XVII

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James estava na Casa de Minerva quando um dos cavalariços de Townsend Park lhe trouxe a notícia sobre o sequestro da condessa. Rock não estava na casa, estava na vila. Enviou o mesmo cavalariço até a casa de Isabel a fim de avisar St. John e cavalgou de volta para casa. Precisava juntar o dinheiro exigido.
Não haveria heroísmos. James pagaria o que fosse necessário.
Duas horas mais tarde James cavalgava para a vila. Não permitiu que nenhum de seus empregados o acompanhasse. Se Birminghan visse muitos homens armados, certamente se assustaria, colocando a vida de Caroline em risco.
Encontrou St. John no caminho. Não queria que o cunhado o acompanhasse, mas ele negou-se a deixar que James fosse sozinho. Antes de se dirigirem à capela encontraram Rock e elaboraram um plano.
James aceitou de contragosto. Queria ir sozinho, temia colocar a vida de Caroline em risco caso Birminghan desconfiasse da presença de outras pessoas. Entretanto, seus dois amigos não aceitaram suas negativas. St. John e Rock sabiam bem como lidar com esse tipo de situação, ficariam escondidos e em alerta. Nenhum dos dois confiava em Birminghan.
James entrou na capela com a bolsa contendo dinheiro e joias e esperou. Após mais de dois quartos de hora um moleque com uns dez anos de idade sentou-se ao seu lado no banco e entregou-lhe um bilhete.
Sentiu seu corpo enrijecer de ódio e desespero ao perceber que Birminghan brincava com ele. Deixou que o menino pegasse a bolsa com o dinheiro e saiu correndo da Capela em busca do próprio cavalo.
Sequer chamou por St. John e Rock. Subiu no cavalo e incitou o animal a correr.
...
- Levante-se! - Birminghan ordenou, ao entrar no quarto. – Vamos devolvê-la para o seu conde.
Caroline sentiu o pulso acelerar, seria tão fácil voltar para casa?
Seus olhos foram vendados e sua boca amordaçada, de maneira bruta foi colocada em cima do cavalo que ela imaginava fosse de Birminghan.
Depois de um tempo os cavalos pararam e Caroline foi obrigada a descer da montaria. Não retiraram a venda tampouco o pano que cobria-lhe a boca. Um homem de modos rudes segurava a corda que amarrava seus braços. Birminghan caminhava logo atrás.
Caroline distinguiu o som das águas.
Estavam perto da cachoeira.
Estavam perto de Townsend Park.
- Aqui está bom
Caroline ouviu Birminghan dizer. Ele retirou a venda de seus olhos. O sol já estava se pondo e as sombras das árvores tornavam o lugar ainda mais escuro. Ou seria seu medo que a fazia achar aquele lugar sombrio?
Os três ficaram em pé encarando-se em silêncio.
O bosque parecia compartilhar o silêncio deles também.
Minutos se passaram até que Birminghan retirou o pano da boca de Caroline.
- Por que você está aqui? – Ela quis saber.
Ele havia dito que não se ariscaria. O capanga dele estava ali, a presença dele era desnecessária!
- Decidi que valia a pena ver seu reencontro com seu conde. – Birminghan respondeu, em tom de deboche – Sou um nobre romântico.
Caroline abriu a boca para falar, mas os gritos de um homem a interromperam.
- Birminghan! Estou aqui!
Sentiu os olhos marejados de lágrimas ao reconhecer a voz de James. Respirou fundo uma, duas vezes. Precisava manter a calma. Não podia desmoronar agora.
- Não irá respondê-lo? – Birminghan inquiriu.
- Você não recebeu seu dinheiro? – Caroline quis saber, ignorando a pergunta dele.
- Oh, sim. Dinheiro e joias. O suficiente para um homem viver comodamente por vários anos. Em outro lugar, óbvio, já que não posso voltar para Londres.
- Então, por que ainda está aqui? Pensei que não quisesse arriscar sua pele.
Birminghan deu de ombros indolentemente, embora Caroline percebesse que seu capanga não compartilhava da mesma tranquilidade.
- Desejo apenas assistir seu retorno à sua casa. – Respondeu, com uma calma enervante. – Escolhi esse local justamente por causa do trecho do rio em que se pode passar a pé. Você pode andar por ali e atravessar o rio, molhando apenas as suas botas e estará em casa.
Caroline permaneceu onde estava. Escutou James gritar novamente. Dessa vez Birminghan respondeu.
- Estou aqui, Reddich. A condessa também.
E encarando Caroline perguntou:
- Não vai responder ao seu esposo?
- Não.
Ele franziu o cenho e estreitou os olhos em sua direção. O capanga, que estava cada vez mais inquieto ousou falar:
- Senhor, estamos nas terras do conde, deveríamos ir.
- O conde não ousará fazer nada que possa colocar a vida da condessa em risco. Não estamos em perigo.
Birmingham tinha razão. Caroline sabia que James não faria nada que a colocasse em perigo. Seu marido provavelmente estava sozinho. Desarmado. Esperando que Birminghan cumprisse sua parte no acordo e se contentasse com o dinheiro. Contudo, James não conhecia as motivações de Birminghan. Não sabia que ele agia impulsionado pela vingança e que a vingança não se alimenta de libras nem de joias, mas de dor e sofrimento.
O capanga cansou de esperar e montou seu cavalo sem uma palavra. Se Birminghan notou não pareceu se importar. Ele permanecia de pé, encarando Caroline. Sua expressão sombria deixando claro para os dois como aquele dia terminaria.
- Você pode andar mesmo com as mãos amarradas. – Birminghan apontou na direção do rio – Não está ansiosa para retornar para a sua família?
- Por quê? – Caroline perguntou, com uma calma que não sabia de onde vinha – Não tem coragem de atirar em mim olhando-me nos olhos?
Birminghan riu, balançando a cabeça em negação.
Caroline não esperou a contradição dele. Ele tinha uma pistola e ela estava desarmada. Mesmo se gritasse por James não haveria tempo, provavelmente apenas conseguiria que ele fosse morto também.
Birminghan manipulou o jogo e estava ganhando.
Por pouco tempo, isso era certo. Não haveria lugar em que ele pudesse se esconder da ira do Anjo Caído.
- Sabe, Matthew. O homem que engravidou minha mãe era um simples empregado, que fugiu e nunca mais apareceu. Você está enganado em pensar que Chase é o meu pai.
- Isso não importa agora. – Ele falou, entredentes.
- Oh... importa sim. Eu quero que você saiba. Chase não é o meu pai, Chase é a minha mãe.
Caroline sorriu ao ver a surpresa do homem de pé a sua frente. Provavelmente ele estava recordando todas as vezes em que Georgiana West esteve ao seu alcance.
- Está mentindo! – Ele acusou. Apontando a pistola em sua direção.
- Não estou. – Caroline não hesitou. Suas mãos estavam geladas e seu coração acelerado, mesmo assim manteve-se impassível em seu lugar – Você é inteligente o suficiente para ver a lógica disso tudo, Matthew. Quem iria desconfiar de uma mulher?
As mãos de Birminghan tremiam. Ele não abaixou a arma. Caroline esperou, rezando que James não surgisse ali naquele instante. Se não podia salvar-se pelo menos poderia salvá-lo.
Um cachorro uivou ao longe e pássaros voaram em todas as direções quando um único tiro ressoou pelo bosque.
...
Caroline fechou os olhos. Não houve dor. Não sentiu seu corpo partir-se em mil pedaços. Tampouco sua carne rasgar-se quando a bala o perfurou.
Abriu os olhos e observou enquanto Birminghan caía no chão. O sangue que jorrava de seu peito rapidamente manchava seu traje impecável. A pistola que ele antes segurava caíra de sua mão antes mesmo que ele se desse conta de que fora atingido.
Um peso enorme caiu sobre Caroline, desequilibrando-a e jogando-a no chão. Mãos grandes seguraram sua cabeça, protegendo-a do impacto. O cheiro familiar de James invadiu suas narinas quando ela enfiou o rosto na curva do pescoço dele enquanto ele a abraçava. Escutou as vozes de St. John e Rock.
Estava tudo bem.
Estava a salvo.
Ela poderia desmoronar agora.

 



O lado bom de um escândalo [COMPLETO]Where stories live. Discover now