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Duas semanas se passaram e eu não o "vi" mais. O que foi uma dádiva, já que assim Magda me mostrava a propriedade. Me apaixonei pelo jardim. E pedi a ela pra me ajudar com sementes de rosas, para que eu pudesse plantar, mesmo sem enxergar , eu sempre gostei de plantas e plantar as minhas próprias. Havia também um pomar onde tinha uma amoreira, amo amoras, a tonalidade é ótima para minhas pinturas e criações.

No momento estou na cozinha  fazendo companhia a Magda enquanto leio meu livro, ou tateio.

- Mari. Não estou te expulsando, mas não prefere ler seu livro em outro lugar? Um lugar mais tranquilo? Ouço um tom animado em sua voz e assinto.

- Mas onde? Indago curiosa.

- Vem! Ela me puxou para fora da cozinha, em um lugar mais escuro, onde suponho ser a sala.

Passamos por um corredor estreito ainda no primeiro andar da casa. Pude ouvir ela abrindo uma porta, que rangeu um pouco e me empurrou a dentro.

- Aqui é a biblioteca, fique quanto tempo quiser. – disse me sentando em o que suponho ser uma cadeira, muito confortável por sinal. – Quando eu tiver mais tempo te ensinarei o caminho. Leia a vontade, Aires irá demorar pra voltar e raramente vem até aqui. Sente-se e divirta-se! Ela indaga por fim e me deixando sozinha. 

Tento dar uma olhada ao redor, mas o local tem uma cor forte de marrom e parece meio escuro, mas confortável, além de parecer ser um lindo lugar. Poderia viver muito bem aqui neste cômodo.

Algumas horas depois, eu ja tinha lido boa parte do meu livro, Magda me chamou para almoçar e agora estou sentada em um dos bancos no jardim. Mexi com os brotinhos das rosas. Guardei a minha, as pétalas secas, para manter sempre comigo.
Comi  um punhado de amoras que Magda, me ofereceu e fiquei por ali. Confesso estar entediada. Queria conhecer essa casa toda e mexer com todo mundo. Voltar a pintar, voltar a estudar! Preciso falar com Aires - Nome estranho - sobre isso.

|>>>.....<<<|

Por Aires

Duas semanas a evitando e ela nem percebeu ou faz pouco caso. Dadas as circunstâncias tomei por atitude viajar, a trabalho é claro. Mas ela não precisa saber disso.

Cheguei pela madrugada, tomei um banho e desci a cozinha para comer algo. Um pouco antes de chegar a cozinha  eu a vejo lá com um vestido leve azul que vai até os pés.

Ela procurava a geladeira, procurava o leite, em seguida, a pia, apalpou o copo e despejou o leite no copo. Me aproximei decidido a dar um belo de um susto, Mas em um movimento abrupto ela pegou uma frigideira e a levantou e eu fui com tudo batendo de frente com a frigideira.

- Céus! Me desculpe...Mil perdões. Eu não percebi sua presença. Desculpa - Ela abaixou a cabeça encarando o chão.

Assenti atônito e fui pegar um copo de água e quando me virei ela ja não estava mais lá, mas pude ouvir de longe sua risada corri para vê-la e ela tampava a boca rindo enquanto subia devagar a escadaria.

- Muito engraçado - Digo sarcástico e voltei-me ao quarto, desistindo de comer qualquer coisa que fosse.

No caminho pude ouvir outra conversa. Desde quando me tornei esse tipo de pessoa? Que ouve pelas portas?

- Amanhã suas sementes chegam! Magda diz a ela. Sementes?

- Ótimo! Quais você pediu? Ouço ela dizer animada.

- Copos de leite e hortênsias, gosta?

- Amo! Obrigada Magda, tem sido tão gentil, mais do que é o seu trabalho. Muito obrigada! Noto as duas em um abraço.

- Pode contar comigo, gosto muito do que faço, é de fato com muito carinho! Vamos, vou levar-lhe ao seu quarto, mais tarde eu levo uns biscoitinhos, daqueles que você se gosta. Gosta? Biscoitinhos? Que parte desse filme, eu perdi?

- Boa noite. Sr. Caperini, sempre atrás das portas, né? Espero que esteja bem.  - Ela diz em um tom quase cínico, entrando em seu quarto.

Como ela sempre sabe?

MarielWhere stories live. Discover now