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Estava encolhida na cama fofinha do meu novo quarto. Eu me sentia um peixe fora d'água. Eu não conheço nada aqui, como vou me locomover? Notei que as luzes mal entraram pelas persianas, deve ser grossas essas cortinas.  Como irei fingir não ter deficiência se não consigo nem ver a luz do sol? Tudo é muito escuro não há nuances. Como vou fazer? Talvez eu deva contar a ele.

Me mantive a manhã toda no quarto e consegui tatear todo o mesmo. Encontrei as roupas que Magda havia me comprado. Deixei as persianas de meu quarto bem abertas para eu conseguir ver os nuances de cor. Ela me mandara tomar um banho e descer para o jantar. Mas como vou fazer? Talvez eu deveria contar pelo menos a ela. Ela pode me ajudar.

- Menina! Ainda não tomou banho? Ela apareceu no quarto como se lesse meus pensamentos.

- Céus! Que bom que apareceu, queria mesmo te ver. Preciso de contar algo Magda. Mas você não pode contar ao senhor Caperini. - Sussurrei

- O que? Ela pergunta desconfiada

- Senta aqui! Mostrei e ela logo sentou. - É...- suspirei - Magda eu não enxergo. -  sussurrei abaixei minha cabeça.

- O-o que? Ela balbuciou incrédula.

- Eu só tenho dez por cento da visão. Vejo vultos e nuances de cor - Sussurrei

- Larga disso! Nunca te disseram que não se pode fazer brincadeiras de mau gosto? Ela se levantou

- Espera! - Levantei num pulo - É sério! Eu jamais brincaria com isso. A diretora do interno me obrigou a não contar isso ao senhor Caperini. Porque ele ia me devolver. E ela me odeia, disse que ia me expulsar. Magda eu não sei o que fazer. Eu vivi dezessete anos naquele lugar, nunca saí dali. Como vou andar por aqui sem o senhor Caperini perceber? Você precisa me ajudar! Indaguei temerosa

- Deixa eu ver - Ela passeia pelo quarto em passos largo — Está bem, vou confiar  — ela sussurra

- Obrigada, obrigada mesmo - digo ansiosa

- Vou te ajudar! Não sei como, mas vou. Agora precisa tomar banho e se trocar, consegue sozinha? Ou precisa de ajuda?

- Eu ja tate-ei tudo aqui, menos o banheiro, consigo tomar banho sozinha, mas preciso de ajuda. E quando o jantar ficar pronto você pode vir me buscar, por favor?

- Sim, sim. Bom eu vou te ajudar com o banheiro e voltar a cozinha - Ela pega a minha mão e vai me guiando e mentalmente vou contando os passos da cama até o banheiro.

Ela ajeita tudo para o banho, eu tomo banho lavando meus longos cabelos no tom castanho, quase preto,encaracolados. Tateio todo o banheiro tentando decora-lo o mais rápido possível.

Após me vestir, aguardo Magda sentada sobre a cama.

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Ela jantava em puro silêncio. Me ignorava como sempre, parecia sempre que eu não estava ali.
Mas tomei como decisão fazer o mesmo. Olho por olho. Dente por dente!

Terminei de jantar e me levantei deixando- a sozinha. Contudo ela pareceu não se importar. E isso me perturbava de uma forma disparatada.

- É terminantemente proibido você sair da propriedade! Indaguei com polidez .

- Céus! Obrigada - Ela sussurrou pra ela mas pude ouvir. Qual é o problema dela? Parece que gosta de tudo de ruim que eu faço!

Desisti de perguntar algo e rumei ao meu quarto.

Na verdade eu acabei parando novamente no quarto de hospedes para inspeciona-la.

- Foi muito bom - Ouço a voz de Magda. - Ele nem notou.

- Ninguém nunca nota. - Ela suspirou triste - Se ele notasse, eu não teria problemas, afinal a regra era eu não contar. Se ele notar a culpa não será minha.

- Acredito piamente que se ele não notou hoje, talvez não note mais. E isso será uma dádiva, já que eu gostei bastante de você! Ambas sorriem

- Eu também gostei de você, Magda! Recomendo cuidar dos seus temperos, amo brincar com eles - Isso me lembra o dia no interno. - Ah! Nem te contei. Ele disse que era proibido sair da propriedade. Ele não sabe o favor que me fez. Deveria até lhe dar um presente por tal ato!

- Sendo sarcástica? Magda teve a mesma dúvida que eu.

- Não mesmo. Seria um total desastre eu saindo por aí. Irei somente ao jardim da propriedade. - Suspirou - Bom. Boa noite Magda, obrigada por tudo. - Diz entrando no quarto.

- Boa noite, querida - Magda diz e se afasta do quarto

- Está me escondendo algo, Senhorita Avelar? Digo saindo do quarto. Numa tentativa de assusta-lá.

- Oh! Oi senhor Caperini, estava mesmo pensando quando o senhor iria sair desse quarto e se mostrar presente. - Ela diz com indiferença para a minha surpresa

- Como você...? Desisto e sigo ao meu quarto a ignorando

- Nem que me jurasse morte eu lhe contaria - Ouvi ela dizer por de trás da porta, antes da mesma entrar .

MarielWhere stories live. Discover now