Prólogo

3K 210 302
                                    

O nascimento de Mariel Berenice Avelar, uma das primeiras órfãs no internato Dornebalie's, foi bastante tempestuoso, literalmente. Choveu por horas, é certo de que a mesma é uma bastarda e o pai (que essa autora prefere deixa-lo em anônimo) planejou tudo, de forma correta para que a criança fosse entregue em tal recinto. Desaparecendo pelo mundo.

-- Essa não é uma criança comum - Disse a enfermeira do Interno.

Incitou isso ao perceber que a linda menina de olhos castanhos, escuros, era cega. Na diretoria, a Sra. Lucrécia Dornebalie's, quase explodia de raiva. Não que fosse uma má diretora ou ranzinza, mas admitia não ter muita paciência com crianças.
Entretanto o interno era de sua família e ela não poderia deixar que isso se perdesse. Por isso assumiu a diretoria, mesmo odiando crianças.

Mas agora essa criança deficiente seria um peso no seu encalço, já que as famílias - sempre - optaram por crianças fortes e saudáveis.

Foi quando a pequena garotinha completou cinco anos, que através de uma consulta em um médico especializado, descobriram que ela enxergava! Não cem por cento, nem noventa, mas sim, cinco à dez por cento. O médico informou que era uma síndrome rara que a mãe provavelmente adquiriu na gestação e a cegueira eram seqüelas e, infelizmente, não havia cura. Contudo, quando fosse maior poderia ver nuances e cores fortes.

Tal notícia alegrou bastante Sra Lucrécia, afinal a garota não lhe importunaria por tanto tempo assim. Estava esperançosa de que poderia conseguir a ela, uma família.

>>>...<<<

Onze anos se passaram e Mariel ainda a importunava com suas perguntas sobre como estava o dia e como ela estava vestida. E por mais ranzinza que Lucrécia tentava ser, a jovem estava sempre irritando-a, propositalmente, é claro.

A garota, mesmo enxergando somente dez por cento. Não fazia o tipo calma e que vive sentada. Ao contrário, vivia importunando Lucrécia, beliscando comidas na cozinha, deixando-as cozinheiras malucas, ou quando ia fuçar os utensílios da enfermaria. Ela sempre deixando sua marca pelos cantos.

A cegueira nunca foi um real problema, tirando o fato de não poder ser adotada, ela conhecia todos os arredores do internato, havia decorado e contado cada passo. Não tinha uma boa visão, mas tinha uma maravilhosa memória e um certa afeição por números. E isso era inegável.

Por obrigação de Lucrécia - para ter classe - aprendeu a tocar violino. Por mais incrível que pareça, tocava muito bem. Todos se emocionavam. Uma cena linda!

Mas de uns tempos pra cá, ela estava calada demais. Todos notaram isso. Alguns, como a cozinheira, dizia ser pela idade.

- Ela tem dezessete anos! Está crescendo e percebendo a realidade da vida - Disse a cozinheira

Outros suspeitavam que não, havia algo de errado ali. Era isso que a enfermeira, que muitas vezes escondia as seringas para livrar-las das mãos de Mariel, dizia e sentia muita falta daquele jeito arruaceiro dela.

Entretanto Sra Lucrécia sabia muito bem o que era. Mas se mantinha sempre calada, ou respondia que nada sabia. Na verdade ela também estranhava um pouco.

A menina sempre recebendo a visita misteriosa, que pagava uma quantia gorda, somente para observar a menina. E isso era estranho demais.

A visita misteriosa dizia que a observava para quando achasse o momento, iria adota-la. E claro que Lucrécia não o informou da deficiência dela. Era uma ótima oportunidade e ela não poderia perder.

Sem contar que recebia uma boa recompensa apenas por deixar-la ver ela.

>>>...<<<

Mariel sentia-se observada. Olhava para os lados e nenhum nuance de cor diferente ou ruídos havia ali. Somente um cheiro, um perfume talvez. Ela não sabia, mas ficava tentada a seguir o aroma. Mas o medo sempre a dominava. Ela conhecia muito bem as pessoas daquele local e sabia que qualquer quem fosse, não seria alguém do interno.

E daí surgia seu medo. Nunca saiu daquele local, também nunca deixaram. Por mais que sempre diziam que a odiavam, para ela, eram sua família e mesmo sabendo que eles não se importavam muito, ela faria tudo para retribuir aquilo que um dia fizeram por ela.

MarielOù les histoires vivent. Découvrez maintenant