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  Cerca de duas horas depois, Caroline, Elizabeth e o duque de Leighton adentraram à casa do marquês Trentham. A recepção fora muito agradável. De fato, o homem parecia encantado com a visita surpresa. Quanto à marquesa, embora houvesse agido com a máxima gentileza não passou despercebido para Caroline o olhar avaliativo que a mulher lhe lançou.
Como Caroline esperava, o tio conduziu a conversa com maestria.
Perguntou ao marquês por todos os parentes, elogiou o velho duque, comentou até mesmo acerca de algumas decisões que o marquês tomara na função de magistrado em Lancashire, todas de forma acertada, na humilde opinião de vossa graça.
Elizabeth e Caroline escutavam de forma respeitosa a conversa dos dois homens. Tão quietas e graciosas que poderiam ser confundidas com uma pintura.
- Confesso que foi uma feliz surpresa saber que o marquês também é benfeitor da Casa de Minerva. – Leighton falou, finalmente iniciando o assunto real que os levou até àquela casa.
- Eu tenho conhecimento sobre o lugar, contudo não me chamaria de benfeitor. – Trentham respondeu, sem esconder a confusão que o comentário lhe causou.
- Ora. Trentham, não há necessidade de falsa modéstia. Eu mesmo sou benfeitor do lugar a alguns anos. Sempre admirei o trabalho de Lady Isabel. O senhor na qualidade de representante da lei confere uma proteção necessária àquelas mulheres desamparadas. É um ato de caridade cristã admirável. – Leighton continuou com a bajulação, mas dessa vez falou encarando lady Margareth.
A mulher não ficou imune ao olhar do duque.
Caroline estava correta em sua suposição. A sogra de James não era diferente da maioria dos aristocratas. Para lady Margareth, quem falava naquela sala não era Simon Pearson e sim o ducado Leighton, com sua tradição, influência na sociedade e na Câmara dos Lordes e não menos importante, sua fortuna.
Caroline pensou se por ventura seu tio sofresse algum corte ali, naquela sala, a marquesa esperaria que o sangue vertendo da pele dele tivesse a cor azul celeste. Azul celeste não, o sangue da nobreza seria de um tom de azul mais escuro.
- É de fato um trabalho admirável. Entretanto, preocupo-me que possa vir a trazer alguma consequência para Reddich e a pequena Nicole. – O marquês observou, com certo aborrecimento na voz.
- Não vejo como o acolhimento de moças sem família possa prejudicar Reddich e a filha. – Leighton fingiu desentendimento. – A casa não é de conhecimento público e com a ajuda de benfeitores como nós sua existência certamente permanecerá em sigilo.
O marquês encarou a esposa que nesse momento parecia bastante desconfortável.
Caroline fez um enorme esforço para não sorrir. Por mais que a marquesa especulasse, a única dama de quem ela e o marido tinham conhecimento de ter sido acolhida pela Casa de Minerva era a sobrinha do marquês. Caroline conhecia a história da mulher. Lorde Trentham jamais admitiria que algo tão sórdido ocorrera em sua família.
- Sim, sim. De fato. Essas moças não fazem falta a ninguém. – A marquesa declarou, com certo ar de desprezo.
Deus! Caroline já odiava aquela mulher.
O olhar que Leighton lançou para Lady Margareth teria constrangido qualquer um, contudo, esse era o problema das pessoas arrogantes, sentem-se tão superiores aos demais que são incapazes de perceber seus erros, aliás, se incorrem em erros é puramente por culpa de outras pessoas e não deles.
- Entendo o que a senhora quer dizer, lady Margareth. São moças pobres e sem família. Ninguém recorreria à lei por elas estarem em Yorkshire.
A mulher assentiu a contragosto. Definitivamente aquela não era a sua opinião. Entretanto, era a opinião do duque sentado em sua sala de visitas, ela não iria contradizê-lo.
- Lady Margareth, eu estou ansiosa por conhecer a pequena Nicole. – Caroline falou.
A marquesa não escondeu o espanto ao se voltar para Caroline.
- É claro, minha querida. Perdoe-me por ter esquecido. Ingressei numa conversa tão estimulante com o Trentham que esqueci completamente o propósito de nossa visita. – Leighton sorriu para Caroline, depois dirigiu-se diretamente à marquesa. – Minha sobrinha estava em minha casa quando soube que a filha de Reddich estava em Londres e quis conhecê-la imediatamente. Logo me ofereci para acompanhá-la.
Caroline pensou por um momento que a marquesa recusaria o pedido. Lady Margareth não poderia negar-se abertamente, não obstante, não seria inesperado se ela inventasse um pretexto qualquer para evitar chamar a neta.
Se a marquesa pensou em impedir que Caroline conhecesse a filha de James não teve tempo para agir, o marquês tocou o pequeno sino que chamava a criadagem e pediu ao mordomo que trouxesse a menina.
Pouco tempo depois uma linda garotinha de cabelos castanhos e grandes olhos verdes, entrou na sala de visitas. A marquesa fez as apresentações com uma formalidade excessiva para uma criança de três anos, a menina fez uma desajeitada reverência. Nicole era uma coisinha linda em seu vestido rosa. Ela não se parecia com James, nem com lady Isabel ou qualquer uma de suas filhas. Os traços eram conhecidos, a menina era parecida com lady Adélia.
Caroline sorriu, encantada e completamente apavorada. A ansiedade tomava seu estômago, que no momento, dava mil voltas. Casar com James significava ser a mãe daquela garotinha.
Não era que não gostasse de crianças. Adorava-as! Em seus sonhos de um casamento por amor também havia o sonho de ser mãe. Contudo, como tudo em sua relação com James a realidade não condizia com o plano que havia feito. Tornar-se-ia esposa e mãe. Teria que conquistar aquela garotinha, provavelmente contra a vontade da megera da avó.
- Adoraria levar Nicole para um passeio, milady. – Caroline sorriu confiante. Encarando a marquesa diretamente.
- É muita gentileza, srta. Pearson. Contudo, seria muito abuso da minha parte privar uma jovem dama das diversões da temporada para entreter uma criança.
A marquesa respondeu, enquanto arrumava as tranças da neta.
- Não seria incômodo algum, milady. Tenho certeza que um tempo com Nicole será mais divertido do que qualquer evento da temporada. – Caroline insistiu e dirigindo-se diretamente para a menina – O que acha de tomar um gelado, Nicole?
Como era previsto, a criança abriu um enorme sorriso e balançou a cabeça em um animado assentimento, movendo seus cachos castanhos como pequenas molas de metal.
A marquesa, visivelmente contrariada ordenou que a criada levasse a menina até o quarto. Antes, teve que prometer que a neta iria sim ao passeio.
- É uma bela menina. – Leighton elogiou.
O elogio obviamente era dirigido à menina e ao pai, mas lady Margareth o tomou para si.
- Sim. Ela é um consolo para mim, desde que perdi minha querida Adélia. – A marquesa lamentou, levando as mãos ao peito.
- Tio James ficará imensamente feliz quando voltar à Londres. Ele estava sentindo muito falta da filha. – Era a primeira vez que Elizabeth falara desde que chegaram à casa do marquês, sua observação aparentemente inocente fez lady Margareth empalidecer.
O marquês assentiu em concordância, talvez o homem não soubesse que a esposa trouxera a neta para Londres sem o conhecimento do pai.
- Você sabe quando seu tio retorna dessa viagem, lady Elizabeth? – lady Margareth inquiriu.
- Em 5 ou 6 dias, milady. – Caroline respondeu, atraindo o olhar reprovador da marquesa, por responder uma pergunta que não foi dirigida a ela. – Tão logo James regresse começaremos os preparativos para o casamento. Não fizemos nenhum anúncio formal, contudo, a senhora e lorde Trentham são da família, sei que podemos contar com a discrição de vossa graça.
Caroline sentiu não apenas dois, mas quatro rostos perplexos em sua direção. Ela não contara essa parte do plano para Elizabeth tampouco para o tio. Sabia que o tio não concordaria e tentaria ao máximo dissuadi-la da ideia.
Entretanto, sua decisão estava tomada e ela não voltaria atrás.
- Devemos lhe dar os parabéns, senhorita. – O marquês exclamou, depois de recuperar-se da surpresa.
- James não comentou nada conosco. – Lady Margareth não escondeu o tom de desgosto em sua voz.
- Acertamos o noivado pouco antes que ele viajasse. Creio que estão cientes do lamentável incidente envolvendo nossos nomes. – Caroline explicava com calma, como se ditasse a receita de um bolo, com um sorriso nos lábios. – Infelizmente um inocente interlúdio entre amigos foi interpretado da maneira mais maledicente. Contudo, alguns males vem para o nosso bem, o escândalo fez com que nos aproximássemos.
- As damas da família estão em polvorosa. – Leighton exclamou, como se não tivesse acabado de saber da notícia. – Era da vontade de todos o casamento entre Reddich e minha sobrinha, mesmo antes daquele infeliz mal entendido do baile Rivington. Tenho que confessar que eu, como tio, não poderia estar mais satisfeito.
- Tenho certeza que está! – Lady Margareth murmurou entredentes.
Lorde Trentham perguntou a Leighton sobre qualquer coisa na Câmara dos Lordes, numa tentativa evidente de desviar a atenção de sua esposa. A conversa foi curta, o aborrecimento da marquesa conseguira contaminar o ambiente.

O lado bom de um escândalo [COMPLETO]Where stories live. Discover now