I

6.2K 474 10
                                    

Londres, Casa dos St. John, 1844


Quando Caroline Pearson chegou ao baile de Lady Nicholas a orquestra já tinha começado. Seu pai, como de costume, ficara preso no trabalho do jornal até tarde. E embora Caroline estivesse ansiosa, sabia que sua mãe não gostaria de sair sem o marido, mesmo que ele pudesse encontrá-las mais tarde na casa de lorde St. John.A noite de hoje era especial. Sua amiga Elizabeth St. John iria oficializar o noivado com o Visconde Althorp. Para Caroline era uma satisfação particular ver a felicidade dos noivos. Frederick começou a cortejá-la na temporada anterior, assim que ela debutou na sociedade. Ele era bonito e gentil, entretanto, ela logo percebeu que entre eles não haveria qualquer sentimento amoroso. Caroline também percebeu que sua tímida amiga sempre sorria mais quando o jovem visconde estava por perto. O mínimo que ela poderia fazer era tentar unir os dois, o que conseguiu sem muito esforço.

Lorde Althorp e Lady Elizabeth estavam recebendo os convidados, junto com os pais de Elizabeth e a Viscondessa viúva. Elizabeth estava radiante e Caroline lamentou que estivessem em um lugar público, adoraria poder dar um abraço na amiga.
Apesar das muitas preocupações e receios de Georgiana, o debute de Caroline tinha sido um sucesso, tudo correra bem e a jovem foi muito bem aceita nos eventos da sociedade. A verdade era que mesmo sem um título, Duncan West era uma pessoa importante na sociedade londrina, sua riqueza e a influência de seus jornais eram reconhecidas e invejadas. Por sua vez, Georgiana West conquistara um lugar no Comitê de Seleção da Real Academia, participava de várias organizações de caridade e sua presença era requisitada nos melhores salões da alta sociedade. Também havia o onipresente Chase. Graças a ele e ao Anjo Caído, Caroline possuía um dote absurdamente grande. O escândalo que marcara a vida de Georgiana e a infância de Caroline estava num passado distante.

- Está fazendo de novo.

Georgiana falou ao ouvido de Caroline.

- Mãe, que susto! O que eu estou fazendo de novo?
- Lorde Fletcher a convidou para dançar e você delicadamente o empurrou para Constance.
Caroline sorriu com inocência para a mãe.
- Prometi essa valsa para papai.
- Terei que avisar ao seu pai que as valsas são apenas para pretendentes.
- Não avisará nada. Além do mais, Constance estava muito animada com o convite de lorde Fletcher e eu não. Deixemos que os dois se divirtam.
Caroline falou num tom conspiratório, Georgiana devolveu o sorriso.
- Acha que eles vão se apaixonar como Elizabeth e Althorp? Você mocinha está se tornando uma velha alcoviteira.
Georgiana tocou o nariz da filha com a ponta do dedo, como se ela ainda fosse uma criança de 8 anos.
- Não sou alcoviteira, apenas reconheço um bom casal quando vejo um. Caroline respondeu, com um leve dar de ombros - Ainda acha que eu errei em desencorajar Althorp?
- Bem agora isso não importa. Mas não acho. Quando ele começou a cortejá-la realmente tive esperanças, é um bom rapaz, entretanto ele se apaixonou rapidamente por Elizabeth, sinal de que não havia sentimentos por você.
- Tive certeza que não haveria nada entre nós logo que nos conhecemos. Faltava algo, eu não sei... sempre parece faltar algo
Caroline suspirou levemente.
Sua mãe segurou seus ombros em um quase abraço.
- Não sejamos tão definitivas, é sua segunda temporada e você tem apenas 20 anos, há bastante tempo para você encontrar alguém.
Caroline sorriu e foi valsar com o pai.
No dia do casamento de Georgiana e Duncan Caroline estava radiante. Aos 9 anos ela era excêntrica e nem um pouco tímida, não foi inesperado que ela exigisse uma dança com o marido da mãe, e que surpresa aquela menina teve quando, envergonhado, Duncan assumiu que nunca tinha aprendido a dançar. Caroline então o puxou para uma sala afastada e lhe deu a primeira de muitas lições de dança que se seguiram. Gostava daqueles momentos pai e filha. Ela nunca duvidou que ele quisesse o bem dela, mas não imaginou que a relação dos dois se tornaria tão próxima. Claro que o pedido que o padrasto fez no primeiro aniversário que comemorou com elas apressou a adaptação. Ele cuidava tão bem dela, assim como cuidava dos irmãos dela, era muito fácil enxergar nele a figura paterna que ele tanto queria ser.
- Sua mãe está aborrecida porque roubei uma valsa.
- Ela tem que se conformar que a professora tem direito a pelo menos uma dança de cada baile.
- Você está certíssima.
West a girou e perguntou, estreitando os olhos num gesto de desconfiança teatral.
- Algum cavalheiro com quem me preocupar essa noite?
- Não. Pode desfrutar de uma noite tranquila, poderá até mesmo dançar com sua esposa. Não tenho planos de me apaixonar perdidamente hoje.
- Muito bem então.
Quando voltaram ao lugar em que Georgiana os esperava ela não estava sozinha. Lorde e Lady Nicholas conversavam com ela e também outro cavalheiro. Apenas quando chegou mais perto Caroline reconheceu o conde de Reddich.
- Senhorita Pearson é um prazer revê-la.
Reddich a cumprimentou com uma elegante reverência.
Caroline também se curvou e sorriu. Eles se trataram pelo primeiro nome nas vezes em que se encontraram em Yorkshire, mas ali, nos salões de baile de Londres, onde a formalidade ditava cada passo e cada palavra, não havia espaço para esse tipo de intimidade, mesmo que fosse apenas uma intimidade amistosa.
Caroline avaliou James com cuidado. Ele parecia muito bem e ela agradeceu em pensamento por isso. Conhecia-o desde que era criança, embora seus caminhos não fossem sempre os mesmos. Era um cavalheiro gentil e carismático. Ficara viúvo a pouco mais de 3 anos. A esposa, Adélia, morrera de parto e deixara uma linda menina, que era a alegria do pai. James que sempre fora uma figura presente na Câmara dos Lordes se retirara para o campo permanecendo por lá o máximo possível.
Caroline achava que era a primeira temporada em Londres depois da morte da esposa. O noivado da sobrinha certamente era motivo suficiente para tirá-lo de seu refúgio. Correu o olhar pelo salão e viu que várias pessoas olhavam para eles, principalmente as damas solteiras.
Sim. O conde de Reddich estava na temporada de Londres.
- James, a próxima dança demorará um momento para começar, você e Caroline poderiam aproveitar para dar uma volta.
Isabel sugeriu ao irmão, que a olhou desconfiado.
- Uma ótima ideia, Isabel. Georgiana falou rodeando Caroline para dar o braço para o marido e assim deixar a filha ao lado do conde.
Caroline não pode deixar de sorrir da expressão no rosto do conde, mas não havia incômodo algum em passear pelo salão com ele. Logo concordou com a ideia.
- Elas não foram muito discretas. James falou, tão logo se afastaram da família. - Minha irmã está se fazendo de velha alcoviteira com toda dama elegível e parece que sua mãe também...
- Não, minha mãe saberia que nós...
Caroline quase disse que eles não combinavam, mas pensou melhor. Reddich talvez não interpretasse as palavras da maneira correta.
- Que nós...
Ele ergueu a sobrancelha num gesto interrogativo.
- Ela não seria assim tão óbvia. Cumprimentaram o duque de Lamont e sua esposa e continuaram o lento passeio. - Minha mãe provavelmente espera que eu te apresente a alguma de minhas amigas.
- Verdade?
- Sim, eu faço muito isso.
- Então você que é a velha alcoviteira.
Ele acusou com um pequeno sorriso.
Caroline riu com o comentário, não imaginava que o conde tivesse um humor tão leve.
- Não é a primeira vez que sou chamada disso esta noite.
- Posso perguntar por que ganhou a alcunha de alcoviteira?
- Apenas sei reconhecer quando um casal combina. É um dom.
Ela respondeu com um leve dar de ombros.
- Cuidado. A srt. Woodhouse também se dedicou a unir casais e acabou em uma grande confusão por isso.
- Conde de Reddich, o senhor acaba de citar um personagem de Jane Austen?
Caroline perguntou, sorrindo amplamente, interrompendo a lenta caminhada deles.
- Sim. James respondeu, sorrindo mais uma vez. - Adélia gostava de ler.
- Oh...
Caroline exclamou simplesmente. Sentia que deveria dizer algo, mas não conseguiu decidir o quê, e ela definitivamente era o tipo de pessoa que sempre sabia o que dizer. Mas certas ocasiões, como jovens viúvos falando sobre suas esposas falecidas não possuíam etiqueta própria.
- Você pretende usar seu dom em prol da minha causa?
James continuou a conversa para alívio de Caroline
- Se o senhor desejar...
- Não me oponha que me apresente à suas amigas. Aumentam as chances de gostar da dama.
- Aceitarei isso como um elogio.
- Fico feliz que aceite.
Eles pararam para que James cumprimentasse um antigo colega de Oxford, o homem era um capitão licenciado do exército. Os dois antigos colegas engataram num diálogo animado. Caroline não se incomodou de esperar junto a Reddich, aproveitando o momento para observar o salão. Foi quando o viu. O homem estava com outros dois cavalheiros que conversavam compenetrados, ele permanecia alheio aos dois, pois aparentemente estava muito ocupado olhando para ela.

O lado bom de um escândalo [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora