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Uma semana depois

— Hércules, será que dá para parar com essa bebedeira – já faz uma semana que está assim, perdeu o emprego, até quando vai se afundar? — Minha mãe toma a garrafa de Whisky da minha mão.

— Só assim para amenizar tamanha dor, mãe. — Choro jogado no chão, enquanto seguro uma fotografia de Eva e eu.

A campainha toca e é uma amiga da minha mãe, uma mulher muito bonita, aparenta seus vinte e cinco anos.

— Hércules, esta é a Michele – ela trabalha comigo no restaurante. — A mulher se agacha do meu lado, tocando a minha mão, a olho sem nenhum interesse.

— Prazer em conhece-lo, sua mãe fala muito bem de você e é uma pena, vê-lo assim. — Ela olha para mim com compaixão.

— Não precisa sentir pena, eu vou ficar bem – obrigado. — Me levanto e vou para o meu quarto.

Eu sei que a intenção da minha mãe é me ajudar, mas não tenho cabeça para conhecer ninguém – foram seis anos me dedicando a Eva e a um relacionamento que eu julgava ser perfeito. Eu sabia como ela era, mas no fundo, tinha esperanças que ela mudasse e percebesse que existem coisas mais importantes que o dinheiro. Passei o dia trancado no quarto bebendo, não lembro qual foi a última vez que comi, mas de qualquer maneira – não tenho fome.

— Hércules, sou eu – Tadeu. Abre a porta cara. — Tadeu esmurra a porta e minha cabeça começa a doer muito.

— Vai embora, não quero ver ninguém! — Minha visão está embaçada e minha cabeça rodando.

Tadeu arromba a porta e mal consigo olhar para ele, sinto meu corpo gelar e perco os sentidos.

Acordo no hospital São Cristóvão, dois dias depois. Eu entrei em um coma alcoólico profundo – com um pouco de dificuldade, levanto da cama e me encaro no pequeno espelho na parede, estou irreconhecível! Perdi peso – meu semblante é de um fracassado e é assim que eu realmente me sinto.

— Meu filho, que bom que se sente melhor. — Minha mãe e eu nos abraçamos fortemente.

— Obrigado, mãe. Me sinto um derrotado. — Sento na beirada da cama desanimado.

— Para com isso! Enquanto eu estiver aqui, você não vai ser um fracassado. Eu paguei a mensalidade da sua faculdade, não vai jogar anos de estudo no ralo por uma mulher que não vale nada. — Minha mãe se enche de raiva ao falar da Eva.

— Mãe...

— É a verdade! Eva não vale nada, quase destruiu a sua vida – agora sim você vai esquecê-la de vez. Não quero te perder meu filho.

— Queria olhar nos olhos dela e ouvir de sua boca que não passou de uma ilusão tudo que a gente viveu. — As lágrimas são inevitáveis ao falar dela.

— Para de pensar nessa mulher, ela não merece uma lágrima que escorre dos seus olhos – Soraia veio te ver, mas eu a expulsei.

— Fez muito mal, Dona Soraia não tem culpa de nada e sempre agiu bem comigo – até bateu na Eva por mim então, não faça mais isso. — Realmente não aprovei essa atitude, eu adoro a Soraia.

Na hora do almoço, consegui tomar a sopa, estou voltando a me alimentar e me sinto melhor – ao menos fisicamente.

Querendo ou não, preciso seguir em frente – Michele veio me visitar e passou boa parte do tempo comigo – embora tenha sido atenciosa, não quero iniciar uma relação agora, só faria mal a ela e não é justo.

A tarde recebi alta e fui para casa, estava decidido a não beber mais – mas tudo mudou quando deitei na minha cama e senti o cheiro da Eva impregnado no travesseiro. Me agarrei a ele como se estivesse abraçando o seu corpo e chorei feito uma criança. Peguei algum dinheiro que ainda tinha e fui para o bar beber, só assim para amenizar o sofrimento que estou sentindo.

A Perdição de EvaWhere stories live. Discover now