Capítulo 22

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Eu estava andando pelas ruas sem nenhum rumo. Não queria ter que encarar Kenneth e dizer para ele ir. Eu não posso deixar ele ir embora. Meu único amor, o amor da minha vida e de outras passadas; eu sou sozinha, nunca participei tanto da vida, até que o conheci.

— Eu o deixei ir uma vez — sussurrei

— Laysla? — alguém chamou.

Olhei para trás para ver Cannon correndo na minha direção.

— Ótimo! — cruzei os braços e ele chegou até mim sorrindo.

— Oi. — ele disse — você não ligou.

— Talvez eu não esteja interessada — dei de ombros

— Nossa, isso machuca.

— O que você quer?

— Quero um tempo com você. Só isso.

— Estou apaixonada pelo Kenneth — disse sem medo algum.

Cannon perdeu o sorriso e me olhou surpreso.

— Ria. Diga algo. — desafiei

— Kenneth já foi...

— Não. A confissão de Camile não surtiu efeito porque ele está preso a mim agora. Só eu posso deixa-lo ir. — era bom partilhar isso com alguém real.

— Uau... — ele passou as mãos no cabelo.

Cannon era bonito. Tinha os cabelos loiros como os da irmã; era forte de um jeito nada estético. Usava roupas folgadas, e nem um pouco caras. Ele parecia ser comum e nem um pouco metido a besta, mesmo com o modo como nos conhecemos.

— Você sabe que ele está morto, né? — ele disse

— Eu sinto ele. Ele pode me tocar. — contei

— Mesmo assim. — Cannon afirmou — Esse mundo não é mais dele, o que pode acontecer se ele ficar vagando por aqui?

Ele cairá no esquecimento próprio e não será mais ele ali.

— Eu posso contornar isso — tentei

— Laysla. — Cannon me segurou pelos dois braços. — Você não pode fazer isso. Isso é egoísmo.

— Eu o amo.

— Ele morreu!

Minha mão atingiu o rosto dele em cheio. Ele me olhou descrente, mas apenas suspirou.

— Kenneth merece descanso. — ele disse

— Você não gosta dele! — acusei

— É. — ele rosnou — e se eu que não gosto quero a paz dele, você que ama deveria querer ainda mais.

Ele saiu andando e me deixou à beira de um ataque de choro.

Sentei no chão e me pus a pensar; tudo que passei ao lado de Kenneth e tudo que ele me disse. As coisas que descobrimos juntos e que conquistamos. Logo, me veio á mente o como seria se ele não tivessse morrido. Eu e ele, juntos, casados, nos amando.

Camile! Tudo culpa dela!

Comecei a chorar, vendo que alimentar um sentimento de ódio não era a melhor saída.

Me pus de pé e corri para casa, era hora de enfrentar isso.

Minha avó esperava-me na porta da loja. Quando me viu, pareceu ter visto uma luz.

— Que houve? — perguntei

— Kenneth esqueceu do cunhado, da esposa e da filha. — ela contou — logo vai esquecer de nós e vai ficar aqui. Pelo amor de Deus, Laysla Agarelli, faça o que é certo.

Respirei fundo e entrei na loja. Kenneth estava sentado no sofá, olhado para as próprias mãos. Ele sentiu minha presença, pois olhou para mim.

— Laysla — ele se levantou

— Oi. — caminhei até ele e sorri — não critique o senhor todo poderoso, e seja bonzinho.

— O quê? — ele franziu o cenho.

— Deixo você ir — sussurrei e toquei seu rosto — descanse, Kenneth Walker.

— Laysla — ele ergueu a mão para tocar meu rosto, mas eu mal sentia seu toque agora. — vamos nos ver de novo. Em outra vida, está bem? Eu amo você. E vamos ficar juntos, nem que eu tenha que reencarnar um milhão de vezes.

— Eu te amo, Kenneth — disse — adeus.

Ele sorriu e veio para me beijar. Eu fechei meus olhos, esperando pelo suave toque de seus lábios, mas nada aconteceu. Quando abri meus olhos, ele já não estava mais ali. Kenneth se foi.

No fim daquele mesmo dia, eu estava sentada perto do mar. O sol sumia ao fundo e eu sorria. Kenneth devia estar em paz finalmente, e eu sentia a saudade machucar meu peito. Não sabia como seriam as coisas daqui por diante. Não sabia se iria me apaixonar, ou se isso nunca iria acontecer. Eu não tinha respostas para isso, mas eu não precisava pensar nisso agora. Eu iria para a faculdade, me formaria em jornalismo investigativo, e levaria uma vida tranquila, deixando as coisas se encaixarem sozinhas. Talvez ligasse para Cannon e juntos tomássemos um café, ou quem sabe eu simplesmente visitasse meus pais na Rússia.

Eu tive a prova do que é um amor verdadeiro, um amor que atravessa vidas e até a morte, muitos nem isso conseguem. Não preciso me preocupar agora, não é? Mas, não vai parar de doer, disso bem sei. Sinto falta dele, mas sei que ele tinha que ir.

Comecei a andar, e foi uma grande surpresa encontrar minha avó andando por ali também.

— Que faz aqui? — sorri

— Achei que precisava de companhia — ela sorriu

— Agradeço. — andei ao lado dela.

— Kenneth vai ficar bem, e você também. — ela falou — nossa vida é cheia de amores.

— Mas nunca do mesmo jeito. — falei e ela riu

— Claro que não do mesmo jeito. — ela me olhou — mas o que nos impede de amar? Ele está morto impediu?

— Não. — sussurrei, e ela voltou a olhar para frente. — Se Kenneth é o amor da minha vida, por que nunca ficamos juntos?

— Isso é uma incógnita. — ela respondeu — mas tem uma frase que pode lhe responder: alguns amores nunca serão nossos.

— Mas isso machuca. — protestei

— Sim. — ela suspirou — mas, querida, vai dá tudo certo. O amor de sua vida se foi, mas te ensinou a amar e acreditar no amor. Talvez nossos amores sirvam para deixar algo de bom conosco. E isso os torna o amor de nossas vidas.

— Bom... — sorri — em outra vida então.

— Sim. — ela riu e segurou minha mão.

Juntas seguimos caminho, e eu evitei pensar no desconhecido    

Incógnita: Deixe-o irWhere stories live. Discover now