Prólogo

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Itália, 1961

Ela estava linda. Do mesmo jeito que a vi no baile meses antes. Eu estava ciente que ela estava prometida ao duque, e, mesmo que eu tivesse dinheiro, os pais não aceitariam tal mudança.

Porém, isso não impedia de nos vermos às escondidas. Isso era um segredo que podíamos manter, mesmo que parecesse errado. Ela veio com seu longo vestido verde esmeralda; os cabelos cheios de cachos e a pele de porcelana brilhando à luz do candelabro. Ela era linda, e fazia meu coração saltar dentro do peito.

— Não devíamos ter feito isso — eu disse, pensando nos pais dela.

— Não pense nisso. Meus pais acham que estou tomando chá com minhas madrinhas.—ela sorriu — e ninguém vai nos reconhecer neste café.

— É pouco popular, devo concordar. —peguei suas mãos cobertas por luvas — estava louco para ver você.

— Eu também. — ele tocou meu rosto com uma das mãos — não quero me casar com outro que não seja você.

— Não diga tal coisa — me desvencilhei de seu toque — sabe que não podemos mudar isso.

— Podemos. — ela disse, com convicção — há tantos outros lugares. A França é bem falada...

— O que estás a dizer? —franzi o cenho

— Vamos fugir — ela sorriu, empolgada — para longe da Itália. Para outro lugar.

— Como? Não brinque com isso. — virei de costas, sentindo tentação pela ideia descabida.

— Não estou brincando — ela veio para frente de mim, e olhou em meus olhos — quero ficar com você.

— Não. Não posso fugir. Não posso obrigar-te a fazer algo assim — neguei

— Então seu amor por mim não é forte como dizes.

— Não diga isso. É tão forte que não posso imaginar você fugindo na calada da noite e largando todo o conforto.

— Que vale o conforto se não ficarei contigo?

— Não sabe o que estas dizendo — afirmei

Ela deu um passo para trás, e seu sorriso sumiu do rosto.

— Então devemos deixar isso para trás.— ela falou em um tom cortante — Não deves mais me ver. Deves sumir de minha vida para que eu possa fazer minha obrigação.

— Não fale assim. — pedi, tocando seu rosto — Eu te amo. Estas semanas... em todos os bailes que te vi. Todas as conversas.. ver-te com o duque foi...doloroso.

— Fuja comigo. — ela pediu  — Vamos ficar juntos. Eu te amo.

Prometi para mim que não faria tal coisa. Prometi que olhar para ela era o suficiente, mas eu não pude manter minha promessa. Segurei seu rosto e lhe beijei pela primeira vez, antes de qualquer outro. Os lábios pequenos e macios me fizeram estremecer; meu coração estava acelerado, e eu não havia notado o quanto desejava aquele beijo até o momento. Afastei-me dela e olhei em seus olhos cor mel.

— Fuja comigo — ela tornou a pedi.

— Esta noite. — respondi — Vamos para a França.

Ela me abraçou e eu pude sentir seu sorriso surgir.

Iríamos partir no navio das 02h. Ela havia corrido para casa, e tinha dito para pegarmos apenas o essencial. Meus pais já estavam recolhidos, e eu fui para meus aposentos me preparar.

Uma sacola simples e roupas das quais usava para meus dias no jardim; roupas que me permitiriam me misturar. Me vesti de modo simples e soltei meus cabelos castanhos. Meu reflexo mostrava um rapaz de 23 anos comum, que seria muito feliz.

Logo depois da meia noite, saí pela cozinha e atravessei o jardim. Caminhei rapidamente para a estrada onde havia marcado com ela; as arvores davam um ar sombrio para a estrada, mas eu não tive medo, pois logo avistei ela.

Ela não usava nenhuma jóia; seu vestido parecia de uma camponesa, e seus cabelos estavam presos sobre uma tiara de pano; ainda assim, ela parecia uma princesa.

— Você veio. — ela sorriu

— É claro, meu amor — toquei o rosto dela e olhei para sua sacola simples — Comprarei mais roupas para você em breve — prometi

— Não se incomode —ela sorriu — Vamos logo.

Peguei sua mão, mas neste instante, uma cavalaria surgiu ali. Ela me abraçou e eu apertei contra o corpo. Estávamos cercados por guardas, e o chefe deles era meu sogro.

— Ora, ora — disse o pai dela, de modo cruel e sombrio — isso é interessante.

— Papai — ela tremeu em meus braços — como soube?

— Acha que não tenho criados em seu encalço? — ele riu — mandei irem atrás de você. E olhe minha surpresa ao ouvir que você quer fugir com esse homem.

— Eu o amo — ela declarou, pondo-se entre mim e ele — Não quero outro homem.

— Entendo — o homem desceu do cavalo e nos fitou — Ouça com atenção, o duque já está certo deste casamento e eu não vou sujar meu nome por causa do seu amor bobo.

— Senhor... — tentei

— Calado — ele apontou para mim e olhou para a filha — vou lhe dá uma escolha, querida. Suba no cavalo e volte, e eu não mando matarem ele. Isso acaba aqui. Ele pode seguir viagem, e ficar longe de você. Ou, você insiste, eu mato ele e você volta comigo a força. Nos dois casos, você se casa com o duque.

Aquela estrada pareceu esfriar, tudo pareceu ficar mais sombrio. Ela me olhou, e lagrimas caiam por seu rosto.

— Deixe-o ir, querida — Disse o pai

— Eu amo você — ela sussurrou

— Não...— implorei

— Shh...— ela pediu chorando

— Vamos...— o pai chamou

Ela me deixou ali, no meio da estrada e caminhou até seu pai. Meus olhos estavam cheios, mas eu não quis chorar. O homem me lançou um olhar cruel e então apontou uma arma para mim.

Foi tudo muito rápido; o som da bala cortando o ar se misturou com o grito esganiçado dela. Senti uma dor absurda me envolver, e meu corpo cair na estrada gelada. Minha cabeça tombou na direção dela, tendo certeza que seu rosto era a última coisa que eu queria ver.

— Vamos! — berrou o pai

— Não! Elias!! — ela olhou para mim, chorosa.

O pai a puxou, e ela fez algo inesperado. Enquanto meus olhos se fechavam lentamente, eu assisti, sem poder fazer nada, quando o a amor de minha vida roubava o punhal do pai e tirava a própria vida.

— Não!! — o pai berrou em desespero, pegando a filha nos braços.

— Lira...— disse, em suspiro fraco — eu ainda verei você.

A cabeça dela tombou, e seu rosto sem vida foi a última coisa que vi antes de meus olhos se fecharem eternamente.

Incógnita: Deixe-o irOnde histórias criam vida. Descubra agora