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Pela beirada da porta, a espreita, Magda observa tudo. Aires estava fora de si. —  Ela concluiu.
Em súbito, sentiu o coração acelerar e imagens rápidas passaram por seus olhos.

Ela lembrou daquela noite.

Aquela noite em que obrigou-se a esquecer. Fingiu-se surda, muda e principalmente cega.
Vistovo sempre lhe tratou bem, com carinho de irmão, se preocupava com ela.

E ela o alertou tanto, tanto...Sobre o menino em que ele confiava. Ela conseguia ver, algo estava errado, havia algo, ela sentia, era palpável. Como Vistovo não via? O pior cego é aquele que não quer ver.

Ela viu sua morte. Assistindo o surto de Aires, sua mente estalou com a lembrança. Ela se lembrava como tinha sido tudo.

O menino, que naquela noite virou homem, homem criminoso. Queria dinheiro, muito dinheiro. Magda ouviu que era para a casa dele, ele queria uma propriedade. Mas ambos, ela e Vistovo, sabiam que não.
Ele morava de modo confortável na propriedade, possuía tudo do melhor, Vistovo fazia de tudo por ele; principalmente depois que Aires perdeu a noiva. Vistovo tomou as dores e lhe dava tudo.

Após a morte da noiva, abriu-se em Aires, uma lacuna. Profunda e vazia que tentava se alimentar de poder.
Vistovo, sem notar, permitiu que essa fome crescesse.
A doença corroía seu corpo e a mente cansada permitia que Aires fosse tomando as rédeas de tudo.

A fome por poder, por dinheiro, luxos e bebidas crescia mais e mais.
Ele pediu uma quantia exorbitante de dinheiro, os lucros da fábrica.
Vistovo notou algo errado. Toda aquela fortuna para apenas comprar uma propriedade?

Vistovo afirmou a Aires que não era necessário toda aquela fortuna,  contou a ele que havia deixado o grande casarão para ele, segundo o testamento. Contou também que havia o lucro e as ações que seriam tudo de Aires.
Com raiva e as pupilas dilatadas, Aires o obrigou a trazer uma prova. Uma prova de suas palavras.

George Vistovo, subiu ao quarto, onde havia deixado o documento para ler antes de dormir. Precisava que tudo estivesse certo, ele sabia que não tinha muito tempo.  A doença já havia lhe dado prazo de validade. Um prazo veloz que se acabaria naquele dia.

Magda, trocava uns lençóis de cama, não era tarde da noite como Aires relatou. Ela saia de um dos quartos quando viu.

Aires Caperini, com um ódio palpável, uma aparência transtornada empurrava Vistovo da grande escadaria.

Horrorizada ela desceu as escadas de imediato, sem notar que Aires a seguia, quando notou ele a enforcava com uma das mãos, sobre uma parede. Na outra mão uma garrafa de uísque, ele a quebrou em uma das colunas da propriedade e a ameaçou enfiar os estilhaços e o que sobrou da garrafa na garganta dela.

Ele gritou e a obrigou a esquecer o que viu e ouviu. Nada aconteceu ele repetia no ouvido dela, se aconteceu você morre... — Ele sussurrava.

Ela mentiu para as autoridades, disse que estava dormindo, ela mentiu. Era uma mentirosa. Foi obrigada sim, é verdade. Mas e agora? Ali estava ele, em um surto, com outra pessoa inocente, uma criança. Uma sonhadora criança. Aquela criança que nada sabia.

Mariel não merecia isso — ela pensava.

O tempo parecia passar em câmera lenta, os olhos gravavam a cena onde ele, como um louco gritava com Mariel e Loreta. Enquanto na mente de Magda, o filme daquela noite, passava e repassava. A dor daquela noite a corroía dia após dia...

Ela sabia que a verdade precisava ser dita, seu coração clamava por isso...mas como? Sempre que podia, Aires a ameaçava, ele dizia que precisava lembrar ela, lembrar ela do silêncio e torturava. Se algo dava errado, era com ela que as contas se acertavam, ela era apenas uma marionete nas mãos dele...

Quando a verdade viria a tona?

MarielWhere stories live. Discover now