Capítulo 6

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Fazia algum tempo que Kenneth havia sumido na rua de novo depois do nosso adeus. Eu estava deitada no sofá tomando um chá enquanto pensava no recente evento naquela estrada vazia; era como se eu houvesse colidido com uma montanha de imagens; uma enchurrada de lembranças das quais nunca vivi; não consegui captar muito, mas pude ouvir uma voz gritar o nome Elias; e o corpo jogado no chão que rondava meus sonhos entrou em foco. Eu não fazia ideia do por quê de tudo isso, mas me sentia meio mal com toda essa história. Era como as histórias da minha avó.

— Laysla, visita para você. — minha avó disse, sem olhar para mim ao passar.

Corri para a loja pensando que veria Kenneth nela, mas fiquei desapontada ao ver Juliete, uma vizinha que havia estudado comigo. Ela pouco falava comigo, então fiquei meio surpresa também.

— Oi.— ela corou

— Oi. Que surpresa. — disse, cruzando os braços.

— É, desculpe surgir assim. É que vi você sozinha numa cafeteria hoje cedo, e andando ontem de tarde. Achei que podíamos fazer algo.

— Sozinha? — franzi o cenho, e senti meu pulso gelar.

— É. Você foi a uma cafeteria hoje...

— Mas eu me encontrei com um amigo lá.

— Ah! — ela piscou — Acho que perdi essa parte — ela riu, nervosa.

— É... bom, mas podemos fazer algo qualquer dia. —tentei deixar o clima suave.

— Sim. Podemos. — ela olhou ao redor e suspirou — bom, vamos marcar.

— Certo. — disse, e antes dela sair eu a chamei — Ontem de tarde você me viu fazer o quê?

— Correr. — ela franziu o cenho — você estava correndo.

Correndo atrás de Kenneth. Ela sorriu e saiu. Eu fiquei pensando nele, imaginando como seria chamar ele para sair comigo e Juliete.

Você, mesmo ainda sendo uma desconhecida, é a única pessoa real na minha vida.

Vi você sozinha hoje cedo.

— Laysla? — minha avó surgiu ali — você está bem?

— Vovó, é possível imaginar alguém de um jeito muito real quando se está sozinha?

— Acho que é possível. Acho que crianças fazem isso o tempo todo, mas nós também somos capazes. Capazes de criar pessoas das quais queremos conviver.

Por que eu iria conviver alguém como o Kenneth?

— Por que me pergunta isso? — ela indagou

— Por nada. — disse — eu preciso testar uma coisa.

Me pus de pé e saí de casa; eu não sabia onde Kenneth morava e nem havíamos trocado números de celular. Então o que eu pretendia? Suspirei pesadamente e caminhei até o mar; se eu tivesse sorte, talvez ele fosse para lá no fim do dia. Eu não acreditava na minha avó, mas não custava checar isso. Poderia esperar por ele e levar ele até minha avó; se ela o visse, eu não estaria louca, certo?

Ah, Laysla, você é louca só de pensar que tem um amigo imaginário.

Sentada em um banco perto do mar, meus olhos focavam o horizonte, esperando impaciente que ele surgisse ali. Eu não podia estar mesmo pensando em algo assim; o fato de eu estar mesmo acreditando que Kenneth era meu amigo imaginário. Mas, se isso era mesmo loucura, então não custava fazer um teste para rir depois.

— Laysla? — virei ao ouvir a voz de Kenneth

— Ei! — fiquei de pé, esfregando as mãos de maneira nervosa na calça

Incógnita: Deixe-o irWhere stories live. Discover now