XI

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  (7 Dias depois que James viajou para Yorkshire.
Caroline contou para a marquesa que se casaria com James.
Sabotaram as tipografias dos jornais de West
James recebeu a notícia que estava noivo de Caroline)

Londres
James desceu da carruagem e caminhou até A Casa de Chá Haidiman. Deveria ter chegado à noite anterior à Londres, mas aquela era a Inglaterra e uma chuva sem aviso o deteve, obrigando-o a pernoitar em uma simples, porém quente, estalagem de beira de estrada.
Chegara a Londres muito depois do almoço. Como passara primeiro na casa de Isabel para deixar St. John foi obrigado a se demorar mais do que planejara. Isabel e Lizzie estavam mais do que ansiosas para descrever, com todos os possíveis detalhes, a visita de Caroline e Leighton aos Trentham e de como, aparentemente, tal visita resolvera todos os problemas.
James estava admirado com a perspicácia de Caroline, levar o tio duque para visitar o marquês e defender a Casa de Minerva foi um golpe de mestre. Ele já sabia que ela era inteligente e embora tivesse seu próprio plano para lidar com os Trentham apreciou a atitude dela.
Precisava tão somente certificar-se de que ela estava segura daquela decisão e de suas implicações.
Após fazer uma refeição completa, com Isabel sentada ao seu lado garantindo que ele comesse o máximo possível – ela o tratava como se fosse um garoto de 10 anos - James finalmente chegou a Townsend House. Seu corpo ansiava por um banho e um cochilo de 12 horas, entretanto, desejava trazer Nicole para casa. De acordo com Isabel, iria encontrá-la na Casa de Chá Haidiman, passeando com Caroline e Georgiana.
Enviou um criado para buscar a bagagem da filha na casa dos Trentham e saiu na carruagem.
Parou em frente à Casa de Chá Haidiman, mas não entrou. Da janela de vidro viu quando Caroline usou o lenço para limpar o rosto de Nicole. Aquele pequeno gesto de cuidado enterneceu o interior de James. De todos os motivos que poderiam fazê-lo recuar em relação àquele casamento, Nicole era o principal deles. Entretanto, sua noiva parecia muito empenhada na tarefa de conquistar a enteada.
Noiva. Era algo para se acostumar...
Decidiu esperá-las do lado de fora.
Não teve que esperar muito.
Georgiana e lady Juliana caminhavam à frente, enquanto Caroline vinha mais atrás com Nicole e a ama.
Tão logo Nicole o avistou correu para ele, num gesto impróprio para as ruas de Londres, mas completamente adequado a uma menina pequena.
- Olá pequenina! Que saudades! – James abraçou a filha, segurando-a facilmente com um só braço.
- Papai! Eu tomei gelado. Minha língua está vermelha! – A menina falou e para comprovar que dizia a verdade mostrou a língua.
As mulheres que a acompanhavam riram da pequena travessura.

Caroline observou James cumprimentar a todas com sua usual cordialidade. Tinha certeza que muitos os que passavam na rua e observavam a cena devem ter estranhado um conde com uma criança no colo fazendo reverência para uma duquesa. Ela sabia que sua tia não se importava com informalidades. Deveria estar achando toda a situação divertida.
O passeio vinha correndo às mil maravilhas. Nicole era definitivamente adorável. E parecia ter gostado de Caroline.
- Vamos para a casa do papai? – James se dirigiu para a menina.
Sua sugestão foi recebida com uma enorme expressão de insatisfação infantil.
- Papai, eu iria passear no zoológico. A srta. Pearson prometeu!
James olhou para ela, que sorriu com um leve dar de ombros. Com um suspiro resignado de um pai que não via a filha há quase dois meses reconheceu a vitória da pequena.
Caroline e James não tiveram nenhuma oportunidade para conversar durante o passeio. Nicole monopolizou a atenção do pai todo o tempo. Ela não se importou. Aproveitou para observar o cavalheiro elegante e reconhecidamente sério, ocupado em fazer uma garotinha sorrir.
Ao final de uma hora James não conseguia mais esconder os sinais de cansaço e deram o passeio por encerrado.
Georgiana convidou o conde para o jantar.
Seria o melhor, Caroline pensou, enquanto retornava para casa. Conversar com James na tranquilidade e privacidade do lar.
Quando Caroline desceu para o jantar logo estranhou que James não houvesse chegado. Pouco tempo depois o mordomo trouxe um bilhete endereçado à Caroline.
Era de James. Ele pedia desculpas por faltar ao jantar, Nicole não sentia bem. Também marcava uma visita para o dia seguinte. Apenas à tarde.
- É assim quando se tem filhos pequenos. – Georgiana comentou, acariciando o braço da filha carinhosamente.
Caroline assentiu, sorrindo.
Ela compreendia. Era apenas aquela espera que a incomodava.
...
Às três horas em ponto o mordomo anunciou a chegada do conde.
Georgiana estava em casa e recebeu James com a habitual intimidade que havia entre eles. Enquanto Caroline permanecia quieta no sofá, tentando manter mãos e pés parados.
- Deixarei os dois conversarem à vontade. – Georgiana falou, despedindo-se. Ela sequer se sentara. – Pedirei a Bates que traga uma bandeja de chá.
Caroline seguiu a mãe com o olhar até a porta, Georgiana se virou e deu um sorriso animador para a filha, fechando a porta atrás de si.
Aparentemente as normas do decoro não se aplicavam às mães alcoviteiras.
James sentou-se na cadeira a sua frente e a olhou, com a franqueza e seriedade de sempre. No dia anterior, estavam acompanhados e muito entretidos. Mas ali, naquela sala de visitas, era impossível não se lembrar da última vez que o tinha visto, na alcova do Anjo Caído. Caroline sentiu o rosto enrubescer.
- Como está Nicole? – Caroline perguntou, tentando ao máximo que sua voz não demonstrasse seu nervosismo.
- Está bem. Ela gostou bastante do passeio. – James respondeu, e com um meio sorriso, acrescentou – Também gostou bastante de você.
Aquela declaração arrancou um sorriso enorme de Caroline, até mesmo aliviou um pouco o nervosismo que sentia.
- Eu também gostei muito dela. – Disse, e porque sentia exatamente aquilo e sabia que era importante que ele soubesse, completou – Ela é absolutamente adorável.
- Ela é sim. – James concordou, sua voz estava repleta de orgulho paterno.
O olhar dele caiu sobre as mãos de Caroline, cujos dedos enrolavam um detalhe de renda da saia do vestido, apenas por um segundo, logo ele voltou a olhá-la nos olhos.
Ele parecia absolutamente calmo. Caroline pensou em como era injusto que ele conseguisse estar tão sereno enquanto ela mal podia ficar sentada.
- Eu enviei um bilhete para a sua casa pedindo que viesse aqui tão logo chegasse de viagem. Não era minha vontade que fosse pego de surpresa. – Caroline esclareceu, com uma timidez que não lhe era habitual.
- Tomei conhecimento do noivado em Cambridgeshire.
Não havia aborrecimento em sua voz.
Não que Caroline receasse aborrecimento por parte dele. James não titubeou quando o dever e a honra exigiram que ele a pedisse em casamento.
- Está certa disso, Caroline? – James indagou.
- Eu perdi as contas de quantas vezes essa pergunta me foi feita. – Respondeu, tentando sorrir.
- Sua atitude surpreendeu a todos. Certamente surpreendeu a mim. – Ele falou, inclinando-se em sua direção – Deveria ter me esperado. Eu teria resolvido. A situação com os Trentham, não era sua responsabilidade.
Ele falava com tanta convicção que ela quase queria acreditar que ele realmente poderia consertar tudo.
- Não. Você não poderia resolver, não sem envolver outras pessoas. – Caroline falou, as palavras jorrando dela tão rápidas quanto sinceras – E você está enganado sobre a minha responsabilidade, a ameaça à Casa de Minerva, as insinuações acerca da sua honra e sua reputação, é tudo culpa minha. Eu pensei que seria a única atingida pelo escândalo, pelos boatos. Pensei que sua reputação ficaria intacta apesar de tudo. Foi um engano. Eu sinto muito por isso. Sinto muito pelo o que aconteceu e por você ter que enfrentar as consequências.
Encararam-se por um momento.
Caroline ficou de pé e caminhou até a mesinha. Aquele seria um bom momento para Bates trazer a bandeja de chá.
James também ficou de pé, caminhou até ela e pegou a mão esquerda dela com a mão direita dele.
- Eu não sinto. – James disse, sua voz era grave e seu olhar trazia uma intensidade que Caroline não sabia já ter visto nele – Não por isso, tenha certeza. Sinto por ter permitido que acreditasse que eu a considero culpada pelo escândalo. Sinto não ter lhe dito antes que compreendia porque não aceitou meu pedido.
Enquanto falava, James segurava sua mão, massageando os nódulos dos dedos em movimentos circulares.
- Teria aceitado o pedido de Birminghan? – James quis saber.
Seus olhos castanhos nunca deixando seu rosto.
A mudança repentina de assunto a chocou. Mas não deveria estar chocada. Se iriam se casar, ele tinha o direito de saber se ela estava apaixonada por outro.
- Não. – ela respondeu com convicção. – Hoje sei que tudo o que eu pensei existir entre nós foi um engano. Deixei-me iludir facilmente... Se Birminghan e eu tivéssemos sido encontrados naquele jardim eu não me casaria com ele.
James assentiu. Ela viu quando algo nele mudou, não sabia ao certo se foi sua postura ou a expressão em seu rosto, e se tal mudança fora causada por sua confissão.
Podia apostar que ele tinha um meio sorriso nos lábios.

Quando saiu de casa para encontrar-se com Caroline pretendia certificar-se que ela tinha certeza de sua decisão e combinar os pormenores do casamento. Entretanto, desde que chegara a casa dela e começaram a conversar sentiu que aquilo não seria o bastante. Não queria combinar as condições de um casamento de conveniência!
Tudo o que soube e teve certeza era que estar ali com Caroline era o certo. Que não lamentava os caminhos que o levaram até aquele momento. Provavelmente, mais tarde, queixar-se-ia por não ter notado antes, não agido de outro modo. Por ter deixado que sua mente controlasse tão fortemente seu corpo e seu coração. Contudo, poderia consertar as coisas agora, ou pelo menos tentar.
E pela primeira vez em sua vida, deixou que seu coração guiasse seus atos.
- Se não estiver certa sobre o casamento Caroline, farei de você minha condessa. Mas teremos um casamento de conveniência, viveremos vidas separadas, como tantos casais da nobreza. Seremos marido e mulher apenas para os outros. Não pretendo me impor a você. Tampouco é de minha vontade que você me aceite porque não tem outra opção. Não posso consertar as consequências do escândalo, entretanto posso te dar isso, se você assim escolher.
Ela fitou-o com os olhos muito abertos, completamente abismada.
- Antes que escolha, eu preciso que saiba que meu pedido de casamento não foi apenas pelo dever, não dividiria o resto da minha vida, ou deixaria minha filha aos cuidados de uma mulher que eu não considerasse admirável, independente de qualquer escândalo...
Aproximou-se mais dela. O máximo que as saias do vestido dela permitiam. Tocou-lhe o queixo com a mão direita e ergueu seu rosto. Viu quando sua face mais uma vez adquiriu aquele tom de rosa que revelava o quanto ele a afetava. Presunçosamente imaginou que veria aquele rubor muitas vezes mais.
- Nem dividiria minha cama com uma mulher que não desejasse.
E então a beijou.

porque vamos combinar amigas leitoras, não tem como terminar uma frase dessas sem um beijo

O lado bom de um escândalo [COMPLETO]Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt