Capítulo Vinte e Nove

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Gael,

Não era um peso que eu trazia nos braços. Era minha felicidade.

Quando pisamos na fazenda ainda era madrugada. Eu estava exausto. Mas muito feliz e aliviado. Mesmo que o Pedro tivesse checado o pulso do homem, eu fiz questão de ver por mim mesmo antes de vir. Quando tirei seus documentos. Minha fazenda ali, fazia divisa com mais duas. Isso quer dizer que qualquer fazendeiro ou peão poderia ter atirado.

O Pedro abriu a porta e se prontificou a fazer algo para que ela se alimentasse, mas não foi preciso. Assim que as luzes se acenderam a Alessandra veio ao nosso encontro e depois de receber o sorriso da amiga, e um abraço carinhoso ela mesma foi preparar uma refeição leve.

A Brenda também apareceu. Estava no quarto da Karolyne.

- Eu sabia que os dois cabeças duras não descansariam enquanto não localizassem a Gaby. Por isso, assim que o Pedro sumiu eu vim procura-lo. Trouxe as crianças e agora estão dormindo com a Karol. Amiga, que tal um banho quente?

A Gabriela não respondeu, apenas sorriu e se levantou. Vendo que seus pés estavam feridos, preferi, leva-la até o banheiro.

Enquanto a Brenda colocava a banheira para encher eu analisei seus pés. Retirei alguns espinhos com as mãos e outros, precisavam de mais luz e uma agulha para serem tirados.

- Me desculpa não ter chegado antes. – Ela acariciou meus cabelos, enquanto eu permanecia ali sentado aos seus pés. – Aquele.... Era o homem que...

- Acabou! E agora é para sempre. Ele nunca mais irá me fazer mal. Nem física e nem psicologicamente.

- Ele... – Eu deduzi que ele era o homem que a tinha violentado pelo que ela vinha contando pelo caminho ao meu ouvido.

- Não. Não fez nada. Apenas palavras de um louco. – Palavras ferem como gestos.

- A banheira está cheia. Vem amiga, eu ajudo você.

Ela se apoiou na Brenda e se dirigiu para o banheiro.

Enquanto tomava banho o rebuliço começava do lado de fora.

- Os homens estão chegando para a busca. Tem até homem de fazendas vizinhas chefe.

Fui até lá e agradeci dizendo que minha mulher estava em casa e segura. Mas que homens armados andavam por aí.

- E fiquem atentos para não sermos pegos de surpresa.

Quando o carro da polícia encostou aquele dia no pátio. O alvoroço ainda se fazia com alguns fazendeiros que souberam que estávamos de posse de um dos sujeitos. Eles queriam a todo custo que entregássemos o homem nas mãos deles.

- Nada disso. O homem será levado para a delegacia. Assim como a dona Gabriela, também terá que se apresentar para depoimento. Afinal de contas, o que aconteceu?

- Eles entraram na mata correndo atrás dela, e ela se escondeu até se sentir segura para voltar. E quando percebeu que nenhum dos homens a seguiam mais, ela voltou. Está ferida e machucada por ter corrido entre a mata, mas está bem, graças a Deus.

O olhar do Pedro em nenhum momento desmentia minha versão da história. Mesmo assim o delegado se aproximou e olhos desconfiado.

- O senhor parece um tanto mais machucado que antes.

- O senhor não deve ter reparado melhor meu rosto quando esteve aqui. A mata tem muitos galhos secos, e arranhões podem não aparecer no momento.

- Sei! Sei! E eu posso trocar uma palavra com ela?

- Agora não delegado. Agora ela está tomando um banho e precisa descansar. – Não tinha cabimento um importuno desse tamanho. A Gabriela estava traumatizada e o homem ainda queria falar com ela de imediato? Além de que, ela precisava saber o que havíamos falado para ele.

- Eu entendo Gael, mas ela precisa comparecer à delegacia. Precisa fazer exames, sabe como é?

- Sei! E amanhã a levarei. Hoje não temos condições físicas e nem psicológicas.

Um por um, o pátio foi ficando vazio, e o delegado levava para fora do porão o homem que estava conosco. Algum empregado devia ter deixado escapar o fato. Ainda bem que ninguém havia visto o Pedro e eu saindo e nem voltando. Os únicos que sabiam era o Pedro, a Gabriela, a Brenda com certeza saberia, e eu. Estava tranquilo. No mais, se alguém encontrasse o corpo, e quando encontrasse queria a Deus que os animais já tivessem o tratado como merecido.

- No máximo amanhã Gael. E isso porque somos amigos.

- Gael, é bom você entrar. – Quando a Brenda veio ao meu encontro eu sabia que era algo com a Gabriela. – Talvez precisemos chamar um médico. – Ela tremia dentro da banheira. Não era febre, mas estava em estado de choque e se recusava sair do banho. Aquilo me cortava o coração.

Eu também tentei tirá-la de lá, mas ela se debatia, e acabei cedendo. As crianças logo estariam de pé, e seria complicado explicar o que acontecera.

- Tudo bem, Brenda. Eu tomo conta dela. E você pede ao Pedro para ir à cidade e buscar o médico que ele encontrar.

- Claro.

- Ah... Se depois que a Karolyne se levantar a puder levar para sua casa e aguardar que a busque...

- Claro Gael. Conta com a gente. E se precisar de ajuda com a Gaby me chama.

Nem mesmo agradeci devido ao chorou alto da Gabriela. Fui até a porta do banheiro e tranquei, tirei a roupa e tentei entrar na banheira.

Era como se estivesse vivendo um outro momento de sua vida. Foi preciso muita paciência e muita calma naquela hora. Calma e paciência que só quem ama poderia ter, porque eu nunca me imaginei tão tranquilo para lidar com a situação.

Depois de alguns minutos tentando se soltar de meus braços ela se aquietou e silenciou-se.

- Sou eu meu bem. – Ela olhou para mim, como se analisasse algo, e relaxou o corpo.

- Desculpa Gael, eu... – Agora voltava ao normal.

- Não tem importância. Estamos aqui para isso. – Quando olhou um arranhado em meu rosto uma lágrima rolou de seu rosto.

- Eu não queria que isso tivesse acontecido. Eu não queria que ele tivesse me encontrado. Não podia deixar que ele fizesse mal a Karol. Ele disse que viria atrás dela.

- Mas agora não irá a lugar nenhum.

- Disse que a Darlene teve muito trabalho em encontra-lo e...

Ela parou como se tivesse contando um grande fato. Mas não. Eu esperava tudo da Darlene. Enquanto ela não se convencesse de que nosso assunto estivesse encerrado, não se contentaria.

- Agora acabou.

- Acha que pode me amar assim como sou Gael? Me sinto suja. Me sinto...

- Você é linda. Você é perfeita para mim. Não se preocupe quanto meu amor. Eu disse que você chegou em minha vida no momento certo. Eu preciso muito mais de você, que você de mim. Acredite, sou mais indigno de você que você de mim. Mas sei que nossas deficiências só podem ser curadas, através do amor. E entre nós será assim... Um curando as feridas do outro".

Ela parecia estar bem mais calma. Iria precisar voltar a terapia, e eu não pouparia esforços para que fosse feliz. Ao meu lado, de preferência. 

DNA - Um lar para KarolyneHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin