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Mariel estava sentada em sua cama, pensando no sonho que teve. Um sol muito amarelo, árvores altas faziam um caminho para dentro de uma floresta. Era como uma imagem e ela fosse telespectadora de tudo, não se via dentro da floresta ou pelo caminho, mas tinha uma visão ampla de tudo.
Notou que apesar de tantos detalhes, tantos lugares e pontos que seus olhos podiam visionar, o sol que se escondia no fim da floresta lhe tomava toda atenção, era um sol poente, que queimava sobre o céu, deixando tons alaranjados que se misturavam ao azul do céu de fim de tarde, com nuvens que traçavam lindos nuances no céu.

Levantou-se procurando um de seus vestidos, mesmo com a lamparina acesa, sobre o criado mudo, sua visão estava afetada pela escuridão do lado de fora. Mas sem saber vestiu-se com um vestido amarelo queimado, de mangas curtas, rodado com uma fita branca na cintura.

Com cuidado saiu de seu quarto, contando os passos e tateando o local até a porta de entrada, saindo, seguindo para uma certa distância da propriedade e sentando sobre a grama próximo ao  jardim leste.  Juntou os joelhos e os envolveu com os braços. Não sabia bem o por quê mas
sentou como se esperasse por algo. E sentia que poderia esperar o tempo que fosse por isso.

O tempo, foi passando, sentia os nuances da claridade surgir, sentiu o calor do sol batendo em suas costas, trazendo uma sensação de conforto.
Por um momento ela entendeu que queria sentir o sol para depois poder o representa-lo.

Ouviu passos e mais passos atrás de si, mas nenhum momento virou-se para atrás,  mas não mexeu um músculo.

— Mariel! Venha, há uma visita para você.  — Magda apareceu tocando lhe no ombro.

— Uma visita? Mas quem? — Ela sussurrou surpresa, ninguém nunca viera lhe visitar. Isso tomou sua atenção, mais que a atenção que dirigia ao sol.

— Loreta é o nome, disse que tinhas saudades tuas. — Magda diz gentil — Venha, vamos tomar café e vocês conversam. — Disse animada, erguendo levemente Mariel.

Mariel abriu um sorriso, erguendo-se em uma animação, inexistente por muito tempo. Sorridente ela volta para dentro da propriedade.
Quando Mariel chegou ao hall de entrada, pode sentir os braços acolhedores de Loreta, que ansiosa esperava por ela. E ao vê-la não exitou em abraçar-la. As duas sorriram e Magda após certo tempo as convidou para a sala de refeições.

As mulheres conversavam, sorriam, Mariel estava praticamente grudada ao braço de Loreta, ela se sentia acolhida, sua familia estava ali.
Mais tarde, Mariel e Loreta estavam sobre o Jardim.  Sentadas, de mãos dadas.
Os cabelos de Loreta, assim como os de Mariel estavam soltos e ambas mexiam no cabelo uma da outra, Loreta com um vestido vinho, de mangas curtas e levemente rodado com uma fita preta, como o de Mariel. Ambas juntas sorrindo, Loreta nem acreditava, estava com sua menina.

Loreta acarinhava seus cabelos, observando cada detalhe, procurando ferimentos e maustratos...como uma verdadeira mãe.

— Como tratam-te aqui? — Sussurrou Loreta.

— Bem, Magda é minha amiga e me ajuda. Tive que contar a ela — Mariel faz uma pequena careta.

— Como assim? Ela não notou? — Loreta ergue uma das sobrancelhas.

— Er...Antes de vir para cá, Lucrécia me obrigou a não contar sobre a cegueira, ela me ameaçou caso Aires me devolvesse por esses motivos...— Mariel sussurra fazendo Loreta suspirar em furor.

— Como ela pôde?! Mariel, minha querida, preciso lhe contar algo...— Sussurra com temor.

>>>Loreta<<<

Loreta estava inquieta. Andava pelo jardim do Orfanato como uma pessoa calma, mas por dentro estava um turbilhão.
Em seu íntimo, algo inflamava como errado.  Algo estava muito errado. E ela por algum motivo, sentia-se obrigada a esperar pelo correio. Precisava pegar a correspondência!

Acordara as cinco da manhã, andara por todo lado e por lado nenhum, aguardando impacientemente o carteiro.
Quando ele passou, ela reconheceu o envelope, rapidamente, recolheu a correspondência. Deixando sobre a mesa de Lucrécia que sempre acordara tarde.

Entrou em seu pequeno quarto fechando tudo, algo realmente estava errado e ela precisava entender o que é. Abriu com veracidade o envelope, apenas conferindo o brasão, que era o mesmo.

Olá, se você recebeu está carta é por que tudo aconteceu como deveria...pelo menos eu espero.
Eu espero que seja a pessoa correta, pois se recebeu está carta, neste mundo já não estou. Portanto o envio não é meu e sim de meu advogado.
Preciso lhe informar, que por minhas ordens, meu braço direito Aires Caperini, irá adotar Mariel e será seu tutor. Sei que pode ser como uma traição, mas nesse momento penso que ela poderia ter um lugar na empresa e mais do que ela recebeu.
Não sei como vai reagir, Aires não sabe sobre a herança dela, fica ao critério de ambas falar sobre, mas gostaria que contasse a ela sobre mim. Sobre tudo, julgue-me mas sou velho, com arrependimentos de uma falsa vida. Tudo por conta da sociedade, o que ganhei com isso? Nada. Quem está comigo? Ninguém! No fim todos somos insignificantes e como no xadrez, rei, rainha e peões acabam na mesma caixa.

Sem mais.  G.V.

P.S:. Está é a última carta. Último vínculo.

MarielWhere stories live. Discover now