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Estou aqui sem você, amor,
Mas você ainda está na minha mente solitária.
(Here Without You - 3 Doors Down)
Marianne

Reencontra-lo não foi nada como imaginei. Achei que teria um ataque de pânico ou de fúria, mas os anos de acompanhamento psicológico se mostraram presentes na minha sobriedade ao lidar com o cara que massacrou meu coração. Quis rir quando ele perguntou dos namorados, jogar o café na cara dele e dizer "você me fez querer ser freira". Torturei ele com cinco minutos de papo sobre outros homens, a cara dele pagou por todos os erros.

—Há quanto tempo você trabalha aqui? — ele perguntou depois de ficarmos um período em silêncio.

—Desde que entrei pra residência. Estar com os meus pacientes é o que me mantém de pé.

—E você trabalha quantas horas por semana?

—Geralmente oitenta, seis dias na semana. Às vezes mais, raramente menos. Trabalho de noite, durmo de dia. Costumo virar duas madrugadas aqui, dormindo nos intervalos.

—Espera. Oitenta significa seis turnos de doze horas, tirando os dias que você vira o dia, faltam oito.

—Eu encaixo na manhã ou chego mais cedo de noite. O Zack já é grandinho.

—O filho da puta está de olho na Brittainy. — gralhou.

—Você sabe que ele me chama de "mãe", né?

Ele me olhou confuso, e vi o peso da palavra cair nas costas dele.

—Me desculpa, Marianne, eu não consigo engolir que tem um monte de urubus em cima da minha irmãzinha. Não era pra soar assim... de novo.

—Ela cresceu, aceita. Dói menos. Dei todas as camisinhas que eu tinha para o Zack, aceitei que ele cresceu e que precisava delas mais do que eu.

—Essa é uma conversa que eu realmente não quero ter.

Ia perguntar que tipo de conversa ele queria ter então, mas não tive tempo.

—Marianne, código preto! Código preto! — o neurologista do plantão gritou.

Claro, tudo que eu precisava era de uma sala de emergência lotada e pacientes morrendo.

—Você assiste a série? — perguntei enquanto levantava.

—Não, o que está acontecendo?

—Algum acidente, a sala de emergência está lotada. Assista depois.

Me virei e saí correndo para ir salvar o máximo de pessoas que pude. Um ônibus tinha chocado violentamente contra outro, o número de ferimentos graves era maior do que qualquer outro que vi na vida.

—Rupert! Desocupa o leito 6, não é tão grave. — mandei.

Era uma loucura quando o código preto era ativado. Médicos e enfermeiros faziam de tudo para salvar quem podiam. Eu só via mais gente chegando, e mais gente e fiquei um pouco tonta. Abandonei os casos sem volta com o coração pesado, e foquei nos que precisavam de mim. Uma menina com um ursinho na mão chamou minha atenção, ela se parecia com a Gwen, minha prima.

—Oi querida, a tia pode segurar o ursinho para examinar você?

—Não. A mamãe me deu o ursinho. Cadê a mamãe, tia?

—Como ela é?

—Ela morreu, eu vi, mas cadê ela?

Ah, meu coração. Ela parecia tão concentrada em querer ver a mãe, que tudo que consegui responder foi:

Amor Interceptado - Série Endzone - Livro 2Where stories live. Discover now