Capítulo Vinte e Um

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Gabriela,

- Pode uma coisa dessas? – A Darlene deu um meio sorriso. – Sentei-me ao seu lado, enquanto o Gael e o pai, se alimentavam. – Laboratório se não for no Rio e particular, não se pode confiar.

- Hum. – Ela estava insinuando que o sangue do marido não ter servido era um erro laboratorial? Que ordinária mesmo.

- Claro que você não deve saber. As pessoas do morro, usam mais é SUS, não é? O que me corta o coração, porque um sistema é precário.

- Verdade. – Deixava ela pensar que era sua amiga. – Não acha que devia se alimentar também?

- Comida de hospital Gabriela? Vamos ter um pouco mais de dignidade. – Ao ver que eu não havia entendido a brincadeira ela se corrigiu. – É uma brincadeira que faço com minhas amigas.

- Amigas? – Será que ainda mantinha amizades com as meninas do bordel:

- É. Nós temos um grupo de esposas e namoradas de empresários do Rio. Vê, não sou nenhuma atriz, muito menos cantora, mas estou sempre nas revistas e jornais.

- Que bom!

- Eu me esqueço que o jornal de vocês lá é local. E TV... Nem sei se funciona naquele fim de mundo. – Ela achava que no mesmo, que éramos idiotas ou mal informados por morarmos em uma fazenda. Se soubesse que a fazenda é toda automatizada.

- Nós temos internet e TV à cabo Darlene. – Brinquei com ela. Ela abriu os olhos e sorriu.

- Mesmo? – Depois gargalhou. – Estou brincando. Eu sei que as fazendas de hoje são muito modernas. Mas não adianta se os proprietários são tão matutos.

- Não. Não fala assim do Gael, vai. – Sorri. Ela sabia que estava concordando com ela, mas no fundo eu não tinha certeza de que ele fosse esse tipo de "matuto" que ela descrevia. Ele era de fato um homem do capo, mas ele não chegava a ter um espirito rustico, ao contrário, com a menina era até muito delicado. Se é que comigo, não media esforços para ser bruto, às vezes. Sorri imaginando a quanto tempo eu não ouvia suas brutices. Mas não era um jeca. Isso podia garantir.

- Quando os vi a primeira vez quase achei que estivesse dormindo com ele. – Se eu fosse branca teria ficado vermelha. Como era direta.

- Imagina. – Tentei desfarçar.

- É. Depois vi que tudo era invenção de minha mente. O Gael ainda é apaixonado por mim. Nunca mais arrumou nenhuma namorada. E outro dia conversando com minha psicóloga ela disse que ele frequenta muito essas casas de prostituição porquê... – Ela não terminou. Eu sei o que a psicóloga teria dito. Ele busca por uma mulher que seja similar a ela. Mas também não forçaria a barra. – Bom, porque acha que ele tem essa implicância comigo. É só eu dizer que eu o queria de volta e tudo se resolveria.

- E porque não diz a ele como se sente em relação à vocês dois. – Ela parecia indecisa.

- Não meu amor. Hoje tenho uma estabilidade que nenhuma mulher abriria mão. E só de pensar em largar tudo o que tenho para ir viver naquele fim de mundo, me dá arrepios.

- Então você não amou ao Gael?

- Ah não sei te dizer o senti por ele, mas eu amo meu marido.

- Claro. Claro. – Concordei mais tomando para mim, que se o Gael ou ela iniciasse uma conversa de tempos atrás sairiam confidencias que poderia ajudá-lo.

Mas ela era esperta e a todos instante que diria algo, olhava para os lados se certificando de que alguém, ou o marido não estivesse por perto.

- Acho melhor pedir para me levarem para um hotel. Começo a ficar toda dolorida. E esse tiro que levei só veio complicar minha vida. Ficarei com cicatriz acredita? Pequena mais ficarei.

DNA - Um lar para KarolyneWhere stories live. Discover now