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O medico junto de Loreta, se aproxima do escritório de Aires. Ele havia sido obrigado a passar todas as informações a ele, assim que houvessem respostas.

- Não conte que já passamos por isso antes, não conte nada do passado. Imploro, não conte, ele não é alguém em quem podemos confiar. Eu imploro. - Loreta pediu, apertando as mãos, aflita.

- Tudo bem, você sabe que pode confiar em mim, Loreta. - O médico afirma batendo na porta do escritório.

Loreta observa ele entrando, temendo o que poderia acontecer, mas preferiu não pensar nisso e ir ver sua menina. Mariel estava doente e ela precisava cuidar dela.

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A chuva se mantinha forte, os raios cortavam o céu, Aires com o seu uísque, observava pela janela, enquanto aguardava pelo médico. Era obrigação dele saber o que se passava naquela casa.

Olhou ao redor, o velho escritório de Vistovo. Aires havia mudado algumas mobílias, mas nada muito efetivo. O assoalho escuro dava um ar dramático ao escritório, uma grande persiana trazia a luz e no momento, mostrava como o vento rugia feroz sobre árvores. As cores em marrom, branco e bege lhe remetia aos gostos de Vistovo, assim como a casa inteira.

O médico adentrou, com as botas coaxando pelo assoalho, se sentou mesmo sem ser convidado para o ato. Encarou Aires com olhos atentos, avaliando com quem estaria lidando.

Aires o olhou, sentando em sua poltrona, fazendo sinal para que o médico tomasse a fala.

- Serei direto - o homem começou - É uma infecção de risco na córnea. Temo pela retina, que é afetada pela cegueira. Infelizmente precisa de uma cirurgia.

- Infelizmente? - Aires respirou fundo, sentindo um certo nervosismo.

- É uma cirurgia crítica, pode trazer a visão, como ela pode não resistir. É bastante crítica. É uma importante decisão, pode levá-la a morte.

Aires se assustou com aquelas palavras, sentia seus batimentos acelerados, outra morte? Em sua mente ecoou.
Sua mente trouxe a lembrança do sonho, onde pode ver como seu amor havia morrido, como tudo havia acontecido. Um desespero lhe atingiu.

Ele se levantou em súbito, jogando o copo de uísque sobre o vidro da persiana, que estilhaçou entre o jardim e a sala. O médico levantou em susto.

- NÃO ACEITO! - Aires vocifera - Ela não vai fazer cirurgia nenhuma, que fique cega pelo resto da vida. Mas ela não vai fazer! - Ele pontuou abrindo a porta do escritório. - SUMA DAQUI! - Ele grita apontando a saída.

O médico, constrangido, pega sua maleta, saindo em disparada do escritório.

Ela tinha razão, ele não é confiável. Ele pensava, vestindo sua capa de chuva e saindo da propriedade.

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- Uma cirurgia? - Mariel disse confusa.

Havia acordado a pouco e Loreta, contou sobre o veredito do médico.

- Sim, Mari. Estou pensando em como vamos fazer. Eu não gostaria que o Aires cuidasse disso, eu não confio nele. - Loreta acaricia os cabelos de Mariel, conferindo a febre, que havia dado uma trégua. - Mas não sei bem o que fazer ainda, preciso pensar com calma, não pensava que isso voltaria, Mari.

- Nem eu...- Ela sussurrou pensativa - podemos usar o dinheiro da herança! - Mariel sorriu. - Viajamos para a capital e faremos a cirurgia!

- Mas você pertence a ele, ele é seu tutor, não eu. - Loreta disse com um semblante triste.

- Mas meu aniversário se aproxima, podemos pedir emancipação, pegamos o dinheiro da herança e vamos embora!

- QUEM VAI EMBORA? QUE DINHEIRO?! - Aires escancarou a porta olhando e a assustando as duas.

- Eu irei. - Mariel pronunciou com voz confiante.

- Não vai fazer a cirurgia! - Ele grita andando pelo quarto.

- Eu vou. - Mariel afirmou com pesar.

- Eu não pagarei e não permito, eu sou o tutor! - Ele diz tentando controlar a ira.

- Eu pagarei, esperarei a emancipação. Loreta irá comigo, ela é quem cuida de mim. - Mariel sentenciou com tom rude.

- Loreta?! - Ele se aproxima com raiva. - Foi você! Você colocou essas ideias na cabeça dela, você! - Ele empurra Loreta, pelos braços, até a parede.

Loreta rapidamente desvia ao encostar na parede, se encolhendo no chão, se afastando dele.

- Ela precisa da cirurgia! Ela vai fazer você querendo ou não! - Loreta afirma sentindo seus batimentos acelerarem em um misto de raiva e medo. Do que esse homem é capaz? Sua mente a acusava.

- Ela não pode...- a voz de Aires falha, seus ombros recaem...- Ela pode morrer e...- Ele suspira com dificuldade - eu não quero perder mais ninguém...- ele diz deixando algumas lágrimas caírem, suspirando, de modo aflito. - Ela não pode ir...- Sussurra - Ela não...

MarielWhere stories live. Discover now