XIX

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A carruagem do correio demorava cerca de quatro dias para viajar de Yorkshire a Londres, se o tempo estivesse bom, o que raramente acontecia, pois essa era a Inglaterra. Uma carruagem em perfeitas condições, puxada por cavalos jovens e saudáveis realizava a viagem em dois dias e meio ou três dias. Pais preocupados montados a cavalo, parando apenas à noite e retomando a viagem ao nascer do sol conseguiam fazer a viagem em um dia e meio.
Caroline não deveria ter estranhado quando seus pais chegaram a Townsend Park, tampouco estranhado que sua mãe usasse de calças e camisa, montando um cavalo com sela para cavaleiros. Escandalizar metade da Inglaterra com um par de calças não era nada para Chase.
Duncan e Georgiana abraçaram a filha sem conter as lágrimas. Caroline também chorou. Ela estava bastante chorona nos últimos dias.
Quando se acalmaram, Caroline contou toda a conversa que teve com Birminghan.
- O marquês de Belmont, eu me lembro bem dele. Um homem odioso metido em todo tipo de negócios escusos. - Georgiana falou.
- Tráfico de ópio, contrabando de bebidas francesas, sequestro de crianças e moças de famílias pobres da região do campo para vender como escravas. - Duncan completou - Foi uma das primeiras vezes em que eu trabalhei junto com Chase. Denunciamos tudo no meu jornal.
- O que o marquês perdeu para o Anjo Caído foi só o começo. Nós queríamos arruiná-lo. Ele precisava ser detido. - Georgiana apertou as mãos de Caroline entre as suas. - Sinto muito querida que você tenha sido alvo da vingança desse homem. Mas o pai dele mereceu o fim que teve.
- Matthew poderia ter tido outra vida, afinal o tio, como ele mesmo disse, ofereceu-lhe oportunidade de trabalho, ele escolheu a vingança ao invés disso. - Caroline deu de ombros. - Ele colheu o resultado de seus atos.
Caroline contara para James sobre o Anjo Caído e sobre a verdadeira identidade de Chase, ele ficou surpreso ao saber que a sogra comandava o maior cassino de Londres. E embora ele soubesse toda a verdade ficou ainda mais surpreso ao ver a sogra trajando roupas masculinas.
Conversaram sobre outros temas mais amenos. James chamou West para ver um potro que nascera naquele mesmo dia, deixando mãe e filha sozinhas.
- Você parece muito bem... Muito feliz. - Georgiana sorriu.
Caroline sorriu abertamente.
- Eu estou imensamente feliz. E a senhora também ficará quando eu lhe disser que Isabel e a senhora tinham razão: James é perfeito para mim e eu sou perfeita para ele.
Georgiana abraçou a filha mais uma vez.
- Você está um pouco pálida, minha querida? Está doente?
- Eu vomitei um pouco essa manhã, deve ser algo em meu estômago. - Caroline respondeu sem dar muito importância.
Georgiana fitou-a com olhos experientes.
- O quê?
- Enjoos?
- Sim. - Caroline confirmou e como sua mãe continuasse a encará-la, perguntou novamente - O quê?
- Sono?
- Sim. Tenho realmente dormido bastante... Oh meu Deus!
Caroline colocou a mão na boca em sinal de surpresa.
Não! Era muito cedo para ela estar grávida, afinal suas regras tinham vindo em... Tentou recordar a data...
- Estou grávida!
- Sim! Oh meu Deus! Eu não tenho idade para ser avó! - Georgiana exclamou, abraçando a filha novamente.
...

À noite durante o jantar, em que estavam presentes Rock e Lara, St, John e Isabel, bem como Duncan e West, Caroline deu a maravilhosa notícia da gravidez. Em meio às felicitações de todos e a sua própria alegria não percebeu a sombra negra que passou rapidamente pelos olhos de seu esposo.
Depois de alguns dias Duncan e Georgiana voltaram para Londres.
Os sintomas da gravidez de Caroline se acentuavam a cada dia. Os enjoos tornaram-se intensos e constantes, sentia tanto sono que adormecia em qualquer lugar.
Nicole estava eufórica, fazendo planos para sua nova irmãzinha. Porque a pequena decidira que seria uma menina. Estava tão animada que não se importava que a mãe não pudesse acompanhá-la às brincadeiras e piqueniques.
Quanto à James, Caroline o notava cada dia mais distante, entretanto escolheu não confrontá-lo. Em seu íntimo sabia o que o afligia. Como não era algo que pudesse lhe oferecer garantias, esperou que o tempo providenciasse tudo.
A distância de James rivalizava com seu comportamento superprotetor. A qualquer sinal que Caroline estava se sentindo mal ele chamava um médico. A sra. Hughes ou Antónia tinham ordens de acompanhá-la para todos os lugares. Os passeios de carruagem e cabriolé foram proibidos.
Caroline não se importou. A verdade é que sua disposição diminuíra bastante. Parecia que o bebê sugava-lhe todas as forças e sua barriga era enorme, o que não facilitava em nada a locomoção.
Sabia que devia ter paciência com ele. Que uma esposa grávida despertava temores antes adormecidos. Tudo voltaria ao normal depois que o bebê nascesse e James visse que tudo dera certo.
Ela repetia isso para si mesma, várias vezes por dia.
Houve dias em que realmente pensou em fazer suas malas e as de Nicole e passar alguns dias na casa de seu tio em Essex, quem sabe voltar somente depois que o bebê nascesse...
...

- Mamãe, olhe o que nós achamos.
Nicole correu para o sofá em que Caroline estava deitada no jardim.
Ela reclamara que não suportaria permanecer nenhum minuto a mais dentro de casa, então James chamou alguns criados e levaram um dos sofás da sala de visitas para o jardim. Era um exagero, ela poderia muito bem ficar sentada em uma cadeira, mas o marido não acreditou que fosse suficientemente confortável.
- Deixe-me ver, querida.
Nicole abriu as mãos mostrando um pequeno pássaro com a asa quebrada.
- Acho que ele foi atingido por uma pedra.
- Parece mesmo, teremos que cuidar dele. - Caroline se levantou, devagar. Pelas contas de suas regras, acreditava estar com um pouco mais de sete meses de gravidez. Às vezes acreditava que estava errada, sua barriga era grande demais para isso.

Moveu-se lentamente, como estava acostumada a fazer nos últimos dias.

A dor veio forte e aguda.
Segurou a parte baixa da barriga com uma mão e com a outra segurou-se no braço do sofá. Não precisava ser experiente para saber que havia chegado a hora.
- Suzanna
- Sim milady.
A ama de Nicole se aproximou, arregalando os olhos ao ver o rosto pálido da condessa.
- Irei chamar o conde.
- Não! Chame a sra. Hughes. Nenhuma palavra a lorde Reddich por enquanto.
A sra. Hughes e o sr. Carson ajudaram Caroline a subir as escadas, enquanto dois cavalariços saiam para buscar o médico e Lady Isabel.
- Milady, não deveríamos chamar lorde Reddich agora?
A sra. Hughes perguntou, enxugando a testa de Caroline, que já sofria com contrações seguidas.
- Sim. Creio que ... podem chamá-lo agora...
Quando Isabel e St. John chegaram o trabalho de parto já estava bastante avançado.
O médico que costumava examinar Caroline tivera que viajar às pressas para cuidar de um parente doente. Uma velha parteira da vila fora trazida.
- Seja corajosa, milady. Vamos colocar esses dois para fora
- Esses dois? - Isabel perguntou, encarando a parteira que já se posicionara ao lado de Caroline.
- Olhe para essa menina, milady. Ela diz que está com 7 meses, mas veja o tamanho dessa barriga, como se mexe. São dois sim. Mas milady está abrindo bem, será rápido. - A velha garantiu com um sorriso sem dentes.
Caroline assentiu, entre um gemido e outro. Isabel a incitara a gritar, mas ela temia que James já estivesse na casa e a escutasse.
Dois. Sua mãe tivera os gêmeos e tudo dera certo. Ela também conseguiria.
- Isabel... James chegou?
- Ainda não, mas ele não deve demorar.
...
O cavalariço encontrou o conde Reddich nas terras de um dos arrendatários. Ele imediatamente montou seu cavalo e cavalgou para Townsend Park.
St John estava de pé nas escadas da mansão quando James entrou em casa. Era possível escutar a movimentação das criadas no andar de cima. Um grito agudo reverberou pelas paredes.
James estancou, pálido como a morte.
- Eu... Eu não posso. St. John peça para Isabel ficar com ela. Eu... Eu não posso. - Ele balbuciou e correu para fora antes que St. John pudesse impedi-lo.
St. John subiu as escadas e caminhou pelo corredor que levava ao quarto da condessa.
Parou diante da porta e bateu.
- Lorde St. John. - A governanta cumprimentou ao abrir a porta.
- Sra. Hugues, poderia chamar minha esposa, por favor.
- Sim, milorde.
Isabel saiu do quarto, arrumando os cabelos. Ela parecia cansada.
- Onde ele está?
- Ele saiu.
- Saiu?
- Ele não consegue, Isabel. - St. John falou, defendendo o cunhado. - Eu não o culpo, não tenho certeza se faria diferente no lugar dele.
Isabel praguejou, sua expressão demonstrava o quanto reprovava a atitude do irmão.
- Como Caroline está? St. John quis saber. Já se decidira a ir em busca do cunhado, poderia muito bem levar boas notícias.
- Está tudo indo bem. Não deve demorar muito mais. São dois.
Todo o sangue fugiu do rosto de St. John.
O som da voz de Caroline ressoou pelo corredor.
Isabel voltou para o quarto e St. John desceu para o escritório de James a fim de procurar uma garrafa de whisky.

O lado bom de um escândalo [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora