Capítulo 10

3.2K 304 182
                                    


GREGORY HOOVER

As ondas eram suaves encontrando a areia na praia, enquanto o vento ia contrário, furioso. Ouvi mais uma vez a Audrey rindo enquanto tentava arrumar seu cabelo curto que não parava de voar de um lado para o outro, parecia que os fios estavam fazendo alguma coreografia não muito bem ensaiada. Seus olhos brilhavam e gostei de acompanhar seus movimentos sem me sentir um idiota.

Voltei minha atenção para as ondas, observando vindo e se formando novamente. Engraçado como somos, durante toda a vida nos afogamos no que fomos e apreciamos o que nos tornamos, um ciclo que vai se repetindo. Durante toda a nova vida somos várias pessoas, com pensamentos totalmente diferentes e que com o passar dos anos percebemos que se todas aquelas pessoas fossem colocadas numa sala, com certeza a discussão não seria amistosa. Teoricamente eu não deveria saber disso, apenas vinte e três anos, tão jovem e ao mesmo tempo tão velho. Fico pensando se isso tem um fim em algum momento, se haverá a satisfação de saber que pronto, agora não mudo mais. Ou somos sempre uma reinvenção de nós mesmos?

Isso só exemplifica o quão fantástico e singular o ser humano é, apesar de toda a parte vil e má.

— Então no que estamos gastando pensamentos? — Audrey me roubou dos meus devaneios, um sorriso brincou nos meus lábios enquanto eu retirava um cigarro dentro os outros no meu bolso.

— Se incomoda? — perguntei apontando ao cigarro, ela deu de ombros, seus olhos queimando a pele do meu pescoço.

Se eu tivesse um ponto fraco aqui, seria a íris verdes dela.

— Nós vamos ficar nesse silêncio absoluto? Acho que preciso de um banho — resmungou Audrey ao meu lado me fazendo rir enquanto soltava a fumaça lentamente.

— Você está cheirosa — ressaltei levando meu nariz para perto do seu pescoço, vendo a reação que obtive com essa atitude simples. Arrepios são bem-vindos nessas situações.

— Obrigado, eu acho. — Era fofinho o jeito que ela espremia os olhos como se tivesse desconfiando de algo. Realmente acabei de usar fofinho? Fiz uma pequena careta virando meu rosto, enquanto tragava mais.

— Não tinha planos de uma conversa, então estou sem assunto agora, quer ficar mais um pouco ou quer ir para a irmandade?

— Posso te perguntar uma coisa?

— No caso, pode duas — ri, fazendo-a bufar.

— Você traiu mesmo ou?

— Oh, vou querer umas perguntas então — brinquei tendo um pouco de ar. — Certo, última vez que irei falar disso. Eu peguei ela com um professor, não foi a coisa mais surpreendente do universo, tinha amigos que me falaram sobre... Ela e alguns casos, entende? Não foi uma surpresa, tentei seguir em frente com o relacionamento. Fiz o que pude, mas colocar outra pessoa acima de você nunca é a reposta que você precisa. Então ela surtou, riu da minha cara, falou um monte de coisa e... Terminou comigo, irônico, não é? Ela fodidamente terminou comigo e teve todo o cuidado de espalhar por aí, como se as coisas que ela fez tivessem sido feitas por mim. Vai entender, algumas pessoas são simplesmente são assim — conclui dando de ombros.

Não ousei olhar na direção da Audrey, apenas não era necessário. Senti sua mão tocando a minha, sobre meu joelho. Estávamos sentados na areia bastante próximos das ondas se desmanchando.

— Eu não fui traída ou trai, sei que o Tom foi um babaca naquele dia na festa, sobre o soco e tudo mais, porém realmente não foi intencional. O cara tinha feito uma piada preconceituosa... Não sei se deveria dizer isso, mas o Tom é gay. A família não aceita isso e ele está passando por uma situação... Complicada — falou me fazendo encara-la totalmente chocado.

Smoked FlowersWhere stories live. Discover now