Capítulo 19

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Senti meu coração se partir em um milhão de pedaços; minha garganta se fechou e eu queria chorar ali mesmo. Kenneth havia ido embora; havia sumido diante de meus olhos e eu não havia dito nada para ele.

Uma confusão de sentimentos me atingiu e eu me senti sendo arrastada para outro tempo; era como se eu revivesse uma época que não me pertencia. Eu era Lira, vendo meu Elias morrer.

— Senhorita? — Katarine chamou — Kenneth não está mais aqui, não é?

Olhei para pêndulo que havia parado de balançar; e então olhei para Camile que ainda chorava nos braços de Tommy. Katarine estava abalada, mas parecia aliviada.

— Sim. — respondi a ela — está tudo certo. Obrigada.

— Por nada. E não se preocupe. Eu farei algo com minha filha. — Katarine soluçou — Não foi certo.

— Mas já aconteceu — sussurrei — ele já se foi e não tem mais volta.

Ela ficou calada e eu saí dali. As lágrimas caíram violentamente; meu coração estava se rasgando e eu não me importei com aqueles que me olhavam. Eu não entendia nada que estava acontecendo; Kenneth e eu não nos conhecemos tanto, mas o tempo que passamos juntos me fez ver o que ele teria sido; nós teríamos sido.

Corri até minhas pernas ficarem bambas; o mar surgiu na minha frente e eu me joguei em um dos bancos. O choro violento machucava minha garganta. Meus olhos doíam assim como minha cabeça. Eu queria apenas fechar os olhos e dormir, mas, logo, eu lembrava que ele não estava mais ali. O amor da minha vida não estava mais ali.

Era engraçado o fato de sempre irmos atrás da nossa cara metade, e muitas vezes ficarmos frustrados por não sabermos quem ela é. Quem é a pessoa que vai se encaixar em você e te fazer feliz? Agora, eu digo que não é tão bom saber. Afinal, quem garante que o amor da sua vida já não está morto? O meu se foi, e eu não sei se haverá outro que me fará sentir completa. Eu deixei o amor da minha vida ir na vida passada. Deixei-o escapar sem nem ao menos querer.

— Kenneth... — chorei baixinho.

Ergui os olhos aos céus; o azul limpo e brilhando fazia minha vista doer, mas eu não podia deixar de olhar. Meu coração se aquecia ao pensar que ele poderia estar lá neste momento, descansando enfim.

— Laysla? — ouvi uma voz familiar e pouco presente.

Virei o rosto, ficando perplexa ao encontrar o rosto de minha mãe ali. Ela estava do mesmo jeito de sempre; cabelos amarrados, roupas de russos e expressão séria, mas olhar amável.

— Mãe — sussurrei

— Oh, minha menina — ela correu e me abraçou forte.

Eu fiquei como uma estatua; parada e recebendo seu abraço sem nem ao menos retribuir.

— Que faz aqui, minha pequena? — ela segurou meu rosto com as duas mãos e olhou em meus olhos — estava chorando?

— Estou bem — dei um passo para trás — que veio fazer aqui?

— Sua avó disse que talvez estivesse aqui...

— Digo aqui, na Itália. — esclareci.

— Ah. Vim ver você e minha sogra, não é? — ela sorriu largamente — Que outro motivo?

— Claro — sequei meu rosto

— O que houve com você?

— Nada que mereça sua atenção.

— Ah — ela abaixou o olhar — eu... queria saber como você está. Já decidiu que faculdade fazer?

Pisquei meio desorientada. Minha mente vagou em Kenneth e em seu sorriso debochado que me fez dá um sorrisinho.

— Jornalismo investigativo — respondi.

— Ah. Que bom. — ela sorriu meio sem jeito — Você tem jeito para isso.

— Sim. — concordei.

— Vamos dá uma volta? — ela convidou — Não venho à Castelsardo há muito tempo.

— Chame o papai — falei — vocês não vêm aqui porque não querem. Não moram aqui porque não querem. Motivo tem.

— Laysla... — ela tentou

— Quero ficar sozinha — disse — já chega de pessoas temporárias. Não estou no clima para ver ninguém mais ir embora hoje.

Comecei a andar e deixei-a sozinha. O choro voltou imediatamente, e eu não tentei parar.

Andar pela cidade e pensar em mim aqui em outra vida me deixava perplexa; sorria um pouco ao imaginar Elias e Lira tendo mais tempo que Kenneth e eu; sorria ao imaginar os momentos dos dois, e chorava ao lembrar do beijo que Kenneth e eu compartilhamos. O beijo suave e macio; quase como um sopro. Era tão dolorido pensar que não tivemos mais tempo. Devíamos ter tido.

— Ah, Kenneth — solucei — Não quero te deixar ir.

Meu coração doeu mais uma vez. Ele não devia ter morrido. Ele devia estar aqui. Eu não merecia isso.

— Laysla — alguém chamou — Laysla!

Olhei para trás e vi o ex cunhado de Kenneth.

— Ah, você! — bufei — O que quer?

— Eu soube que Kenneth está livre — ele disse — eu fico feliz por ele ter ficado bem.

— É — cruzei os braços.

— Me chamo Cannon. — ele se apresentou.

— Por que está sendo legal agora?

— Fiquei pensando na sua determinação para decifrar isso. Um caso fantasma.

— Ah. — revirei os olhos — Sem elogios.

— Você se apaixonou por Kenneth, não é?

— O que te faz pensar isso? — perguntei em um tom debochado.

— Seus olhos vermelhos. Está chorando por ele ter ido.

— Estou feliz por isso ter acabado.

— Mentira.

— Vai pro inferno.

— Quer tomar um café? — ele riu.

— Eu vou para casa. — bufei — obrigada.

— Ei... — ele se aproximou e ergueu um papel entre nós. — liga para mim. Vou ficar na cidade. Acho que você precisa de companhia.

— Eu não te conheço — peguei o papel com raiva

— Mas pode conhecer — ele sorriu

— Qual seu interesse?

— Não sei — ele deu de ombros — há um certo charme em você. Desde que me enfrentou e me acusou de assassinato.

— Passar bem. — me virei, andando para longe dele.

Na minha casa, minha avó tricotava um par de meias. Seu sorriso fraco surgiu e eu retribuí muito forçadamente. Meus pais não estavam ali, e eu não me importei. Subi as escadas sem o menor ânimo. Passei pela porta e a bati; minha pele se arrepiou quando a figura sentada na poltrona ao canto ganhou forma.

— Kenneth? — chamei, completamente descrente.

Seus olhos vieram para os meus e eu sentia algo se acender dentro de mim. Mas, também, a realidade me atingiu como um soco no estomago. Ele ainda estava aqui.

— Não deu certo — ele sussurrou o problema evidente— Não funcionou, Laysla.

Incógnita: Deixe-o irМесто, где живут истории. Откройте их для себя