Capítulo Dezessete

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Gael,

Eu tinha comigo, que todos os olhares me condenavam. Mesmo em meu pensamento eu ter feito o que era certo.

Agora mesmo. Nesse instante. Mesmo estando deitado, com uma dor de cabeça tremenda, eu tinha essa impressão.... Alguém me observava.

- Filha? – Não era só impressão. Era a Karolyne bem próxima a minha cama.

- Sonhei um sonho ruim. – Como eu havia sido falho. A menina acabara de passar por um grande susto e eu preocupado com o bem-estar de quem não se preocupa com ninguém a não ser com ela mesma.

Levantei as cobertas e deixei que ela se aconchegasse ali, ao meu lado.

- Foi só um sonho meu amor. Como você disse.

- Mas disse que nossos sonhos se realizam. – Choramingou.

- Os sonhos bons queridas. Aqueles pelos quais lutamos. Esses ruins, que apenas querem nos assustar, esses nós temos que sacudir a cabeça para que eles possam ir embora e nunca mais voltar.

Ela se ergueu, e sacudiu a cabeça. E pelo que eu entendi, de sua narrativa. Eu também a abandonava. Não foram essas palavras, mas... "Você demorava a chegar" para mim, era que o seu medo estava, em que eu partisse, assim como a mãe.

Era decepcionante dizer à uma criança que a mãe não nos amava o suficiente para ficar conosco, onde quer que fosse. E eu rezava. Pedia à Deus, que nada, nem ninguém no mundo, tivesse a covardia de contar a ela, que a mão não a queria. Queria abortar. Era muita tristeza para uma criança ouvir.

Ontem mesmo antes de partir, a Darlene me puxou, assim que meu pai foi ao banheiro e cochichou.

"A criança Gael. Ele ainda não sabe da criança".

A Criança? Ela poderia pelo menos ter dito... "minha filha". Mas não disse. E sua desculpa é que havia vindo para ver a menina. Mas em nenhum momento ouvi a frase: "Gael, me deixar ver minha filha". E ainda assim, tenho que ouvir as lições de moral da Gabriela, e seu olhar reprovador. Como se eu a tivesse tratado assim, quando me contou o ocorrido em sua vida. Se bem que... ela havia me contado, mas ficara apenas com a narrativa da Darlene.

Assim que a fazenda começou a se movimentar, me levantei, tomei um banho e me vesti.

- Essa camiseta é linda. – A baixinha elogiou ainda com voz sonolenta.

- Eu também acho. – Era uma camiseta rosa, muitos homens não usariam, mas eu não tinha esse problema.

- Adoro rosa.

- Minha cor favorita.

- Você é Gay Gael? – Deixei de olhar no espelho e sentei-me ao seu lado. Em breve estaria falando sobre namorados.

- Como assim Karolyne?

- As meninas da escola, dizem que homem que usa rosa é Gay.

- Filha, isso não tem nada a ver. Homens podem usar rosa, e mulheres azul. Gostar de alguma cor ou algum tipo de roupa, não diz quem você é. Agora.... Existem pessoas que têm opções diferentes. Mas não se fala mais Gay ou Sapatão. A gente precisa aprender a respeitar as pessoas. Não digo isso sempre?

- Sim. Conta sobre seus amigos? – Era uma história verídica, mas ficar contando ao menos uma vez no mês, não tinha graça.

- Então... essa você já sabe. Na escola que eu frequentei, também frequentava muitas crianças que não eram de fazenda. E eu amava um chapéu que havia ganhado do Joana.

DNA - Um lar para KarolyneWhere stories live. Discover now