eu ia deixar só o dinheiro, para que ela comprasse algum sorvete como consolo da minha partida, mas pensei nela chorando e comendo a iguaria árabe, e tive a brilhante ideia de escrever aquela droga para que ela não se lembrasse de mim. Remoo cada palavra cada dia mais.

Mas a vida me deu uma segunda chance.

Minha família voltou para o Nebraska após anos indo para leste e oeste. Eu fincado no Kansas, viajando só com o meu time. Quero dizer, nesse momento aproveitando o início tranquilo da temporada para dar um pulo em Lincoln. Vou ficar com a Britt um pouco, não faço isso com muita frequência porque cada ano ela estava em um lugar e eu não me sentia confortável indo para lá e para cá sem ser para jogar. Mas Lincoln era sinônimo de casa. Minha família está aqui, minha irmã está em um time onde eu não tenho que me segurar para matar o capitão. E acho que a Marianne está aqui também, então casa ao cubo. Tirando o fato de que o lugar onde minha família mora não é onde moramos antes, mas não posso exigir uma viagem ao passado para concertar as merdas que fiz. A pior delas, nos últimos tempos, foi pedir a mão da Indiana em casamento.

Me acomodei na casa dos meus pais. Era um lugar bom, confortável e com espaço para um jogador. Reencontrei minha irmãzinha, que não era tão "inha" assim mais, mas não largarei o apelido nunca. Ela saiu para uma festa da escola depois disso, baile de outono eu acho, e fiquei sozinho em casa. Sentei no sofá e liguei o celular. Como o pedido de casamento só aconteceu há algumas semanas, tento ao máximo fugir das confusões de Kansas City. Essa é a grande razão de eu estar aqui. Não a amo, é em prol da minha imagem, deteriorada pelas noites de festa dessa off season, que começou lá em janeiro e termina daqui alguns dias. Estou atrasado porquê me contundi e tive que ver o médico do time antes de jogar. Li alguns e-mails, respondi mensagens, até a Brittainy ligar pra mim.

—Oi Britt.

—Sebastian? — definitivamente, não é a Brittainy. — Aqui é o capitão da Brittainy, ela passou mal na festa, você pode vir buscá-la?

—Já estou indo.

Eu sabia onde era a escola dela. Eu estudei lá. Foi onde conheci a Mary-Ann também, não dá pra esquecer dessas coisas. Desci do carro e vi quem era o tal capitão. Vacilei.

Zack Derren. Irmão da Marianne. O cara era um pirralho quando fui embora, e agora está carregando minha irmãzinha como se ela fosse um pote de vento. Ele cresceu muito, droga, eu saí daqui faz mais de cinco anos, afinal. Meio confuso, agradeci-o por cuidar da Britt e a levei para o hospital mais próximo. Como estava desmaiada, entrou direto para a emergência, e foi examinada em uma sala privativa.

—Doutor O'Callaghan, preciso do senhor na sala... — uma enfermeira abriu a porta, mas parou de falar por algum motivo. Me virei para vê-la, e também perdi a fala.

Minha Mary-Ann? Não posso acreditar. Quase chorei.

—Sim, Derren? — o médico perguntou, atrapalhando minhas lágrimas.

—Sala 6, código vermelho.

—Droga. Atenda a menina aqui, faça a ficha e chame o médico responsável pelo problema que você encontrar.

Ele saiu correndo e ela engoliu em seco, caminhando em direção a Brittainy e a examinando, sem olhar pra mim.

—A paciente apresentou algum sinal de fraqueza, tontura, ou mal-estar antes de desmaiar? — perguntou de maneira profissional.

Amor Interceptado - Série Endzone - Livro 2Where stories live. Discover now