Epílogo

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Karolyne,

- Já posso entrar? – A mulher me olhava e não dizia nada. O Gael nem parecia ligar que a Gaby estivesse ali, a mais de... Olhei para o relógio e me lembrei do que a professora havia ensinado. Se o ponteiro pequeno estava no dois e o maior estava no três, deviam ser duas e quinze. – Dez minutos.

- O que disse Karolyne?

- São duas e quinze Gael.

- Isso meu amor. – Ele olhou no relógio do pulso.

- Não acha que a Gaby está demorando muito? – Ele me puxou para seu colo, como sempre fazia quando queria me proteger de algo complicado e me abraçou.

- Filha, se tudo der certo, ainda hoje a Gaby terá que ficar aqui na clínica para fazer alguns exames mais complexos.

- Complexos?

- É. Exames mais demorados, mas complicados.

- Entendi. – Eu disse que entendi, mas no fundo, não entendia porque a Gaby precisava ficar ali. Meu pai sempre conversava comigo sobre a Jôjo, mas não me lembro mais dela. Será que a Gaby iria morar com a Jôjo, por isso estava ali?

- Tem certeza de que não podemos entrar?

A mulher sentada à mesa ficava só sorrindo e dizendo que infelizmente não. Eu queria um trabalho desse. Apenas dizer não e não. Não parecia difícil.

- Vânia posso entrar? – Um homem de branco chegou e ela o deixou entrar na sala para onde o médico havia levado a Gaby.

Então, agora descobrir o que eu queria ser. Queria ser aquele homem.

- Quem é esse homem? E por que pode entrar?

Ela sorriu e me disse que ele era obstetra. O que era isso? Ele era importante?

- Hum... Obstetra. – Sentei-me novamente e esperei ansiosa que os ponteiros continuassem sua caminhada.

As vezes o pequeno estava à frete, e outras, caminhava atrás.

- Senhor Duarte? – Quando o médico abriu a porta e chamou pelo Gael, eu segurei sua mão. Ele tinha que me levar, não podia me deixar aqui com essa mulher que só sabia dizer não.

Ele entrou comigo, e o homem ainda passou a mão pelos meus cabelos.

A sala estava escura, e eu corri até ao lado da Gaby. Talvez ela estivesse precisando que eu segurasse sua mão. Ela sorriu. Ao menos não parecia sentir dor. A Gaby não podia partir agora. Agora que tinha uma mãe, tinha que ficar comigo para sempre.

- Está tudo bem Gaby? Você vai ter que ficar aqui nesse lugar fazendo os exames mais "replexos". – Acho que era esse nome mesmo que o Gael havia dito.

- Não meu bem! Mas terei que voltar.

O médico sentou-se justamente no lugar em que eu ia me sentar. E pediu que o Gael se sentasse atrás da Gaby. Pensei em segurar sua mão também. Ele parecia preocupado. E estava, senão não teria tirado o chapéu e falado com voz trêmula.

- Está tudo bem doutor?

- Ah sim! Eu pedi que o obstetra viesse, porque nossa tentativa de fertilização in vitro não será possível. – Eu não entendia direito o que diziam, mas o olhar do Gael era triste, mesmo que o da Gaby não fosse.

Passei a mão pelo rosto do Gael.

- Como assim doutor, o senhor tinha dito que tínhamos chance. – Ele segurou a mão da Gaby. Então devia ser sério mesmo. Mas quando as lágrimas dela caíram, e ela passou a mão em seu rosto eu tive medo.

- Não será possível meu amor, porque ele já está aqui. – O médico passava um aparelho pela barriga da Gaby e logo ouvimos um barulho parecido com a máquina de lavar lá da fazenda. Eles ouviam alguma coisa que deixou o Gael transformado. De triste, ele passou a chorar e a sorrir.

- O que foi? O que é isso? Tem uma lombriga na barriga da Gaby? – Ele vivia dizendo que havia essa tal de lombriga na minha barriga por isso eu comia tanto. E agora com esse barulho, só devia ter passado para a Gaby também.

- Não meu bem! – Ele riu para meu alívio. – Você vai ter um irmãozinho.

- Um irmãozinho? Um irmãozinho. – Foi tanto barulho que eu fiquei até zonza. Eu queria ter um irmãozinho. Torcia para que fosse uma irmãzinha, assim eu teria com quem brincar.

Então foi assim quando o Gael soube que eu ia nascer? Que coisa mais bonita! Eu sorri! Não sei porque, mas a notícia daquele irmãozinho me fez ver o quanto é lindo ter pessoas que amam e esperam a gente. Ele não se lembraria, mas eu acompanharia cada momento, assim teria uma noção de tudo que viveram antes de minha chegada.

- Oba! Vou ter um irmãozinho! – Viu? Meu pedido de Natal trouxe momentos difíceis, mas tudo teve um final feliz!

DNA - Um lar para KarolyneWo Geschichten leben. Entdecke jetzt