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Era por volta das duas horas da tarde de um tedioso fim de semana. Loreta, sentada em sua cama, olhava uma fotografia de dezoito anos atrás quando ainda estava na faculdade.
Seus olhos pairavam sobre seu quarto, um pequeno quarto — que nem era seu de verdade — olhava as paredes em um tom leve de azul, as cortinas brancas com pequenas flores que ela mesmo bordara; o afeto pela costura sempre se manteve em sua vida, desde menina. Sua mãe costurava muito bem e lhe ensinou tudo.

Mas e agora? O que havia feito com sua vida? Uma crise existencial? Chame como quiser...
O orfanato Dornebalie's era praticamente um lugar de passagem; Lucrécia nunca teve apreço por crianças e sempre arranjava pais para os órfãos. Exceto Mariel que permaneceu por muitos anos, mas Lucrécia também lhe arranjou um tutor.

Localizado na cidade de Piperia, o orfanato estava em sua pior fase ou melhor pensando nas crianças. Nunca foram super lotado, é um fato. Mas no momento nenhum órfão habitava ali.
O dia estava nublado e esquisito. Os cabelos longos e cacheados de Loreta, estavam presos em uma trança, usava um vestido cinza e longo...como o dia.

Graduada em enfermagem, pensava sobre sua vida, nunca teve uma casa própria, morou com seus pais que viviam no interior. Depois mudou-se para estudar e para o estágio. Será que a aceitariam de volta? Claro! São seus pais, mas queria voltar?
Nunca for a casada, em um noivado descobriu a infertilidade, a resposta sobre seus sonhos de ser mãe não suceder. Nunca mais quis se relacionar, nunca mais houve sonhos. Pensava em como reconstruir sua vida, trinta e oito anos não podia ser tarde demais. Claro, não pensava em ter alguém não poder gerar filhos deu a ela a concepção de que não deveria casar-se, não pelo marido, mas por si própria.

Orfanato estava vazio, mas não se importava tanto, o amor por Mariel não a deixava amar tanto as outras crianças. Ela sabia que era quase uma obsessão, mas era o quê mantinha e manteve ela de pé todos esses anos. E agora ela não sabia o que fazer com a própria vida, nem com sua carreira.
Ela queria sair do orfanato, mas tinha medo de perder algo, o que era ela não sabia, tinha medo de enviarem outras cartas e ela não está para receber. Tinha medo de quê descobrissem a verdade e principalmente... Tinha saudade de sua querida menina.

Seria certo reconstruir sua vida? Com suas economias ter sua própria casa? Para quem deixaria? As escrituras das propriedades de Mariel e como todo o dinheiro, ainda estava em sua posse... Como contar a ela? Como entregar a ela? E o que fazer para seguir com a própria vida?

>>> Aires <<<

O dia estava ensolarado, sobre o jardim, toda decoração para o dia mais especial da minha vida. Da janela do meu quarto, colocando a gravata, eu via tudo acontecer, todos correndo, dando os toques finais para a festa do ano.
Eu iria me casar! Aos meus vinte e cinco anos, encontrei a pessoa perfeita. Minha querida Berenice, tantos anos juntos, quase uma década! Amor de infância, como muitos diziam. Vistovo não parava de dizer como se orgulhava nessa nova fase.

Sempre soube dos encalços que havia em seu casamento, mas Vistovo nunca difamou a união matrimonial. estava ansioso, logo eu teria que descer para receber-la  e minha vida iria mudar para sempre.
Como eu gostaria de vê-la todas as manhãs, com aqueles cabelos ruivos como fogo, os cachos que me hipnotizavam e quando soltos dançavam em sua cintura; os olhos escuros como a noite em que me perdia em sua órbita. Gostava de vê-la brava, de provocá-la e principalmente... Gostava de como ela me fazia crescer como pessoa.

A porta do quarto se abre, trazendo Vistovo com sorriso orgulhoso.

— Como padrinho, desejo de felicitações aos noivos, sabe como apoio laços matrimoniais, conte comigo. — ele diz arrumando minha gravata como um pai, que eu nunca tive.

— Obrigado, sou grato por tudo que fez e faz por mim, grato por toda a consideração que tem e teve conosco. — emocionado, ele afaga o meu ombro saindo do quarto.

Olha ao redor... Está na hora, ela disse que iria atrasar, me deixar ansioso, espero que não demore muito.

No altar posso ver nossos amigos de turma, alguns já casados, alguns fomos padrinhos juntos. Todos conosco, comemorando nossa nova fase, nossa felicidade...

Uma hora depois e nada dela, "Será que ela desistiu? " Não, ela não faria isso. Uma angústia e pressentimentos ruins toma-me por completo, onde está minha noiva?

O céu foi mudando e com mágica eu fui transportado para uma rodovia, pude ver o carro pude ver lá, com o véu e seu lindo vestido. Uma buzina tomou meus ouvidos e quando por toda a rodovia trazendo uma sensação de surdez. De um segundo a outra lá estava o caminhão estraçalhando o carro onde Berenice estava... O carro tentou desviar do caminhão que girava na estrada, mas de nada adiantou... O policial ao altar junto de mim contava acontecido, sem saber que eu não o ouvia, porque eu havia visto.

Em um salto, acordo com a respiração alterada.

— Outro pesadelo — Suspiro.

Eles sempre me perseguem, me dominam, sinto que dão risadas de mim como se falassem que eu a perdi e eles a tem.

Olho ao redor, sentindo os batimentos ainda acelerados, levanto indo até a janela e o sol está nascendo surgindo das profundas montanhas. Meus olhos seguem para o jardim e Mariel está sentada sobre a grama, com seus típicos vestidos longos, este branco com rosas vermelhas que iam até os joelhos, nunca havia visto algo parecido nela, mas precisava admitir que a deixava em uma beleza exorbitante. Seus cabelos que costumavam estarem soltos, estão sendo emoldurados por uma trança, que ela está fazendo neste instante.

Mas o que ela fazia tão cedo no Jardim? Por muitas vezes, eu tinha dúvidas sobre a cegueira que tanto incitavam. Mas hoje nada disso importava. Era para ser nosso segundo ano de casados, nosso aniversário, mas é o dia de sua morte.

Com meu terno preto, vesti meu luto. Desci de meu quarto, ignorando Magda e sua bandeja de café. Segui para a floricultura que ela amava, escolhendo suas preferidas, meu relógio de bolso disparou, lembrando-me da reunião que seria realizada hoje, mas nada de ser corrompido do dia dela. Isso pode esperar.

O que foi que me tornei? Como uma pessoa  pode nos fazer tanta falta? Como mudamos com a ausência e a dor. Diante de seu túmulo, deixando o pequeno buquê sussurro:

— Sinto querida, por transformar-me nisto.

MarielWhere stories live. Discover now