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Meus ex's e oh's,
Eles me assombram.
(Ex's & Oh's - Elle King)

Marianne

Novembro se arrastou como o tempo de um criminoso no inferno. Devagar, dolorosamente, e muito, muito frio. Tá, a última característica não é própria do lugar em questão, mas cada dia que saí de casa eu sentia minha pele queimar de uma maneira diferente, o que, presumo, traz uma semelhança. O Zack pegou a mania de ver os jogos do Chiefs também, não bastasse os Chargers. Ele via os do time do Kansas só pela Brittainy, que só vê pelo irmão. A garota é namorada dele, ele só não admite. A pior parte dessa nova mania foi a que passei a ser obrigada a ver a cara do Sebastian todo domingo. Nem Jesus eu via todo domingo e tenho que ver ele.

—Ah cara, não, por aí não! — meu irmão gritou vendo o jogo.

Desci para ir trabalhar e consegui a atenção do Zack.

—Você vai trabalhar de novo hoje? Quando vai tirar férias?

—Não sei, tenho a sensação de que precisarei delas para alguma coisa em breve. Se cuida!

Foi uma noite movimentada. Os pacientes do código preto estavam na minha ala, então os atendi bastante. Tinha um cara bonito pra caramba, cujo fui ajustar o cateter.

—Você já teve a sensação de que sua vida estava perdida, enfermeira? Que você não pertence a nenhum lugar e nem a ninguém?

—Ainda estou perdida, não é uma sensação. — sorri tristemente.

—Eu estava indo pedir minha namorada em casamento. Pouco antes do acidente, um amigo mandou uma mensagem dizendo que a amava, e que sentia muito por mim, mas que ele tinha pedido primeiro e ela aceitado. Entrei no ônibus em busca do resto da minha vida, e foi a morte quem me abraçou.

Geralmente me desligo da falação dos pacientes, mas me identifiquei com esse.

—Há alguns anos conheci alguém especial. — contei — Pensei que era pra sempre, desejei que fosse, me entreguei de corpo e alma, para ser dispensada como nem uma pessoa que trabalha com isso mereceria, depois que ele tirou minha virgindade. Me perguntei demais onde foi que errei, e porquê as coisas não podiam dar certo pra mim. Nunca tive a resposta, mas não precisei. Conseguir acordar todos os dias já era o maior trunfo. Afaste quem faz parecer que acordar é um martírio, é a dica que te dou.

—Quem foi o louco? Você é bonita e legal, enfermeira. Não deixe esse cara estragar a história que o mundo guarda pra você. Esse acidente me mostrou que eu não posso me prender às pequenas coisas ruins, porquê você pode estar preso à uma quando partir. E acredite em mim, pelo menos dez pessoas naquele ônibus guardavam um tipo de rancor. É meu maior medo, sabe?

Dei uma risadinha.

—Morrer irritado com alguém? É a primeira vez que escuto isso. Geralmente o maior medo é só da morte ou de agulhas.

—Acredito que levar um sentimento ruim para o outro lado não seja uma coisa boa.

—Eu também não. Por isso já perdoei o louco. Seu cateter está pronto. Não encoste nele, por precaução.

—Enfermeira? Se o louco não te quiser, saiba que moro aqui perto. Na verdade não é tão perto, mas não é no Canadá também. Procure por mim se algum dia você for pra Kansas City. — piscou.

Ótimo, vida. Ótimo.

—Se por ventura eu for parar em Kansas City, procurarei sim, Leo. Descanse um pouco agora.

Recebo convites do tipo todos os dias, mas um convite de um cara tão bonito e legal é a primeira vez. Quem sabe eu não o procure em um dia que o Sebastian estiver na Chechênia? Quando entrei em casa de manhã, o Zack estava na sala.

Amor Interceptado - Série Endzone - Livro 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora