Capítulo 6

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Gael,

Lógico que eu merecia ter sido tratado daquela forma. Mas foi a única vez. A primeira e única vez que aquilo acontecia.
Sempre que eu queria me divertir eu tinha onde buscar. Havia no Rio de Janeiro mulheres que adoravam estar a minha disposição e outra metade querendo ser a senhora Duarte. O que estava fora de cogitação. Agora.... O que mais tomava minha atenção naquele momento, era a pequena. Parecia estar se acostumando comigo.
Assim que o telefone toca, eu reconheço o número.
- Pai?
- Deus abençoa. – Havia perdido aquele costume com ele. Não tinha mais tanta intimidade com meu pai, desde que ele resolvera se casar novamente.
- Algum problema?
- Só estou comunicando que estou mudando meu testamento, caso tenha interesse em saber.
- Não precisava ligar. – Não me interessava. Eu tinha prosperado com o que minha mãe havia deixado. Não precisava de mais. Eu tinha certeza de que ele estava se não me deixando fora, deixando para mim o mínimo possível.
A Sant'Ana era minha maior fonte de lucro. E lucrava mais que ele podia imaginar.
- Não quero que quando eu vier a morrer você venha contestar minha última vontade.
- Não se preocupe. Não haverá a mínima possibilidade.
E então ele simplesmente desligou!
Ele me culpava por seu casamento com minha mãe não ter dado certo. Ele me culpava por ela ter desaparecido. Me culpava por tudo de mal que acontecia na família. Talvez esse seja o motivo que eu tenha guardado segredo sobre a menina. Eu não gostaria que ele vivesse da mesma forma que eu.
E por falar nisso... Eu esperei por ele por diversas vezes e ele nunca apareceu. Acabou que quem me ensinou a cavalgar foram os capatazes do velho. Eu faria diferente. Eu precisava lutar comigo mesmo para ser diferente.
Sai do escritório e fui direto para o quarto da menina. Ainda dormia. Escolhi uma calça jeans e uma blusa preta, e uma jaqueta jeans.
- Bom dia! – Ela esfregou os olhos e sorriu. Às vezes eu tinha a impressão que ela era muito parecida comigo.
- Mom dia! – E se virou para o canto puxando as cobertas e colocando o dedo na boca.
- Bom dia! – Repeti para que ela entendesse o a letra que havia errado.
- Leite da Karol.
- Leite... Só na cozinha. E depois adivinha o que vamos fazer?
Quando a Gabriela entrou no quarto, ela estava de banho tomado e vestida apropriadamente para nossos planos.
- Me desculpe eu achei que...
- Tudo bem! Eu me adiantei para leva-la para um passeio.
- Está de banho tomado e....
- Sim! E estamos indo tomar café.
- Desculpe, o senhor... Sobre ontem. Quer que eu vá embora? Ainda estou.
- Acha que porque abriu meus olhos para a realidade, eu iria demitir você? – Sorri para ela.
- Mas a Karol. O Banho dela.
- Fica fria, é porque vou leva-la como já disse à você, a um passeio. E não precisa se preocupar. Tire unas duas horas para descansar.
Sai do quarto com a menina nos braços cantando suas canções. Era bem dela cantar tudo o que acontecia.
- Gabi... Gabi... – A música agora só falava o nome da babá.
Tomamos nosso café, e durante todo o momento ela tagarelava com o Pedro. Pedi licença e fui até o quarto trocar de roupa e quando voltei, também usava jeans.
- Vão sair os dois? – O Pedro me olhou dos pés a cabeça.
- Sim! – Tomei a menina nos braços e peguei meu chapéu. Antes de sair encontramos a babá.
- Pepéu! – Ah sim! Pegamos o chapéu dela e coloquei em sua cabeça.
- O Senhor tem certeza de que não precisa que eu vá junto. A Karol pode...
- Fica tranquila!
- Posso saber onde vão. – O Pedro também ficou de pé e colocou o chapéu na cabeça.
- Vou ensinar a menina a cavalgar.
- Cavalgar? – A moça parecia assustada. – Ela só tem dois anos.
- Ela vai comigo.
- Ou comigo. Acha que iriamos deixar a princesa em um cavalo sozinha? Não moça. Fica tranquila. Aqui nós é tudo peão. E o pai aí é bão também. – O Pedro tomou a menina dos meus braços jogou sobre os ombros e saiu como se galopasse arrancando seus gritos e risadas.
Estava saindo, mas decidi ser mais cordial com a babá.
- Não se preocupe mesmo. A traremos sã e salva.
- Espero. – Esfregava as mãos.
Montei o cavalo e peguei a menina, que o Pedro me entregava. E ela não parecia ter medo algum. Sentou-se a minha frente e eu pus o alazão em movimento. E ela gargalhou. Foi uma pequena cavalgada, e logo depois uns poucos trotes.
Mas ela gargalhou sem medo, e sem receio, quando o alazão ganhou os pastos da fazenda. Não era desconfiança, mas o Pedro nos acompanhava de perto.
Na beira da represa eu parei o cavalo, desci e a peguei no colo.
- Um dia tudo isso será seu. – Sei que ela não entendia bem. Mas eu tinha comigo, em meu coração que não queria ser um pai, como meu pai foi. Eu queria e eu podia ser melhor. Terminava ali, toda opressão, toda solidão e todo sofrimento.
Não teria mulher que viria a frente dela em minha vida. Mesmo que algum dia a verdade viesse à tona, e os resultados não fossem os esperados, ela teria à mim para sempre.
- Para sempre!
- Falou comigo Gael.
- Se acontecer algo comigo Pedro, quero que cuide dessa menina, como cuida de seus filhos.
- Deixa de ser besta homem. Que conversa fiada. Vai acontecer nada não "Sô".
Olhei para frente e avistei as terras que não tinham fim.
- Tudo o que é meu será dela.
- Eu sabia que o velho Gael estava aí guardado em algum lugar.
- Vamos para casa. – O Pedro estava tornando o momento um tanto mais sentimental que o necessário.
Assim que retornamos a Gabriela parecia impaciente na varanda e veio correndo ao nosso encontro.
- Está tudo bem! – Só que dessa vez ela foi surpreendida ao estender os braços para a pequena.
- Não Gabi... Gael. – E enlaçou meu pescoço com seus braços minúsculos, encostando seu rosto ao meu.
Eu podia sentir seu hálito quente e um pequeno fio de saliva saindo de sua boca. Beijava meu rosto. Eu só fechei os olhos e apreciei o momento.
Depois desci do cavalo com ela nos braços.
- Vem com a Gabi meu amor! A gente pode brincar um pouquinho.
- O vavalo do Gael.
- Olha só. – Eu a fiz se virar e me olhar. – Vai um pouco com a Gabi, tome banho. Depois a gente almoça e descansar um pouco. Amanhã quando o sol estiver ali. – Apontei para a árvore, onde o sol nascia. Nós iremos novamente andar à cavalo.
Ela entendia bem. Só fazia manhã para conseguir o que queria. Mas bastava explicar e ela entendia o combinado.
E assim, acabou cedendo. Abriu os braços e foi com a babá.
- Obrigada! – Só tirei o chapéu e a abaixei a cabeça.
Elas se foram e eu nem mesmo havia visto o Pedro se aproximar e levar os cavalos para o estábulo.
Agora voltava e falava comigo.
- A menina ficou muito feliz. É assim que gosto de criar meus filhos. Fazendo minha parte de pai, e deixando que a mulher faça a sua de mãe. Pode parecer besteira, mas se os dois desempenharem bem suas funções, o negócio funciona.
- Que negócio Pedro?
- A família uai. Sabia não? Família é um negócio. Cada um tem sua função.
Eu faltei gargalhar.
Minha família não tinha isso não. A última vez que tive notícias de minha mãe, estava em Los Angeles dançando em uma boate, como se fosse uma menina de vinte anos.
- Valha-me Deus. – Fiz o sinal da cruz. Ao me lembrar de minha mãe, imaginei os papéis trocados. Enquanto ela se achava jovem e dançava para os homens admirarem, o que achava o cúmulo do ridículo. A "Mulher" do meu pai, se fazia de uma grande dama da sociedade. Com três anos a menos que eu. Que negócio era esse? Que família era essa?
- Eu sei que o senhor tem problemas com a família, mas pode fazer uma nova a partir de agora uai... O senhor e a menina.
- Karolyne, Pedro. O nome dela é Karolyne. – Ele me olhou assustado. Era a primeira vez que eu pronunciava o nome da minha... Filha.

DNA - Um lar para KarolyneOnde histórias criam vida. Descubra agora