Capítulo 11

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Kenneth estava na janela; ele havia soltado minha mão depois que eu me acalmei. Não fazia ideia do que houve, mas o desespero que senti foi verdadeiro. Eu sempre pensei em casar, ter filhos e ter uma vida tranquila. Agora, não tenho certeza se isso será possível; Kenneth disse que sim, mas como posso acreditar? Amei-o tanto na vida passada ao ponto de me matar quando ele morreu, agora ele se foi, e, como na vida passada, não tenho certeza se posso ser feliz. Eu não sinto nada por ele do tipo um amor incondicional, não estou apaixonada, mas sinto algo se ligando a ele quando nossos olhos se encontram. E se esse tempo com ele me deixar apaixonada? E se eu não aguentar vê-lo ir?

Desliguei o computador depois de ler várias coisas sobre espíritos condenados a vagar pela terra; minha vista estava cansada; esfreguei os olhos e suspirei.

— Durma. — a voz de Kenneth me fez procurar o seu olhar. Ele ainda estava de costas, olhando para a janela — Você está cansada. Amanhã continuamos.

— E você? — perguntei

— Não preciso disso. — ele suspirou — Talvez eu sinta um pulo no tempo, ou fique aqui. Mas você tem que dormir.

— Certo. — eu suspirei e peguei um pijama para mim.

Fui para o banheiro do quarto e me troquei, não queria comer nada, portanto fui direto para cama e me pus sob as cobertas. Kenneth sentou-se na cadeira do canto e olhou para o teto. Eu fiquei olhando para ele, tentando pensar nele quando ainda era quente e corado. Ele não era pálido como um fantasma, mas não tinha tanto contraste como alguém vivo. Eu podia sentir seu pesar, sentir seu cansaço; eu sabia que logo ele esqueceria tudo sobre si próprio, e talvez ficasse vagando e sofrendo eternamente. Meu coração doeu, eu não queria isso, e não iria deixar isso acontecer.

Devo ter adormecido, pois eu estava em outro lugar; um Kenneth antigo surgiu de trás de uma árvore. Estavámos em um amplo jardim, e eu pude reconhecer a arquitetura italiana antiga; era nosso passado me visitando durante o sono.

— Lira...— Kenneth, em Elias, tocou meu rosto — Não quero ver você com o duque. Eu te amo, e quero ficar com você. Como posso lutar contra isso, Lira? O que você fez comigo?

— O mesmo que você fez comigo — eu ouvi minha voz, em tom de Lira, mas eu não falei, não lembro de ter falado. Mas minha voz estava ali, fazendo Elias sorrir.

Abri os olhos e vi Kenneth olhando para mim fixamente. Me encolhi em um susto.

— Quem fez o que com você? — ele perguntou

— O quê? — franzi o cenho

— Você tava falando dormindo.

— Acho que ter você no meu quarto vai ser interessante — murmurei e virei de costas. Eu falei dormindo.

— Quer que eu saia? — ele perguntou

— Fica aí. — disse e fechei meus olhos, sem conseguir dormir realmente.

No dia seguinte eu me sentia uma zombie; Kenneth ainda estava na cadeira ao canto, e seus olhos estavam em mim. Deve ser por isso que eu saltei da cama em um susto. Ele percebeu o susto e desviou os olhos.

— Bom dia. — disse, meio tensa.

Ainda tinha lembranças do sonho da noite anterior, e isso não me deixava muito animada em olhar para Kenneth.

— Bom dia. Vamos investigar meus vizinhos? — ele perguntou, sem me olhar.

— Vamos. — revirei meus olhos — só vou comer alguma coisa, certo?

— Ah. Certo. — ele disse em um tom de lamento.

Tomei um banho e fiquei feliz por ele não aparecer no meu chuveiro. Pus uma roupa casual e desci para a cozinha. Kenneth veio logo atrás, parecendo meio deslocado. Acho que era porque não tinha outros espíritos por aqui. Minha avó já estava na mesa, e sorriu para mim e Kenneth assim que entramos no cômodo. Kenneth ignorou com sucesso e foi para a janela mais próxima.

— Como ele está? — minha avó perguntou.

— Ele parece bem. — disse — mas sinto que está mais distante, como se estivesse esquecendo de si próprio, ou com medo disso acontecer.

— E isso vai acontecer se Kenneth não encontrar sua paz. Ele precisa ir embora. Sua vida não existe mais, este mundo não é mais dele.

— Eu sei. — olhei para Kenneth, que ainda permanecia na janela — E como eu vou ficar, vovó? — olhei para ela — Como eu vou ficar sem o amor da minha vida que era para ser mais não foi?

— As pessoas tentam, meu amor. Elas tentam ficar com outras, mas quando não é para ser, acaba. E no fim, você morre sozinha. Mas, quando o amor de nossas vidas está presente, ele que segura nossa mão no último suspiro.

— Então eu vou morrer sozinha? — fiquei apavorada.

— Você vai tentar. Vai conhecer um homem decente, e vai se casar com ele. Vão ter filhos e vão fazer dá certo. Mas, um grande amor, minha querida, só se tem um.

— Eu vou sentir. — sussurrei — Eu vou gostar. Eu vou querer. Mas, aquela ligação, aquela coisa única, só se tem uma vez? Por quê?

— Uns dizem que não, mas esses dizem porque nunca amaram de verdade. Você verá. O que se sente uma vez pelo amor de verdade, nunca se repetirá.

— Como vou saber? — indaguei

— Ah, minha querida, Kenneth ainda está aqui. Você o vê. Não me diga que não sente nada, nem mesmo uma vontade de que ele fique. Pois você quer. Sei que sim. E você também sabe.

Bebi um gole do chá, e esse tinha gosto de poeira. Meu coração saltou dentro do peito e eu olhei para Kenneth. Eu sabia que no fundo desejava que ele não houvesse morrido; no fundo queria que as coisas tivesse dado certo. Quem sabe se iríamos ficar juntos. Ainda assim, queria que ele ficasse ali. Eu vi Elias, eu vi como ele olhava para Lira, e é isso que eu sinto. A grande vontade de que Kenneth olhe assim para mim. Mesmo não estando mais aqui.

Na vizinhança de Kenneth, eu fiquei parada olhando para sua casa. Eu queria tentar entender porque alguém mataria Kenneth. O que ele havia feito? E por que alguém teria o trabalho de condenar ele a ficar vagando por aqui para sempre?

— Com licença? — uma voz me fez saltar.

Girei o corpo para encarar um homem alto e loiro; pele palida e meio vermelha. Usava roupas chiques e óculos redondos. Tinha um sorriso educado, mas não parecia ser educado e nem simpático. Na verdade, o jeito que ele me olhava me fazia pensar que eu devia pedir desculpas por algo.

— Bom dia. — tremi

— Tommy...— Kenneth falou ao meu lado

— Conhece? — olhei para Kenneth

— Quem? — Tommy chamou minha atenção

— Hein? — pisquei, mantendo os olhos em Tommy

— Ele era amigo. — Kenneth disse — Trabalhava comigo, e às vezes ia na minha casa. Katarine convidava ele.

— Que está fazendo aqui? — Tommy perguntou

— A rua é sua? — deixei escapar

— Lasyla — Kenneth me cutucou

— Está olhando para a casa da minha esposa. — Tommy ajeitou os óculos

— Esposa? — falei junto com Kenneth

— Você é casado com a ex mulher de Kenneth Walker? — indaguei, completamente surpresa

Tommy ergueu as sobrancelhas e eu olhei para Kenneth. Ele estava petrificado, e ao mesmo tempo confuso.

— E você? — Tommy chamou minha atenção — Como conhecia Kenneth?

Incógnita: Deixe-o irDonde viven las historias. Descúbrelo ahora